A «freguesia mais latina» de Loulé já tem dois bustos de Simón Bolívar e José de San Martín

Pedro Félix é o autor das peças

«A freguesia mais latina» do concelho de Loulé – Almancil – já tem dois bustos de Simón Bolívar e José de San Martín, duas das principais caras da luta pela independência da América do Sul. A inauguração aconteceu esta terça-feira, 2 de Agosto, no Jardim das Comunidades, em Almancil. 

O momento contou com a presença de centenas de pessoas da comunidade latina do concelho de Loulé, numa festa onde não faltou a música, a dança e até o hino da Venezuela cantado pelos presentes.

Simón Bolívar e José de San Martín, os dois grandes heróis da libertação latino-americana, reuniram-se, a 26 de Junho de 1822 ,em Guayaquil, no Equador, para discutir os rumos dos projetos de emancipação da América do Sul, naquela que ficou conhecida como a Conferência de Guayaquil.

Passado 200 anos, a 2 de Agosto deste ano, na vila de Almancil, este «reencontro» fez-se na inauguração dos bustos.

«Foram dois heróis, companheiros de luta, duas pessoas que lutaram pela libertação e independência de muitos países da América Latina. Sonharam e materializaram um valor que deve ser cultivado e honrado: a liberdade», sublinhou o autarca Vítor Aleixo.

Pedro Félix, autor das obras de arte, aceitou o desafio de recriar a imagem dos dois libertadores.

O busto de San Martín foi concebido a partir de uma outra escultura oferecida pela Embaixada da Argentina à Autarquia de Loulé, mas também, através de uma pesquisa, recorrendo a imagens (pinturas e gravuras) e à única fotografia original conhecida do general.

No caso de Bolívar, «foi mais fácil pois há várias referências, inclusive uma imagem muito difundida na Venezuela e que mostra aquilo que seria o verdadeiro rosto de Bolívar», referiu o artista.

Ambas as esculturas foram feitas de barro, passando depois para gesso e, por último, para uma fundição para uma finalização em bronze, um trabalho que «levou cerca de um ano a executar».

 

 

Mas se esta iniciativa teve em vista trazer à memória dois heróis que ficam na história da luta pelo direito à autodeterminação dos povos, são também duas figuras com as quais a população latina se identifica.

E nesse sentido, como sublinhou o autarca de Loulé, este é também «um tributo aos portugueses que, um dia, em busca da felicidade, da realização pessoal que a pátria tornou difícil, procuraram ser felizes noutro lugar, nomeadamente nestes dois países».

Se a emigração louletana para a Argentina é bem mais antiga, remontando ao século XIX e primeiras décadas do século XX, o fluxo migratório que partiu do concelho para a Venezuela foi mais tardio, daí que seja mais pujante e numerosa a comunidade deste país que reside sobretudo em Almancil.

Um desses emigrantes é João Barros, o conhecido “Barrinhos”, proprietário de um café nas Escanxinas, onde não faltam as arepas, empanadas ou cachapas, mas que é também um ponto de encontram para os luso-venezuelanos deste concelho e espaço onde se mantêm vivas as tradições dos dois países.

Foi dele a ideia de levar para Almancil a imagem do herói venezuelano.

«O meu sonho concretizou-se, graças também à Câmara Municipal de Loulé. Foi com muito sacrifício, mas lográmos e estou muito contente», disse em lágrimas e com as cores amarela, vermelha e azul da bandeira na mão.

Lucas Rincón, embaixador em Portugal da República Bolivariana da Venezuela, marcou presença nesta iniciativa.

«Fervoroso crente e construtor da grande pátria, estadista, político e estratega militar, negociador e diplomata que marcou o caminho da independência e integração da região para enfrentar o imperialismo e conquistar a paz das nações e o direito dos povos à soberania. Foi um precursor ao gerar relações entre as nações baseadas no respeito mútuo, igualdade, justiça e liberdade para os oprimidos», disse este diplomata.

Já José Carlos Madeira, representante da comunidade argentina e responsável da Associação Portuguesa de Comodoro Rivadavia, agradeceu ao Município e falou da obra e vida de José de San Martin e do bicentenário do “encontro de heróis”, em Guayaquil.

O Jardim das Comunidades fica assim «mais rico».

«Hoje esta é uma terra acolhedora que dá essa possibilidade a muitos emigrantes e os primeiros são naturalmente os nossos compatriotas que regressam aqui. Este continuará a ser sempre o seu torrão natal», considerou, por seu turno, o presidente da Câmara de Loulé.

A noite acabou com a música e dança trazido pelo Rancho Alma Algarvia da Associação Portuguesa de Comodoro Rivadavia e pelo Grupo de Danzas Venezolanas Araguaney.

 



 

Quem foram os libertadores?

Originário de uma família aristocrática galega, Simón Bolívar nasceu em Caracas, em 1783. Militar e líder político venezuelano, foi o primeiro ilustrado a apoiar na prática a descolonização. Jurou defender a independência da América do Sul quando esteve em Itália e dedicou sua vida à luta contra os espanhóis.

É considerado pelos países da América Latina como um herói, visionário, revolucionário e libertador. Durante seu curto tempo de vida, liderou a Bolívia, a Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela à independência, e ajudou a lançar bases ideológicas democráticas na maioria da América Hispânica. Após triunfar sobre a Monarquia Espanhola, Bolívar participou na fundação da primeira união de nações independentes na América Latina, nomeada Grã-Colômbia, da qual foi Presidente de 1819 a 1830.

José de San Martín nasceu em Yapeyú, em 1778. Este general argentino foi o primeiro líder da parte sul da América do Sul que obteve sucesso no seu esforço para a independência de Espanha. Participou ativamente nos processos de independência da Argentina, do Chile e do Peru.

San Martín é apresentado como um percussor de um nacionalismo hispanista, visando a democracia representativa entre os povos de língua espanhola, o que incluiria a Espanha, que buscava formas de conciliação e negociação em vez de conflitos e guerras.

Ambos lutaram pela independência política da América, mas defenderam projetos políticos diferentes. Bolívar desejava a criação de uma América Hispânica unida, sob regime republicano, enquanto San Martín propunha a formação de novas monarquias, espelhando o modelo político inglês.

 

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