Gonçalo Reis é aluno do 8º ano da Escola Básica Joaquim Moreira, em Martim Longo, no concelho de Alcoutim. Com o regresso do confinamento, o jovem estudante, sem equipamentos em condições, voltou a sentir as dificuldades do ensino à distância, mas um computador recebido esta sexta-feira, 5 de Março, vai mudar tudo. E, de repente, o que parece tão simples só de ora em diante se tornou real: «agora, já vou conseguir falar com o professor».
Gonçalo foi um dos cinco alunos do Agrupamento de Escolas de Alcoutim que receberam um computador, numa iniciativa da Fundação Galp que levou estes jovens – e os seus pais – à escola, numa tarde de muita chuva, mas também de alegria.
Para o pai Daniel Reis, este novo equipamento «vai ajudar muito».
«Eu tenho três filhos em idade de escola e torna-se muito difícil. Nós tínhamos um computador fixo, antigo, sem câmara, sem microfone, sem nada», relata à reportagem do Sul Informação, já com o novo computador nas mãos.
Vindo do Norte, mas «residente em Martim Longo», como faz questão de realçar, Daniel Reis exemplifica as dificuldades que toda a família tem sentido no regresso do ensino à distância.
«O meu mais velho anda na Escola Secundária, em Mértola, e a escola também lhe deu um computador, mas a minha filha, que anda no 1º ano, tem de usar o meu telemóvel para seguir as aulas. Estamos todos em casa e é complicado, principalmente nesta fase em que precisava mais de aprender», lamenta.
Mas, a tarde é de alegria e o encarregado de educação desfaz-se em elogios a esta iniciativa da Fundação Galp. «Quero mesmo agradecer a quem nos doou este computador. É uma ajuda muito muito importante, principalmente para quem tem tantos filhos como eu», diz.
Ao seu lado, Gonçalo resume, com palavras tímidas, mas sentidas: «é uma grande prenda».
No total, a Galp entregou 30 computadores ao Agrupamento de Escolas de Alcoutim – que incorpora a Escola Básica Integrada de Alcoutim e a Escola Básica Joaquim Moreira. Por enquanto, apenas cinco foram distribuídos aos alunos mais necessitados e os outros ficarão, para já, na escola.
Segundo Joana Garoupa, diretora de Comunicação e Marketing da Galp, o grande objetivo é «contribuir para a educação do país».
«No âmbito da pandemia, a Fundação Galp promoveu uma série de iniciativas que achámos que faziam sentido face a esta situação dramática que estamos a viver. O que sentimos foi que, com a pandemia, o tema das desigualdades veio mais ao de cima e acabámos por criar este projeto que é quase uma iniciativa de economia circular», explica.
É que «estes são computadores que a Galp já tinha, e que, em vez de deitar fora, recuperou, estando agora a distribuí-los», acrescenta.
O facto de os equipamentos serem para alunos de um território do interior também é realçado por Joana Garoupa: «nós [Galp] estamos presentes em todo o país e, exatamente por isso, tentamos nunca esquecer que há mais do que Lisboa e Porto».
Quem conhece a realidade, que é bem diferente, deste Agrupamento de Escolas é Paula Bento, a sua diretora.
«Nós estamos aqui no interior, os nossos alunos vêm do meio rural, muitas vezes de lugares, de montes. Há estudantes com muitas dificuldades», explica ao Sul Informação.
Por isso, esta «iniciativa da Galp é verdadeiramente importante».
«É um gesto simpático e é bom que existam empresas com esta responsabilidade social e que tenham presentes as necessidades e dificuldades pelas quais as pessoas passam», diz, já depois de a cerimónia de entrega dos computadores ter terminado.
Quando foi contactada, da parte da Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares, a diretora conta como «ficou toda contente». «Telefonaram-me a dizer que ia receber os 30 computadores e eu pensei: venham eles!».
É que a questão, segundo Paula Bento, é mesmo a «falta de condições que alguns alunos têm». «Eles já dominam as tecnologias, estamos na era tecnológica, mas grande parte não tem as condições necessárias…», desabafa.
Diretora desde o início deste ano letivo, Paula Bento, que resume estes meses de trabalho como «desafiantes», conta como o regresso ao ensino à distância tem sido «muito trabalhoso, principalmente para os professores».
«Felizmente, está a correr tudo bem, mas temos de dar um voto de louvor aos docentes porque todos têm trabalhado além do que é expectável para que ninguém fique para trás», diz.
Essa também é a grande meta de Osvaldo Gonçalves, presidente da Câmara de Alcoutim: apoiar todos os que precisam. Foi isso que levou a que, pontualmente, a própria autarquia «já tenha emprestado alguns computadores, fazendo o que estava ao nosso alcance».
Quanto à iniciativa da Galp, só merece palavras de reconhecimento ao autarca.
«Tenho de manifestar a minha gratidão por este gesto de mecenato para a escolas e para os miúdos. Há um conjunto de iniciativas que temos tomado, em contínuo, enquanto autarquia, e que também têm ajudado. Felizmente, não temos casos graves, de carências ao nível alimentar, mas vimos como estes computadores são uma ajuda para as famílias. Os miúdos saíram daqui todos felizes!», diz.
Num Agrupamento onde «todos nos ajudamos e há uma grande cooperação», como realça a diretora, os funcionários são uma peça essencial. Em nome deles, Cidália Pereira fez questão de também agradecer a iniciativa da Galp.
«Nós somos tantas vezes esquecidos. Estamos aqui tão isolados que parece que nem existimos no mundo. Somos poucos, sim, mas temos muita força de vontade e há gente que sai desta escola que se tornam grandes profissionais».
Gonçalo Reis, com a ajuda do seu novo computador, ficará, por certo, mais próximo de ser um deles porque, finalmente, «vai conseguir falar com o professor…sem ser pelo chat».
Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação
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