O tempo passa mais devagar quando vemos pessoas em movimento

Recente investigação liderada por uma cientista da Universidade de Coimbra

Uma recente investigação liderada por uma cientista da Universidade de Coimbra, publicada na revista Experimental Brain Research, concluiu que o ser humano tem a perceção de que o tempo passa mais devagar quando se observam movimentos biológicos, quando comparado com movimentos artificiais.

O estudo decorreu na Universidade Federal do ABC (São Paulo, Brasil) e contou com a colaboração de 32 participantes. A equipa procurou saber como o ser humano avalia a duração de tempo decorrido ao visualizar um vídeo que mimetiza o movimento de um corpo humano a correr (movimento biológico) e um outro de uma forma geométrica movimentando-se como um pêndulo (movimento artificial).

Apesar dos estímulos terem a mesma duração, os participantes consideraram que o movimento biológico dura mais tempo do que o artificial em velocidades plausíveis.

“Uma vez que o movimento humano é mais complexo, a forma como percebemos e processamos esse estímulo visual é diferente e, provavelmente, mais complexa do que a forma como percebemos estímulos visuais de objetos artificiais. Por esta razão, os participantes julgam que a duração do estímulo de movimento humano é maior do que a duração do estímulo artificial”, explica Giuliana Giorjiani, agora investigadora no Proaction Lab responsável pelo estudo.

Os investigadores também fizeram variar a velocidade dos vídeos, aumentando e diminuindo o número de fotogramas (ou frames) por segundo a fim de encontrar a velocidade tornava o movimento biológico mais natural. De seguida, verificaram o que acontecia no cérebro, nomeadamente numa região chamada Sulco Temporal Superior (STS), que se sabe responder ao movimento e à forma humana.

Para isso, recorreram a uma técnica chamada Espectroscopia funcional de luz próxima ao infravermelho que, à semelhança dos oxímetros que são colocados na ponta dos dedos dos pacientes num hospital, medem a presença de oxigénio no sangue.

“Ao medirmos a quantidade de hemoglobina no sangue com e sem oxigénio, conseguimos verificar que existia uma maior atividade no STS quando os participantes visualizaram movimento biológico em relação ao artificial”, clarifica a investigadora.

O cérebro humano é ainda um grande mistério para os investigadores. “Sabemos que o nosso cérebro tem vários vieses, tais como a perceção de tempo. Saber como estes processos funcionam poderão ajudar a sociedade a utilizá-los a nosso favor”, conclui.

Uma demonstração dos estímulos está disponível em https://youtu.be/0Lkg1F3ZEIc

Giorjiani, G.M., Biazoli, C.E. & Caetano, M.S. Differences in perceived durations between plausible biological and non-biological stimuli. Exp Brain Res (2020). https://doi.org/10.1007/s00221-020-05904-w

 

Autor: Daniel Ribeiro (Proaction lab)
© 2021 – Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
Daniel Ribeiro é biólogo pela Universidade do Minho e mestre em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova de Lisboa. Já desempenhou funções enquanto Comunicador de Ciência no i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, no Porto, bem como no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa.
Atualmente integra a equipa de comunicação do PROACTION Lab, um laboratório de investigação em Psicologia/Neurociências da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, focado na perceção e reconhecimento de objetos e ações.

 

 

 



Comentários

pub