Equilíbrio e sustentabilidade são desafios que se colocam ao turismo de natureza no Algarve

«Algarve + Sustentável» vai decorrer em três fases, ao longo de um ano, até Novembro de 2022

Um grupo de caminhantes, de mochila às costas, botas nos pés e bastão na mão, falando entre si em holandês, passou ao lado da tenda onde decorria a apresentação do «Algarve + Sustentável», como que a dar o mote para a iniciativa. Foi na sexta-feira à tarde, no pequeno jardim junto à ribeira, em Aljezur.

Como lembrou João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), entidade que, a par da Vicentina, Associação para o Desenvolvimento do Sudoeste, organiza a primeira edição do «Algarve + Sustentável», trata-se de «um projeto de um ano que arranca aqui em Aljezur», juntando duas iniciativas, «já com créditos firmados», nascidas ambas em 2014, que são a Bienal de Turismo de Natureza, iniciativa da Vicentina, e a Algarve Nature Week, promovida pela RTA.

O projeto, financiado no âmbito do CRESC Algarve 2020, desenvolve-se em três fases, a primeira das quais teve início nessa sexta-feira, dia 22, com caminhadas temáticas, e se prolonga até 26 de Novembro, incluindo ações de capacitação.

A segunda fase irá decorrer nos meses de Março e Abril do próximo ano, com a promoção de oficinas do conhecimento, campanha de sensibilização, atividades de turismo de natureza e debate. Finalmente, a terceira fase terá lugar de Setembro a Novembro, e incluirá ações de promoção, de debate e uma feira virtual.

 

Apresentação da iniciativa, com Aura Fraga a falar – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Aura Fraga, presidente da Vicentina, salientou a importância da «junção de dois eventos que já tinham algum impacto e visibilidade na região», para mais tendo em conta que os «objetivos de ambos os eventos eram complementares».

Destacou igualmente a «parceria virtuosa» entre «uma associação de desenvolvimento local, uma entidade do turismo e os municípios», sublinhando que «é muito importante que assim aconteça».

O presidente da Região de Turismo fez ainda questão de «agradecer, às equipas da Vicentina e da RTA, a abnegação que tiveram de, depois de anos a trabalhar nos seus projetos, serem capazes de gerar esta simbiose para este projeto conjunto».

João Fernandes acrescentou que, hoje em dia, «todos nós temos presente a necessidade de atenuar a sazonalidade, gerar novas motivações de visita, reduzir a litoralização, apostar na sustentabilidade, valorizar recursos endógenos». Só que, frisou, «agora é preciso passar à ação».

«Temos já muito planeamento para a sustentabilidade, também temos, felizmente, no próximo quadro comunitário, um envelope financeiro muito virado para as questões da sustentabilidade, mas depois é preciso concretizar», ou seja, «não ficar apenas no planeamento», mas avançar com um «programa de ação durante um ano», como aquele que é proposto pelo «Algarve + Sustentável».

 

João Fernandes – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

As ações serão dirigidas «a vários públicos-alvo», a começar pelas crianças. «Vamos levar crianças do 5º e 6º ano do concelho de Aljezur a serem turistas no seu próprio território, a poderem vivenciar aquilo que os que nos visitam têm oportunidade de fazer», explicou o presidente da RTA. E isso será feito «não só por uma experiência de aprendizagem, de ir observar golfinhos ou aves, de fazer uma caminhada com interpretação do património natural e cultural», mas também porque esses miúdos «serão os próximos promotores da oferta».

«Desta forma, a capacidade de acolher visitantes sem sentir esse fenómeno como uma agressão será naturalmente mais enriquecida por essa experiência».

Mas não foram esquecidos todos os outros residentes, para os quais estão pensadas «ações da campanha de sensibilização para o respeito pelas questões ambientais, pelo usufruto dos espaços naturais».

Outro público-alvo são naturalmente os agentes do turismo no território, as pessoas que efetivamente têm ou querem ter os seus pequenos negócios ligados ao turismo de natureza. «Quando nos dirigimos aos agentes do território com oficinas de capacitação em matérias como a eficiência hídrica, temos a capacidade de chegar ao pequeno empresário e trabalhar com ele, implementar, de acordo com as especificidades da sua unidade, a eficiência hídrica, a eficiência energética, a melhoria da gestão dos resíduos», salientou João Fernandes.

Também os «agentes culturais» serão envolvidos, através de «oficinas para a valorização e interpretação dos aspetos patrimoniais e da nossa história».

