UE ajuda ISMAT/Portimão a trazer para o Algarve design sustentável e participado

O professor e investigador Américo Mateus está ligado a vários projetos e grupos de trabalho da União Europeia

Foto: Nuno Costa | Sul Informação

Nature Based Solutions, biodesign, biomimetismo, Fab Labs e participação dos cidadãos. Américo Mateus, investigador e professor do Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes (ISMAT), de Portimão, lida diariamente com estes conceitos e quer que cheguem a todos os algarvios, através de projetos que têm a chancela da União Europeia.

O docente do curso de Design de Comunicação e mestrado de Design para a Economia Circular do ISMAT e diretor do centro de investigação Transdisciplinar para o Empreendedorismo & Inovação Ecossistémica da Universidade Lusófona, viu aprovados três projetos europeus ligados à sua atividade académica.

Américo Mateus também foi convidado a integrar uma task force para a cocriação de Nature Based Solutions (Soluções Baseadas na Natureza), muito focada nos processos de participação cidadã, além de ter sido nomeado o primeiro diretor do Nature Based Solution Hub Portugal.

Em dois dos casos, o do projeto Biomaterial Kits e o da rede europeia de Soluções Baseadas na Natureza, Portimão, mas também o resto do Algarve, vão estar no centro das atenções.

O Biomaterials Kits será implementado em escolas portimonenses e pretende «começar a introduzir, desde muito cedo, estas coisas do biodesign, dos biomateriais, nas práticas e modelos pedagógicos e nos desafios de projeto dos alunos», segundo Américo Mateus.

O financiamento para este projeto chega através do programa Twinning Towns, que junta, obrigatoriamente, uma cidade europeia e uma cidade turca.

«Nós escolhemos Portimão, porque estamos lá inseridos,  e estamos a colaborar com municipalidade de Izmir Bayrakli, da Turquia. A Câmara de Portimão vai escolher um dos agrupamentos escolares do concelho para implementar um projeto piloto, com a ambição que este seja disseminado, mais tarde, pelos outros agrupamentos», explica o investigador.

«Neste projeto vão ser cocriados cenários de aprendizagem, durante um workshop participativo, para perceber como é que os professores e os alunos podem introduzir este tipo de desafios nos seus conteúdos e nas suas práticas», acrescenta.

Outra vertente do projeto é a criação de um mobile lab, ou laboratório portátil, baseado em materiais sustentáveis, «que vai ser colocado em cada escola e terá as tecnologias base para construção de biomateriais, como fornos e equipamentos de secagem».

«Resumindo: vai ter a plantação, uma bancada de transformação e alguns aparelhos que não consumam grandes recursos energéticos, para fazer a transformação», diz Américo Mateus.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Este projeto vai aproveitar um trabalho que o ISMAT já tem vindo a fazer, que assenta na salicórnia e em cogumelos produzidos por empresas locais.

«A salicórnia desidratada e os micélios dos cogumelos, usando uma técnica especial, tornam-se a matéria-prima base, como se fosse cerâmica», explica.

Com o Biomaterials Kit, a ideia é criar «manuais de experiências que se levam para casa, de modo a que os miúdos façam essa transformação nas escolas e a levem para as famílias».

«Mas também implica em pegar nos resíduos alimentares, que se produzem em casas, como cascas de laranja e outras coisas, e fazer estes pequenos objetos de casa, como vasos ou recipientes, que não criam resíduo. Estamos à procura do não resíduo», conclui.

Também em Portimão, mas envolvendo, eventualmente, outros municípios do Algarve, vai decorrer o lançamento oficial do Nature Solution Hub Portugal, um dos polos de uma rede, que serve para que «as pessoas que tenham estado envolvidas em projetos europeus possam chamar a sociedade civil, para disseminar informação sobre o que são as Nature Based Solutions e qual a sua importância do seu território».

«Em Setembro, em Bruxelas, foram lançados os primeiros hubs, o português, o da Hungria e o Nórdico.
O nosso lançamento em Portugal será em Janeiro e temos financiamento da União Europeia para trazer cá 10 peritos europeus, durante dois ou três dias, para falar de Nature Based Solutions», avança.

Este tipo de soluções «tratam de questões de regeneração urbana, de zonas rurais e do litoral. Dou apenas estes três exemplos, porque são as mais importantes para a região, mas há sete, ao todo».

«A ideia é lançarmos um desafio em cada uma destas áreas ao município de Portimão e, eventualmente, a outros do Algarve. Estes dez especialistas internacionais vão ajudar os cidadãos e os stakeholders que serão convidados, entre os quais a comunicação social e associações sem fins lucrativos», ilustra.

