Uma casa que quer dar futuro à Serra do Caldeirão abriu portas em Parises

Núcleo Interpretativo da Serra do Caldeirão abriu as portas no mesmo dia em que o Centro de Convívio de Parises completou 10 anos

Maria do Rosário e Alberto Fernandes – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Maria do Rosário Martins, com os seus 81 anos, já não vai aos «bailes todos» da Serra do Caldeirão, como «ia sempre» na sua juventude, mas procura não falhar uma sessão de ginástica no Centro de Convívio de Parises, no interior do concelho de São Brás de Alportel. Alberto Custódio Fernandes, o seu marido de 83 anos, também já não está para danças, mas não é por isso que deixa de sorrir, bem disposto, e de recordar como as coisas eram, há mais de meio século.

Em Parises, habitam, por estes dias, muitas mais pessoas na faixa etária deste canal octogenário do que crianças e jovens.

Ainda assim, há um novo “ouro” na serra, a juntar ao da cortiça, tão abundante por ali, que vai garantindo que há caras novas e alguma animação: o turismo trazido pela Via Algarviana.

Foi a pensar nestes visitantes que ajudam a manter vivos os negócios que ainda estão de portas abertas na aldeia, mas também a pensar nos habitantes locais, que nasceu a Casa da Serra.

Este Núcleo Interpretativo da Serra do Caldeirão está instalado numa antiga venda, ou «tasca» como lhe chama Alberto Fernandes, que conta que, há muitas décadas, «ia lá sempre, durante muito tempo».

«A senhora fazia lá café, ou cevada, que na altura havia pouco café por aí. Jogávamos às cartas, às malhas e às coisas que se faziam aqui, na altura», recorda este habitante de Parises, numa conversa com o Sul Informação.

«A senhora morreu já velhinha e a casa ficou para os herdeiros, que a venderam à Câmara. Agora, vai ser mais uma casa aberta em Parises», disse, por seu lado, Maria do Rosário Martins, referindo-se à ti Joaquina d’Horta, a dona do negócio que encerrou há mais de 50 anos.

 

Interior da Casa da Serra - Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Estes foram dois dos muitos habitantes locais que se juntaram à dupla festa que teve lugar nesta aldeia serrana são-brasense, no Dia de Reis. A 6 de Janeiro, além da inauguração da novíssima Casa da Serra, também se celebraram os dez anos do Centro de Convívio de Parises.

Mas vamos por partes, começando pelo investimento de 70 mil euros que quer trazer mais gente a uma localidade que tem cada vez menos habitantes, ao mesmo tempo que divulga as riquezas e tradições da Serra do Caldeirão.

«Para nós, é extremamente importante valorizar as nossas tradições, mantendo vivas as memórias destas populações mais do interior. Tivemos aqui o envolvimento da comunidade, o que para nós é muito importante», disse ao Sul Informação Vítor Guerreiro, presidente da Câmara de São Brás.

A autarquia foi ter com os habitantes da serra, para que estes contassem «as suas histórias e as suas memórias» e as pessoas «envolveram-se e ajudaram a construir este núcleo».

Daqui resultou um espaço que pretende representar «a casa típica da serra e os seus mais representativos contextos, em 14 diferentes cenários, entre os quais se encontram a cortiça, o mundo do mel, a escola, a fonte e a ribeira, a lida da casa ou o hortejo».

A mesa posta, a lareira, uma representação dos bailes e vários elementos etnográficos completam a Casa da Serra.

 

Vítor Guerreiro – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

«Aproveitámos esta oportunidade para registar as vivências passadas, as nossas tradições e os hábitos das comunidades, para dar a conhecer às gerações mais jovens e a quem nos visita o que era a vida no campo e nas aldeias», reforçou.

Este é, na visão de Vítor Guerreiro, um trabalho fundamental, uma vez que Parises, à semelhança de outras aldeias da serra algarvia, está a ter «um envelhecimento significativo da população».

A esperança do município, ao abrir este núcleo interpretativo, é trazer mais gente ao interior e, com isso, criar mais economia.

«Este vai ser, sem dúvida, um ponto de atratividade turística, porque existe um interesse crescente pelo património e pela história destas aldeias serranas, para além de termos aqui uma paisagem natural extraordinária», disse o edil são-brasense.

«Estamos a 20 minutos do centro urbano de São Brás de Alportel. Esta é uma forma de podermos, também, divulgar e trazer mais pessoas ao interior do concelho», acrescentou.

E Vítor Guerreiro não se refere apenas de pessoas de fora, uma vez que o objetivo é «trazer cá os residentes em São Brás de Alportel e noutros concelhos do Algarve. Acreditamos que temos aqui um ponto de interesse para todas as escolas da região».

Já os turistas vêm «à procura de experiências». A  Casa da Serra pretende ser mais uma e «mostrar tudo o que diz respeito à nossa história e aos nossos antepassados» a quem visita o concelho.

«São, sem dúvida, sementes que lançamos para o futuro, com projetos destes», rematou.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Num passado recente e após o grande incêndio de 2012, que varreu o interior do concelho de São Brás de Alportel, foi lançada outra semente, que continua a dar frutos e completou 10 anos no dia 6: o Centro de Convívio de Parises.

Na última década, principalmente enquanto decorreu o Projeto Lara, um plano de dinamização das aldeias afetadas pelo incêndio de 2012, uma das “clientes” habituais deste centro foi a D.Maria do Rosário.

«Eu venho à ginástica praticamente todas as segundas-feiras. Sou uma das pessoas que acompanhou isto desde o início. Durante o projeto Lara, fizemos muitos passeios. Tenho a agradecer às nossas amigas» que dinamizam as atividades, contou.

«Também fizemos uma peça de teatro com o sr. César Matoso e fomos apresentá-la a São Brás, ao Cineteatro. Ainda há pouco me disse que eu era a única pessoa amiga que estava cá hoje. Havia muitas pessoas que não eram daqui, outras já faleceram e e outras que estão fora», disse ainda, referindo-se ao encontro com o artista algarvio, que também subiu a serra para celebrar os 10 anos do Centro de Convívio de Parises.

Maria do Rosário, Alberto Fernandes e outros habitantes de Parises vão continuar a participar nas atividades do centro e, se tudo correr bem, começar a ver mais caras novas na aldeia, graças à Casa da Serra.

 

 

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