Mas porque é de economia que se está a falar em primeiro lugar, João Fernandes concluiu que haverá igualmente «ações voltadas para a promoção e comercialização», trazendo ao Algarve «operadores internacionais para visitas de familiarização», mas promovendo também «momentos de contacto, de venda, entre a oferta, os nossos agentes do turismo de natureza e os operadores internacionais».

E não se pense que estas iniciativas caíram do céu: «tudo isto resulta do trabalho da Vicentina e da RTA nos últimos anos».

 

José Apolinário – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, começou por sublinhar que este organismo tem também «responsabilidade de acompanhar, dinamizar e apoiar projetos que tenham uma lógica regional». Ora, acrescentou, «este é projeto de concertação e de cooperação entre diferentes entidades, alinhado com o objetivo da sustentabilidade».

O dirigente da CCDR Algarve recordou que «os turistas, hoje, valorizam um destino sustentável». Além disso, «a escolha do turista, hoje, com todo o quadro de alternativas e de tecnologias até para a contratualização, já não passa tanto pelas agências de turismo e hotéis, mas muito pelo alojamento local, arrendamento por pequenos períodos, que levam a sítios onde de outra forma não iriam».

Essa tendência, frisou, «vai obrigar a que estes produtos [ligados ao turismo de natureza e sustentável] apostem na componente da comunicação e de chegar mais facilmente ao cliente final».

José Apolinário destacou ainda «o trabalho persistente que a Vicentina tem feito, de criar sinergias, de não desistir, de criar projetos inovadores, em termos de intervenção social, mas também para levar riqueza às populações».

E concluiu: «a mobilização dos fundos europeus [para o Algarve + Sustentável] é consequência de ser um bom projeto e os bons projetos devem ser apoiados».

 

José Gonçalves – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

José Gonçalves, presidente da Câmara de Aljezur, alertou para o desafio de encontrar o equilíbrio e de definir no terreno o que é, realmente, turismo sustentável.

Começou por recordar que «há uns anos, o Ambiente era uma coisa que só nos trazia constrangimentos, dificuldades. Hoje continuamos a ter alguns constrangimentos, mas estes territórios, estas zonas mais rurais, até pela sua resiliência e pela necessidade de encontrarem caminhos, foram encontrando as soluções, retirando forças do melhor que temos na região, a conservação da natureza, os seus recursos, a fauna, a flora, as tradições».

De tal forma que, «nestes últimos quinze anos, as coisas mudaram muito», garantiu o autarca aljezurense.

Reconhecendo «o lugar e o papel que o ambiente tem nestes territórios», José Gonçalves defendeu que «é preciso procurar o equilíbrio: aí está o grande desafio para todos!»

«Seremos 100 mil a caminhar no próximo ano ou seremos 20 mil? Seremos 100 mil a fazer surf ou 20 mil? O que é que queremos ter? Como é que se controla?», interrogou, para logo responder: «temos que equilibrar, onde começa e onde acaba a sustentabilidade».

Por isso, segundo o edil, «para territórios como Aljezur, Vila do Bispo, Monchique, Lagos, Lagoa, o próprio Algarve como um todo, é este o desafio que se coloca».

E certamente que esta será uma questão que irá estar em cima da mesa ao longo do ano que esta primeira edição do «Algarve + Sustentável» vai durar.

 

Carla Pontes e Gonçalo Pescada – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

A apresentação oficial do «Algarve + Sustentável», que decorreu numa tenda junto à ribeira de Aljezur, ao mercado e às suas pontes, contou ainda com a presença dos diretores regionais de Agricultura e da Agência Portuguesa de Ambiente, Pedro Valadas Monteiro e Pedro Coelho, respetivamente, da vice-reitora da Universidade do Algarve (Alexandra Teodósio), do presidente da Câmara de Monchique (Paulo Alves), da vice-presidente da Câmara de Castro Marim (Filomena Sintra), dos vereadores de Lagos (Sandra Oliveira), Lagoa (Mário Guerreiro) e de Aljezur (Fátima Neto e António Carvalho), do secretário Geral das Terras do Infante (José Amarelinho), das responsáveis pela Rota Vicentina (Marta Cabral) e pela Via Algarviana (Anabela Santos), além de representantes de outras associações e empresários. A sessão foi encerrada pela atuação da soprano Carla Pontes e do acordeonista Gonçalo Pescada, que interpretaram temas de Zeca Afonso, Dulce Pontes e Astor Piazzola.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 



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