Algarve deve preparar-se para ficar «a funcionar» em caso de sismo

Alerta é do especialistas em estruturas e sismo José Paulo Costa

O que é que precisamos que «esteja a funcionar amanhã», caso o Algarve seja afetado por um sismo de grande magnitude, que cause um caos semelhante ao que o abalo de Marraquexe provocou? Esta é a questão que a sociedade portuguesa deve tentar responder, para minimizar os efeitos de uma eventual catástrofe desta natureza, no nosso país.

O alerta chega de José Paulo Costa, engenheiro civil especialista em reabilitação estrutural.

Com muito trabalho na reabilitação de estruturas feito no Algarve, este especialista acredita que a resposta ao sismo deve começar a ser preparada por todos desde já, seja ao nível da adaptação das infraestruturas, seja através de medidas bem mais simples, como ter «um jerricã de água em casa» – «não é caro, custa apenas 20 euros e pode salvar-lhe a vida».

E mais vidas serão salvas se os poderes públicos apostarem na adaptação de infraestruturas fundamentais para a resposta de emergência, desde logo hospitais, mas também outras, como pontes ou as redes de água e energia, acredita.

«O ideal será fazer um exercício e pensar no que é que precisamos de ter a funcionar amanhã, se houvesse um sismo? E é começar por aí», disse ao Sul Informação José Paulo Costa.

Se isso fosse feito, «talvez a população em geral pensasse “realmente, se calhar vou fazer qualquer coisa na minha casa”».

Este exercício é ainda mais importante num país como Portugal e num região como o Algarve, que têm um histórico de risco sísmico elevado.

«Aqui em Portugal, há dois sismos regulamentares, assim chamados porque são os que os engenheiros devem considerar para calcular as estruturas das casas. O sismo regulamentar mais próximo do Algarve é equivalente ao sismo de 1755 e esse sismo, não se sabe bem, mas deve ter sido mil vezes mais violento que o de Marraquexe», enquadra o mesmo especialista.

O outro sismo regulamentar «é o de Benavente», ocorrido em 1909 (6,7 na escala de Richter), embora este não tenha tido consequência graves na região algarvia.

«O problema aqui no Algarve, em termos de devastação, são mais os sismos que têm o epicentro na cordilheira submarina de Gorringe, a 200 quilómetros a Sul de Sagres. Aí é que arrasa tudo», caso se esteja a falar de um sismo da magnitude do de 1775, que foi seguido por um tsunami, e na sequência do qual «95% das casas que existiam na região desapareceram».

 

 

Hoje, passado mais de 250 anos, um sismo com as mesma caraterísticas, causaria, novamente, uma enorme destruição, uma vez que as casas mais antigas «são semelhantes às que caíram em 1755. Portanto, aqui onde estamos [junto à antiga lota] cairiam todas as casas», alertou.

A exceção seria, precisamente, o edifício da antiga lota, cujas estruturas foram reforçadas face a um eventual sismo, ao abrigo de uma intervenção da empresa Stap, da qual José Paulo Costa é o diretor técnico.

«Este edifício começou por ser a primeira fábrica da luz de Portimão, depois foi a lota. Agora, a Câmara de Portimão decidiu fazer aqui um centro de exposições. Estas paredes estão todas reforçadas com uma rede de carbono e este edifício está preparado para o sismo. Se houver um sismo, não colapsa», contou.

Neste caso, a preparação do edifício para aguentar um sismo, «foi cerca de 15% do valor global da obra» de reabilitação, que foi mais extensa, mas, se o objetivo for apenas «o reforço ao sismo, aí poderá não ser tão viável».

Quem tiver casas construídas após 1983, poderá ficar mais descansado, pelo menos em teoria, pois, «em termos regulamentares, os edifícios construídos com o regulamento a partir dessa data têm obrigação de não matar ninguém num sismo».

E quanto mais moderno o prédio, melhor, uma vez que «a legislação, hoje em dia, é 25% mais agressiva do que essa de 1983».

Isto, claro, se o empreiteiro tiver seguido as regras.

José Paulo Cosa não acredita, por exemplo, que os dois principais hospitais públicos da região, o de Faro e o de Portimão, colapsassem em caso de um sismo regulamentar. No entanto, duvida «que tenham condições para funcionar, no dia a seguir a um sismo», porque, provavelmente, «deixariam de ter água e luz», para não falar de alguns danos que pudessem sofrer.

Mas há pelo menos um hospital em Portugal, o da Luz, uma unidade particular, que, se houver um grande sismo, está preparado para se manter em funcionamento e onde «até podem continuar as cirurgias».

«A Turquia e Marrocos nisso são mais evoluídos que Portugal, é obrigatório quando fazem hospitais novos ter isolamento de base. (…) No Japão, desde 1995, após o Sismo de Kobe, as pontes e os edifícios públicos foram todos reforçados», acrescentou.

«Aqui, por exemplo, se houver um sismo, todas Câmaras que eu conheço, os edifícios colapsam, e não serão os únicos. Isso é que valia a pena, perguntar “o que é nós precisamos depois de um sismo?”», rematou José Paulo Costa.

 

 

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