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Somos seres com memórias. É na saudade do que já passou ou do que podia ter sido que reside muita da nossa melancolia, do nosso fado.

Não há existência humana sem perdas. É impossível viver sem que essa constatação nos assole. Daí advém a natural melancolia que caracteriza a espécie humana, essa tristeza que nos habita.

Como afirma Joke J. Hermsen, no seu livro Melancolia em tempos de perturbação, «a melancolia é um estado de espírito que nos une através de fronteiras físicas e temporais. É difícil encontrar um período histórico ou uma cultura sem vestígios de sentimentos melancólicos».

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Estar melancólico ou ser melancólico não é necessariamente mau ou negativo. É como o tédio. Ambos são necessários para uma existência saudável. Precisamos de parar. De nada fazer para apreciar o movimento; só acarinhamos a luz se nos depararmos com a escuridão; só percebemos a importância da liberdade se formos obrigados a tapar o rosto, a cobrir o cabelo.

São os contrastes, em equilíbrio, que dão cor à nossa existência.

O devir do tempo. Perda da infância. Ausência de quem já não caminha ao nosso lado, saudade dos familiares, amigos que agora vivem apenas no nosso coração. A recordação do que já fomos. A incerteza de um futuro que é apenas sonho. Tudo isto nos torna naturalmente melancólicos.

A melancolia é o sol meio encoberto de nuvens, raios de luz tímidos a surgir ao som de pássaros a chilrear; é ficar em casa num dia de chuva com o gato aninhado ao colo. É o cisne solitário que desliza elegante no lago. É estar parado no trânsito e observar o desconhecido do carro ao lado a cantar a mesma canção.

A melancolia é também força criadora. Pode ser a energia visceral de quem escreve. Haverá mais profundidade criativa na tristeza ou na alegria? Que o digam os poetas. A melancolia quando corre livre, selvagem, sem amarras é caminho puro da imaginação.

O problema reside no desequilíbrio. Nesse caso, saltamos da melancolia saudável para a patológica, aquela que nos faz fechar as janelas e as portas ao mundo. A tristeza sem fim que escurece a alma, a depressão. A linha pode ser demasiado fina e não suportar os esticões da vida.

Neste mês em que se assinala o Dia Mundial da Saúde Mental importa abordar estes temas, trazê-los à consciência.

Somos tristes, melancólicos, porque perdemos demasiado numa só vida, mas precisamos de continuar a encontrar beleza na tristeza. E na poesia.

 

Cai a Chuva Abandonada

Cai a chuva abandonada
à minha melancolia,
a melancolia do nada
que é tudo o que em nós se cria.

Memória estranha de outrora
não a sei e está presente.
Em mim por si se demora
e nada em mim a consente

do que me fala à razão.
Mas a razão é limite
do que tem ocasião

de negar o que me fite
de onde é a minha mansão
que é mansão no sem-limite.
Ao longe e ao alto é que estou
e só daí é que sou.

Vergílio Ferreira, in ‘Conta-Corrente 1’

 

 

 

Sul Informação

 



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