Silves bate à porta dos “seus” idosos para lhes levar alegria

Maria Santos, de 88 anos, passou uma tarde diferente na companhia das técnicas da Câmara Municipal de Silves

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Eram perto das 15h00 quando batemos à porta de Maria Santos, de 88 anos, que já esperava ansiosamente pela visita de Ivone Lampreia, Educadora Social na Câmara Municipal de Silves, e de Isabel Martins, assistente técnica.

A conversa começou logo à porta da casa, em Armação de Pêra, com a D. Maria a recordar a altura em que ainda ia para «os polos [de educação]», lugar onde vários idosos de Silves se reúnem para desenvolver atividades, ou simplesmente passar o dia.

Foi a falar que nos dirigimos até à sala, onde a conversa se desenrolou por mais uma hora.

Ivone e Isabel começaram por explicar o projeto “Vem bater à minha porta” a Maria Santos, que não poupou elogios à iniciativa, por ter sentido na pele como a pandemia afetou a vida dos idosos que, por medo da infeção, deixaram de socializar.

«Ainda agora eu pouco saio. Vou à igreja, mas é quando não está lá quase ninguém, porque o senhor prior vem aqui dar-me a comunhão. Vejo a missa na televisão e, quando me apetece, vou ver o mar, que é mesmo aqui ao lado», disse.

A rotina da Dona Maria, que gosta de dormir, começa às 9h00. Levanta-se, prepara o pequeno-almoço e, após a refeição, trata da comida para o resto do dia.

«Felizmente, ainda consigo fazer a comidinha. Tenho uma rapariga que vem cá e me ajuda nas outras tarefas: faz-me a cama, ajuda na limpeza e traz-me as compras do supermercado, mas a comida sou eu que a faço, à minha maneira», contou, com um sorriso.

À tarde, senta-se no sofá para ver televisão ou falar com as flores – que disse ser o segredo para as manter «vivas e bonitas».

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

O “Vem bater à minha porta” costuma, como explicou Ivone Lampreia, preparar alguns jogos para fazer com os idosos menos «ativos e faladores, mas com D. Maria não foi preciso recorrer a estes jogos devido à lucidez e vontade de colaborar.

Depois de explicar o dia a dia, houve ainda tempo para recordar memórias e apresentar a família, através das fotografias espalhadas pela casa.

Assim se passou mais de uma hora de visita, que fez com que Maria Santos saísse da rotina e pudesse conviver – o grande objetivo do “Vem bater à minha porta”.

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«Nós pensámos neste projeto com o objetivo de chegar aos que não vêm até nós. Muitas vezes, se houver possibilidade, até fazemos o encaminhamento para outros projetos, como os polos da educação, se os idosos tiverem condições para tal», explicou Ivone Lampreia ao Sul Informação, frisando que o “Vem bater à minha porta” foi mesmo criado com o objetivo de permitir que sejam os técnicos a dirigir-se à casa dos idosos.

«Este é um projeto “pós-pandemia” que tem sido muito bem acolhido. Há pessoas que não vão à rua há meses, vai alguém levar-lhes as coisas: umas porque têm dificuldades de locomoção, outras porque não querem mesmo sair», continuou Isabel Martins.

Apesar de notarem maior liberdade, Ivone e Isabel frisaram que muitos idosos ainda têm receio da pandemia e de regressar à vida ativa e social.

«Até para nós tem sido difícil reatar, quanto mais para estas pessoas a quem o medo lhes foi tão incutido. E não estamos só a falar de pessoas que estão isoladas e fora da cidade. São também pessoas que, muitas vezes, vivem no centro das cidades e que estão sozinhas, sem sair de casa», acrescentou Ivone Lampreia.

Segundo a Educadora Social, desde Janeiro, o projeto já acompanhou uma dezena de idosos, mas a ideia é «fazer visitas mais frequentes», concluiu.

 

Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação

 

 



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