A lenda das seis amendoeiras

Segundo apurei, o motivo da certidão de óbito que esteve na base desta razia foi que “as árvores estavam secas e doentes”

Já toda a gente, nomeadamente no Algarve, conhece a lenda das amendoeiras em flor. É uma lenda que acaba bem. Vou-lhes contar a lenda das seis amendoeiras. Aconselho as almas mais sensíveis a não lerem mais, porque esta lenda acaba mal.

Era uma vez um jardim que existe na minha terra. Não é propriamente um jardim, porque não tem palmeiras, nem relva, nem rede de rega. Tem espécies cá da terra, como seja a amendoeira, a oliveira, a figueira, o medronheiro e mais umas coisas verdes que não sei o que são porque eu não percebo lá muito de árvores e de arbustos. Só gosto delas, independentemente de deixarem cair folhas e de servirem de abrigo aos pássaros que sujam os carros.

Pois esta espécie de jardim, situado nas costas da Câmara, junto ao campo de futebol e da empresa municipal, tinha um alinhamento de seis amendoeiras, com cerca de 20 anos, mas não sei se, com esta idade, as podemos considerar novas ou velhas.

Além dos benefícios normais que estas (e todas) as árvores dão, em termos ambientais e estéticos, eram muito procuradas pelos automobilistas para meterem os seus carrinhos à sombra, o que, com este calor que por aí anda, era um fator de preferência na hora de estacionar.

Muito recentemente, os profissionais destas coisas das árvores vedaram o estacionamento junto às seis e começaram a tratá-las à motosserra. Pensei que lhes iriam dar aquele tratamento radical que é cortar tudo e deixar só o tronco, à espera que as árvores não sobrevivam. Esta é uma técnica muito usada aqui em baixo e, quando isto acontece, lá vem uma série de gente gritar que não é assim que se faz as podas, mas, como disse, não percebo muito de árvores.

Dias depois, passei outra vez pelo local – e as seis amendoeiras tinham desaparecido!!! Tinham sido cortadas, sem apelo nem agravo, rentinho ao chão.

Lembrei-me logo de um cartaz feito pelos miúdos do jardim de infância que fica perto deste jardim e que dizia: “Querem chuva? Plantem árvores!”. Coitados dos miúdos, ainda estão naquela fase da inocência…

Segundo apurei, o motivo da certidão de óbito que esteve na base desta razia foi que “as árvores estavam secas e doentes”.

Sendo amendoeiras, habituadas ao nosso rude clima de Verão, poderiam estar secas, mas uma aguinha lá mais para o Inverno era capaz de resolver a situação. Se, por outro lado, estavam doentes, será que não poderiam ser tratadas?

Repito que não percebo nada de árvores e parece-me que uma delas estava, de facto, seca. Mas a eutanásia arvense impõe-se e as outras cinco foram por arrasto: mata-se o doente, acaba-se a peçonha (ou seja, o trabalho de tratar delas).

E assim acaba a lenda das seis amendoeiras, de triste fim, mas ainda há mais uma vintena de amendoeiras nesse jardim. Elas que se cuidem, se não fugirem ainda são declaradas doentes.

Como chamei a isto uma lenda, aqui vai a sua definição, de acordo com os livros: “As lendas geralmente fornecem explicações plausíveis, e até certo ponto aceitáveis, para coisas que não têm explicações científicas comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais”.

Aqui estão documentados os restos mortais das seis amendoeiras, bem como uma foto do “antes”:

 

 

 

 



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