Citricultores exigem uma estratégia pública de combate a ameaça de «efeitos devastadores»

À mosca da fruta juntou-se a bem mais preocupante psila africana dos citrinos, inseto que é vetor de uma doença que já arrasou produções em vários pontos do mundo

Pragas e doenças que já afetam a citricultura do Algarve, mas também ameaças que, no futuro, podem ter «efeitos devastadores» nesta cultura agrícola, estão a preocupar os produtores da região, que pedem medidas concretas e uma estratégia das entidades públicas para as combater.

A exigência foi feita durante a apresentação do 2º Balanço de Campanha dos Citrinos, uma iniciativa promovida em Loulé pela AlgarOrange e pelo Centro Operacional e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN), onde, mais do que falar sobre a produção, se falou sobre as «dificuldades crescentes que o setor enfrenta», como ilustrou José Oliveira, presidente desta associação de produtores.

A inquietação prende-se com a mosca da fruta, que já «causa enormes danos económicos», mas, acima de tudo, com o inseto Trioza erytreae, a psila africana dos citrinos, que além de ser, só por si, uma praga, é o vetor do greening dos citrinos, ou HLB, uma doença que tem um potencial de destruição enorme.

«Só de pensar na Trioza, até apetece chorar», desabafou o também responsável máximo pela Cacial, na sua intervenção.

 

José Oliveira

 

À margem do evento, José Oliveira explicou aos jornalistas que «os grandes problemas que nós, neste momento, sentimos são os ligados às pragas, sem prejuízo dos outros que enumerei ali, como a água, a mão-de-obra e os custos da operação, que são transversais a todos os setores».

«Estamos a falar de potenciais problemas de uma dimensão enorme. E o que nós queremos saber é qual é a estratégia, como é que vamos fazer face a isto tudo. O setor está aberto para a participação e colaboração nessas lutas que são necessárias», concluiu.

No que toca à mosca da fruta, este responsável defendeu a aposta em largadas de machos esterilizados desta espécie de insetos, de modo a garantir o controlo da população.

Quanto à psila africana, a estratégia sugerida é algo semelhante, mas, neste caso, as largadas são de um parasitoide, a Tamarixia dryi, que tem mostrado grande eficácia no controlo de Trioza Erytreae, nomeadamente nas Canárias.

Por cá, já houve uma largada de Tamarixia no Algarve, a 29 de Setembro, após o inseto vetor do greening ter sido detetado pela primeira vez no Algarve, numa exploração de citrinos do concelho de Aljezur.

Antes, esta praga já tinha sido detetada noutros locais de Portugal, nomeadamente no litoral Norte e Centro e na Península de Setúbal. No entanto, e apesar do vetor estar já disseminado pela Europa, a doença em si ainda não chegou ao “velho continente”.

 

Trioza em Aljezur

 

No entanto, os citricultores não querem esperar que isso aconteça para passar à ação.

«É preciso perceber quais as medidas que se vão tomar e qual será a estratégia de combate a esta ameaça. Isto é extremamente importante para quem é do setor», considerou José Oliveira.

Como ilustrou o presidente da AlgarOrange, a doença que é disseminada por este inseto tem arrasado a produção em locais do planeta com forte tradição citrícola. Na Florida, Estado norte-americano conhecido internacionalmente pelos seus citrinos, o HLB levou à destruição de 70% dos pomares. Ou seja, «só restou 30% da área de produção».

No caso da Trioza, o professor e investigador Amílcar Duarte acalmou os receios dos produtores, que já foram confrontados com uma solução que implicaria a construção de uma biofábrica, para a qual «os citricultores teriam de contribuir com 5 milhões de euros», garantindo que, com «a disponibilização de três salas», a Universidade do Algarve tem condições para manter culturas deste inseto e que as Canárias estão dispostas a fornecer os exemplares necessários para que a produção possa também ser feita no Algarve.

Estas preocupações surgem num «ano normal», ao nível da produção, «que até subiu ligeiramente».

«A qualidade foi razoável, os calibres foram médios a pequenos, não houve fruta grada. Naturalmente, os preços forma mais baixos do que o ano anterior e, em termos de exportação, as coisas mantiveram-se, grosso modo, iguais», resumiu o presidente da AlgarOrange.

 

 

 

 



Comentários

pub