Prepare-se para a subida da Euribor

Caso a Euribor a 12 meses volte para territórios pré-crise do subprime, o impacto sobre o orçamento familiar é deveras significativo.

Todos nos lembramos dos momentos difíceis que o país e o mundo atravessaram quando espoletou a crise do “Subprime”, que precipitou a falência do banco Lehman Brothers, a qual causou um efeito dominó sobre o mundo inteiro, atirando para as ruas da amargura as economias internacionais, em jeito de ricochete da globalização das economias.

A palavra “Euribor” surge da contração de “Euro Interbank Offered Rate”, sendo a taxa de juro praticada entre empréstimos interbancários que, de uma forma simplificada, é o “preço” do dinheiro para o banco. Existem 5 taxas de referência: 1 semana, 1 mês, 3 meses, 6 meses e 12 meses.

No presente artigo, vamos debruçar-nos sobre a Euribor a 12 meses, visto ser muito comum no âmbito dos créditos (hipotecários) à habitação.

A taxa que o banco cobra é tipicamente composta pelo “spread” (a taxa fixa do banco) mais a Euribor (componente que é variável). É por este motivo que as prestações sofrem ajustamentos consoante as flutuações da taxa Euribor, chamada de indexante.

Olhando para os dados históricos providenciados pelo Banco Central Europeu (gráfico abaixo), e analisando os dados que servem de base ao gráfico, entre Janeiro de 1994 e Dezembro de 2008, a média da Euribor a 12 meses é de 3,48%.

Se retirarmos o período de instabilidade de 2007 a 2008, temos que esta média se centra (dados até Dezembro de 2006) nos 3,90%.

Vejamos o efeito da variação da taxa com um efeito prático, considerando um empréstimo de 200.000 euros a 35 anos, com um spread de 1,5% indexado à Euribor 12 meses.

No dia 31 de Março de 2022, esta taxa estava em território negativo (equivalendo a 0 %), o que significa que o valor da prestação mensal seria de 612,37 euros. A 30 de Junho passado a Euribor a 12 meses chegou aos 0,852%, levando ao um aumento na prestação de 86,88 euros.

Espera-se que este indexante possa continuar a subir. Analisando o mesmo exemplo, mas considerando a taxa média histórica apurada entre Janeiro de 1994 e Dezembro de 2006 (os tais 3,9% mencionados acima), temos que a prestação teria um aumento de 448,59 euros face ao valor a 31 de Março, subindo para 1060,96 euros.

Deste modo, podemos observar que, caso a Euribor a 12 meses volte para territórios pré-crise do subprime, o impacto sobre o orçamento familiar é deveras significativo.

Neste sentido, é importante que as famílias se preparem, fazendo uso de alguns mecanismos que têm ao seu dispor, como é a figura da renegociação do crédito (o cliente pode solicitar a renegociação), por forma a obterem condições mais vantajosas e amortecer os efeitos de uma situação tal como a que acabamos de ver.

Chama-se a atenção para a opção de fixar a taxa no crédito à habitação, algo que ainda não é muito popular em Portugal, mas que permite uma gestão mais suave do orçamento familiar, independentemente das condições particulares do mercado interbancário, que se forma momento a momento.

 

Autor: Luis da Ponte é membro efetivo da Ordem dos Economistas.
É licenciado em Gestão de Empresas e Pós-Graduado em Finanças Empresariais pela Universidade do Algarve e licenciado em Administração Pública pela Universidade do Minho.
Profissionalmente, é proprietário das empresas “VDP – Consultoria | Seguros”e “TSE Industrial”.

Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economistas

 

 



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