Das mãos do Francisco, nascem motas e camiões de brincar feitos com latas vazias

O Sul Informação foi encontrar Francisco Assunção na Queda do Vigário

Francisco Assunção com uma das suas motas em lata reutilizada – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Motas, camiões com «cabine americana», jipes de várias marcas e modelos, com destaque para os Land Rover, Volkswagens Carocha, motas com side car ou tricars. Das mãos de Francisco Assunção, a partir de latas de bebidas vazias, sai uma enorme variedade de veículos em miniatura, brinquedos para gente grande.

Alentejano de Aljustrel, mas a residir em Loulé «há trinta anos», onde trabalhou como eletricista e, sobretudo, como funcionário da Escola Secundária, Francisco tem 68 anos (quase 69) e dedica agora o seu tempo livre à sua «oficina de artes», onde produz as peças que depois vende junto à Queda do Vigário, em Alte. Já tem vendido também na Fonte Grande, mas agora, mesmo com pouca água por estarmos no final do Verão, é a cascata da ribeira de Alte que mais visitantes atrai e, por isso, é aí que o artesão se instala.

O material que usa são as latas de bebidas e, quanto mais coloridas, melhor. Muitas são-lhe dadas por amigos que têm em bombas de gasolina. «Mas é tudo desinfetado antes de eu começar a usar».

Para fazer uma mota, quantos dias leva?, quis saber o Sul Informação. «Faço isto em puzzle, primeiro faço as peças, depois vou montando tudo, assim é mais rápido. Por isso, em três dias, faço três motas».

 

Cada um dos veículos reutiliza ao máximo o material das latas. As rodas, por exemplo, são feitas com o fundo das latas, ligadas com uns rebites bem pequenos. Os puxadores das portas dos camiões ou algumas peças do motor das motas são feitos com as argolas que servem para abrir as latas. «Uso tudo!», garante.

Às vezes, pedem-lhe modelos específicos e Francisco Assunção primeiro faz um modelo em papelão do veículo, depois desmancha tudo em peças, para fazer os moldes, depois forra com a lata e produz todas as pecinhas necessárias. É, em resumo, um trabalho de imaginação, mas também de perícia e paciência.

Quantas peças faz por ano? Francisco pensa um pouco, mas responde: «não faço ideia, nunca contei».

E quando é que descobriu esta vocação para o artesanato? «Desde pequeno que faço estas coisas. Lá em Aljustrel, andava a guardar cabras e, com um canivete, às escondidas do meu pai, fazia os meus brinquedos com tronquinhos de esteva, que apanhava ali. Fazia motinhas, fazia outras coisas. Naquela altura, não havia dinheiro para comprar brinquedos, nós é que os fazíamos».

 

As suas peças não são baratas, mas o trabalho que dão, a minúcia da sua execução, a criatividade necessária, justificam o preço. Uma mota custa 25 euros, um camião, com atrelado, 50 euros. Mas, explica Francisco, de todas as peças que vende, 5 euros são entregues ao Refúgio Aboim Ascensão, em Faro. É que, conta, «o Dr. Villas-Boas foi meu comandante em Moçambique», nos tempos da Guerra Colonial, e daí resultou uma amizade que perdura até hoje.

As peças de Francisco Ascensão já decoram as estantes de casas em todo o mundo. «De manhã, estiveram aqui seis motoqueiros de Setúbal que compraram duas motas. Vão dar de prenda ao pai, que já não pode andar de mota, mas gosta disto». explica.

Pegando no telemóvel, onde guarda centenas de fotografias das suas obras, algumas enviadas pelos compradores, Francisco diz: «Está a ver este camião? Tenho um colecionador, que é português mas vive nos Estados Unidos, que me comprou já alguns. Há dias enviei eu um camião para lá. Tenho outro colecionador que é francês e até me manda cá amigos. Há outros em Quarteira, em Mem Martins, em Espanha. É muita gente a gostar destas coisas que eu faço».

O camião que já seguiu para os Estados Unidos, fotografado junto à Queda do Vigário

Protegido do calor de Verão por um guarda-sol, Francisco é também uma espécie de rececionista e posto de informações para quem quer visitar a Queda do Vigário.

Chega um casal, com um filho pequeno: «Boa tarde! A queda do Vigário é para ali?», perguntam. «É sim», responde, com um sorriso, apontando o início do caminho que desce até à cascata e ao pego. «E agora tem água?». «Tem pouquinha. A queda é bonita, para quem não conhece. Mas cuidado é com o sol, que a subir custa muito e sem a cervejinha ainda é mais difícil», brinca.

À volta, o miúdo, que se demora a namorar as motas, lá consegue que os pais lhe comprem uma.

Escolheu uma mota feita com uma lata de cor azul bem forte, mas esteve indeciso, porque também gostava de outra, encarnada. Quais são as cores que se vendem mais? «Vende-se de tudo. Mas a cor que eu vejo que pega mais é aquela que eu vou fazendo».

Enquanto espera os clientes ou simplesmente os mirones com os quais gosta de ficar à conversa, Francisco Assunção vai preparando uns tubinhos de alumínio bem levinho e maleáveis, que serão o chassis de várias motas. «Não se pode estar parado, isto até faz bem», garante.

Quem quiser contactar com Francisco Assunção, pode encontrá-lo na Queda do Vigário ou então contactá-lo por telefone ou por whatsapp para 969696992. Há ainda o email [email protected] .

 

Veja aqui as fotografias das inúmeras peças:

 

 



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