Recordar o óbvio

Portugueses estão a reciclar mais, mas há quem ainda resista

Há 21 anos, o Gervásio ensinou os portugueses a reciclar. Ainda se recorda?

Corria o ano de 2000, tinha eu 26 anos e ainda me lembro do anúncio do chimpanzé Gervásio que conseguia, em apenas uma hora e doze minutos, separar o papel, o plástico e o vidro pelos ecopontos das diferentes cores — azul, amarelo e verde, respetivamente. No final do anúncio, era lançado o repto: «E você, de quanto tempo mais é que vai precisar?»

Segundo o inquérito “Radar da Reciclagem” da Sociedade Ponto Verde, em 2020, já em pandemia com a Covid-19, os portugueses produziram mais resíduos em casa, mas acompanharam «esse aumento com a respetiva separação e reciclagem». Boas notícias.

Realizado em parceria com a Marktest, este inquérito demonstrou que 46,4% dos portugueses reciclam mais, comparativamente com o ano transato. Há mais lixo a ser produzido em casa, mas, também, mais tempo disponível para realizar a separação e reciclagem. Novamente, boas notícias.

A análise entra também na questão da gestão dos resíduos associados à pandemia: as máscaras, luvas descartáveis e toalhitas desinfetantes.

Segundo o “Radar da Reciclagem”, a maioria dos portugueses (74%) sabe que tem de colocar esses resíduos no contentor do lixo indiferenciado. Temos então aqui uns 24% de portugueses (estes números são meus) com sérias dificuldades em perceber, principalmente, onde colocar as luvas descartáveis e as máscaras.

A resposta certa é: lixo indiferenciado.

Não deverá colocar estes resíduos associados à pandemia no ecoponto amarelo e muito menos na rua, ao virar de uma esquina, na relva ou atrás de uma árvore, na esperança de que possa ser que ali ninguém veja. E é isso que se vê, infelizmente, um pouco por todo este Portugal. Não só máscaras cirúrgicas abandonadas, mas também máscaras comunitárias, com aquele ar de fui agora utilizada, mas já não sirvo e vou ficar mesmo por aqui, abandonada no chão. Que prático!

Saindo da questão da reciclagem, mas ainda no plano do óbvio associado a desperdícios, há dias tive mais uma daquelas experiências de veraneante residente irritada, quando deixam lixo «esquecido» na sua praia preferida.

Estava eu na Praia dos Três Irmãos, em harmoniosas brincadeiras com as minhas crianças, que incluíam areia em quase todos os poros, quando me apercebi de uma mãe e filha a comer ruidosamente um pacote daqueles salgados amarelos crocantes em forma de berlindes.

Pensei para mim: só espero que não deixem o pacote vazio quando se forem embora. Isto, porque a poucos metros de distância já me tinha enfurecido com duas garrafas de cerveja só de gargalo à mostra e um pacote de pastilhas elásticas ainda por mastigar.

Não sei se tenho algum radar especial, mas a verdade é que, quando regressei do mergulho refrescante, a família monoparental já não lá estava, mas o pacote de salgados, sim, e muitas daquelas bolas amarelas, que, não sei como, resolveram permanecer espalhadas pela areia num soalheiro dia de Verão.

Quando me apercebo destes gestos de desleixo fico agastada, neste caso, também triste. Que exemplo deu aquela mãe à sua filha?

Deixar lixo na praia, jogar máscaras ao chão parecem comportamentos óbvios a evitar. Infelizmente, parece que, em muitas situações, o óbvio continua a precisar de ser dito.

No Verão e em qualquer altura do ano, deixe sempre os locais onde esteve mais limpos do que os encontrou. Já agora, deixe também esse seu sorriso luminoso por onde passar. O mundo agradece todos os nossos gestos positivos.

 

Autora: Analita Alves dos Santos é uma Mãe preocupada com questões ambientais… e não só

 

Fonte: Capital Verde

 

 

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