Comunicação versus Propaganda nas Organizações

Distinguir Comunicação e Propaganda parece ser um imperativo de atualidade

Distinguir os dois conceitos presentes no título parece ser um imperativo de atualidade. São cinco os princípios da comunicação que enquadram esta dimensão numa estratégia organizacional consequente.

1. O primado do secretismo não é aceite em culturas organizacionais que privilegiam o comprometimento em geral ou, mais especificamente, a participação nos resultados dos trabalhadores.

Estas formas avançadas de participação, quer se traduzam em sistemas de cooperativa de empresa (países nórdicos), ou de ações geridas pelos sindicatos (países germânicos), ou, enfim, em sistemas de remuneração assentes sobre o compromisso do “mútuo ganho” (cultura japonesa), todas elas determinam estratégias de co-gestão assentes na transparência.

Os interesses económicos das partes envolvidas numa organização, embora contraditórios, necessitam de ser objeto de uma elevada confiança, desmentindo-se o adágio, citado habitualmente a este propósito, segundo o qual “o segredo é a alma do negócio”.

O ato de esconder os interesses económicos, no âmbito de uma narrativa comunicacional, quando o princípio da comunicação seria o do ganho mútuo entre as partes, releva do princípio da propaganda.

2. É indispensável a necessidade da criação de uma narrativa que respeite os factos em articulação com a gestão da história e da identidade próprias. Só a partir destas emerge um projeto organizacional mobilizador.

Este princípio consubstancia-se no respeito pela identidade própria da organização assente no cuidado com a história e com a geografia da ação, com o respeito escrupuloso pelo espaço vital e com a história do outro (clientes, parceiros fornecedores, credores ou concorrentes).

Ignorar, ou querer esconder estas questões de carater identitário ou geográfico-histórico induz a queda para o princípio da propaganda.

3. Uma terceira questão prende-se com a necessidade de “conviver” com a concorrência, em nome da eficiência e da criatividade do ambiente empresarial (modelo schumpeteriano).

O concorrente é um adversário com o qual se está em competição, não é um inimigo a diabolizar, sobretudo quando tal estratégia serve apenas para o próprio se auto-enganar acerca da necessidade de encontrar soluções internas para conseguir ganhar.

Pretender evitar que o ambiente empresarial se deverá basear na manutenção de uma concorrência eficaz releva da propaganda.

4. Desenvolver uma narrativa segundo a qual a normalidade empresarial consiste na evitação de conflitos, pelo que, em caso de haver problemas da ordem da relação laboral, as direções (empresas ou sindicatos) tendem a inverter a realidade do “papel” de agressor e da “sorte” de agredido.

Ora, se os princípios da comunicação verdadeira assentam no elogio de uma concorrência leal, é a superioridade de um ambiente de negócios sem “guerras”, sem agressores nem agredidos, mas de adversários que competem entre si.

Pretender uma ideia de paz empresarial suportada na ideia de monopólio sem afrontamentos e sem “maus” empresários agressivos, releva do princípio da propaganda.

5. A comunicação depende, enfim, da possibilidade de uma evolução dos pontos de vista através da confrontação leal e contraditória de ideias, seguindo a prática judiciária da procura da verdade, através do processo do contraditório.

Programar uma monopolização do debate, impedindo pura e simplesmente o outro lado de evidenciar os seus pontos de vista leva a comunicação para o campo da propaganda.

 

Autor: Albino Lopes é diretor dos cursos de licenciatura e mestrado em Gestão de Recursos Humanos do ISMAT

 



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