Ao longo de três dias, os especialistas vão apontar «caminhos de solução, para deixar um roadmap no município a quem for lançado o desafio, tendo em vista a realização de uma candidatura».

«A Câmara Municipal vai ficar com um manual feito com a colaboração de dez especialistas internacionais e dos especialistas nacionais que fazem parte do hub português, onde estará estipulado o que a câmara deverá fazer para atingir o objetivo a que se propõe. Desta forma, o evento de lançamento será uma forma prática de demonstrar o que faz o hub», refere o investigador.

 

Foto: Nuno Costa | Sul Informação

 

Entretanto, Américo Mateus e uma equipa que inclui vários investigadores do ISMAT de Portimão, já estão a participar desde 2018  num projeto europeu de Nature Based Solutions chamado Urbinart, que decorreu em sete cidades da Europa.

«A nossa colaboração foi na área do design participativo e passou por envolver os cidadãos, ouvi-los e criar soluções com eles», revela.

«E essa aprendizagem de trabalhar com os cidadãos foi tão intensa que, naquilo que é a nossa atividade profissional, quer de docentes, quer de designers, começámos a perceber que hoje em dia, nada pode acontecer sem ter subjacente um pensamento para com a natureza, seja na sua regeneração, seja na sua preservação. A nossa relação relação com a natureza tem de ser bidirecional, não se trata apenas de forma como nós olhamos a natureza, mas também como ela nos olha».

Neste projeto, a função do ISMAT foi «desenvolver ferramentas, workshops e dinâmicas grupais com os cidadãos, para chegar aquilo que é a necessidade que o projeto tinha de envolver as pessoas».

«Desenhámos todo o processo de participação dos cidadãos e acompanhámos toda a sua implementação junto das sete cidades do projeto, mais os observadores do Irão, do Japão e do Brasil», resume o investigador e professor.

«O projeto dura até 2023. A 1ª parte do trabalho, junto das pessoas, já foi concluída: Ouvimos os cidadãos. Neste momento, está a ser implementado um corredor saudável nas três cidades front runners – Porto, Sófia e Nantes –, com base naquilo que ouvimos das pessoas, das suas ideias e a sua capacidade de perceber, de entre as Nature Based Solutions que já existiam, aquela que eles queriam adaptar à sua cidade».

Tendo em conta que «esta parte da cocriação e da participação dos cidadãos correu bem», Américo Mateus e a também professora e investigadora do ISMAT Susana Leonor, através da empresa GUDA, foram convidados a integrar uma task force da União Europeia, «que está a juntar todas as boas práticas daqueles que estiveram envolvidos no processo de auscultação das pessoas, para tentar fazer um manual interativo, que será colocado numa plataforma aberta, para que qualquer pessoa que queira fazer processos de cocriação e de design participativo, pode retirar aprendizagens daí».

«Quisemos fazer mais do que um livro de boas práticas. O que criámos foi uma árvore de decisão, ao longo de todo o processo de participação, que é bastante complexo. Ou seja, não dizemos “faz isto”. Estamos a fornecer-lhes todas perguntas, às quais devem responder de forma sequencial e interativa, para saber se seguem este ou aquele caminho», explica.

Por fim, o ISMAT também viu recentemente aprovada uma candidatura na área do biodesign, a do projeto Cocoon, que é coordenado pelo ISMAT/Universidade Lusófona

«Este é um consórcio que tem parceiros muito fortes, nomeadamente a AALTO University, que é uma referência do Design na Europa, o IAAC, que é uma universidade de Barcelona na área das tecnologias e biotecnologias, e o Biopólis do Porto, entre outros», salienta Américo Mateus.

«Neste projeto, olhamos para aquilo que nos últimos anos tem sido o investimento em Fablabs, tendo em conta que o que não falta são estruturas desta natureza com tecnologias de prototipagem, 3D printing, impressão aditiva, e perceber como é que pegamos neste fenómeno, que é necessário e fundamental para o ecossistema de qualquer país, e o tornamos bio», disse.

Ou seja, «como é que se pode arranjar novos materiais que possam alimentar estas e outras tecnologias, para que toda a atividade destes Fablabs passe a ser verde».

«A ideia é pensar nisto tudo e perceber como é que, desde a plantação, à transformação em biomateriais e à própria adaptação das máquinas, como é que nós conseguimos que este circuito passe a ser verde e a partir desse ensinamento, perceber como é que transformamos isso em ensinamento para escolas, para práticas profissionais de treino», remata.

Américo Mateus também tem sido convidado a participar e a falar em eventos internacionais sobre design e sustentabilidade.

 



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