Trabalhar com crianças em casa (última parte)

Dicas de uma “Mãe que trabalha a partir de casa com duas crianças pequenas que exigem muita atenção”

Agora que o terceiro período terminou, naquele que terá sido certamente o final de ano escolar mais atípico de há muito, é chegado o momento de fazer o possível balanço, mesmo apesar de o final do ano escolar em regime doméstico significar, em muitos lares, crianças a continuar… por casa.

Tempo de escola, período de férias, tudo permanecerá para demasiadas famílias misturado e sem fronteiras. Em muitos locais do nosso país, levar crianças para um ATL é um risco que não vale a pena correr, mesmo com o nível de saturação e desgaste que isso possa implicar. Para adultos e crianças.

Resumindo: foram (e são!) tempos delicados, difíceis e exigentes, que o digam pais, crianças e professores.

Muitos pais e mães viram-se, nos últimos meses, no papel de inexperientes professores, procurando encontrar o seu método e ritmo de ensino, tão diferente daquele que as crianças estavam habituadas na escola e onde o nível de compromisso por parte dos seus alunos/filhos foi difícil de encontrar.

Passado o período inicial de adaptação, certas crianças conseguiram encontrar o seu rumo entre ecrãs, manuais, aulas síncronas ou gravadas e os conhecimentos foram sendo consolidados.

Outras porém, não conseguiram adaptar-se, deixando pais e mães frustrados perante blocos de trabalhos de casa que foram se agigantando, dia após dia, mês após mês.

Longe dos amigos, com um contacto virtual diário ou pontual com os seus professores, as nossas crianças/alunos foram “grandes vencedores, e grandes perdedores” deste ensino improvisado, onde muitas tarefas escolares foram, simplesmente impossíveis de finalizar.

Alguns alunos ainda permanecem em época de exames com o habitual “sofrimento” característico desta fase transferido do real para o virtual, mas mesmo assim, não menos intenso.

O lado positivo para crianças e professores de toda esta inesperada dimensão escolar, (se é que podemos mesmo falar num “lado positivo”) foi talvez a possibilidade de testar novas formas de ensino e colocar os mais pequenos num contacto mais frequente com as “novas tecnologias”.

E aqui, mais barreiras surgiram e se acentuaram, pois nem todos conseguiram ter acesso a algo “aparentemente tão simples”, como um computador ou ligação à Internet em casa.

O grande ensinamento deste período tão irregular foi a oportunidade dos nossos filhos (e nós) perceberem na prática que têm a capacidade de adaptação a situações inesperadas; que o conhecimento pode-se transmitir de diversas formas, mas que nada substitui a presença e o toque do Outro. Quando somos forçados, e não temos alternativa, percebemos que o mundo virtual não pode substituir o mundo real. Podem e devem, isso sim, complementarem-se.

Também os professores testaram os seus limites (incluindo a paciência…) e aprenderam a organizar o seu tempo e a partilhar os seus conhecimentos de forma diferente.

Não partilho da opinião “Ah! Agora é que os Pais aprenderam a dar valor aos professores!”, porque esse valor aqui em casa sempre esteve presente.

Acredito, todavia, que estes meses de confinamento serviram para muitas famílias se aperceberem de como estavam distantes do ambiente escolar dos seus filhos, como talvez pouco se importassem com essa dimensão das suas crianças.

Alguns por falta de tempo, outros por acreditarem que essa responsabilidade não lhes pertencia. A educação das nossas crianças não é, e não deverá ser nunca, compartimentada, todos contribuem para o todo que será a criança de hoje, o adulto de amanhã.

Em jeito de despedida, partilho consigo mais três atividades para fugir aos ecrãs, um deles que lhe fará decerto, reviver momentos bem divertidos da sua infância.

 

3 ATIVIDADES PARA FUGIR AOS ecrãs

1. Jogo do telefone avariado
Um dos jogos que me traz memórias mais divertidas, é sem dúvida o jogo do telefone avariado.
Lembra-se de o jogar?

Basicamente consiste numa roda de crianças, em que uma delas diz uma frase ou uma palavra em segredo à que está ao seu lado e essa à seguinte e por aí fora até chegar à última criança e no final, é rir sem parar dos disparates que chegam ao final da linha telefónica.

2. Caça ao tesouro
O jogo da caça ao tesouro é uma oportunidade incrível para nos divertirmos em família. Poderemos ter várias opções: crianças escondem e adultos descobrem o tesouro; adultos escondem e crianças descobrem o tesouro; equipas mistas de adultos e crianças a esconder e a descobrir o tesouro.

Antes de começar é importante:

• Decidir o tesouro;
• Escolher o local onde esconder o tesouro;
• Fazer o mapa (podemos plastificar o mapa para o podermos reutilizar em várias ocasiões);
• Fazer as equipas de quem esconde e quem descobre.

Depois é dar asas à imaginação e entrar na magia da caça ao tesouro.

3. Massa de modelar

Com esta atividade terá oportunidade de explorar, moldar e desenvolver a motricidade fina. A massa de modelar é uma alternativa caseira à plasticina. Muito Simples de preparar:

INGREDIENTES
2 Chávenas (chá) de farinha de trigo
1⁄2 Chávenas (chá) de sal
1 Chávenas (chá) de água
1 Colher (sopa) de óleo vegetal
Corante comestível de cores variadas (em alternativa poderá usar tinta guache, desde que as crianças não coloquem a massa na boca)

PREPARAÇÃO
Misture os ingredientes em sequência e, por último, coloque o corante da cor que preferir. Modele a massa com as crianças, criem formas, explorem e divirtam-se em família. Em alternativa, poderão também modelar plasticina ou barro.

 

SUGESTÃO LITERÁRIA PARA SI

O que acabei de ler: A Amiga Genial, de Elena Ferrante, Relógio D’Água.

Prescrição literária:  esta é história de um encontro entre duas crianças de um bairro popular nos arredores de Nápoles e da sua amizade ao longo das suas vidas. Um livro que nos provoca sentimentos contraditórios e a vontade de conhecer melhor o mistério por trás da própria escritora. A Amiga Genial tem o ritmo de uma grande narrativa popular, densa, por vezes veloz e desconcertante, simultaneamente ligeira e profunda, que nos mostra os conflitos familiares e amorosos numa sucessão de episódios que o leitor deseja que nunca acabe.

Estou também a ler, Desoras, de Julio Cortázar, uma referência incontornável para quem deseja aventurar-se no mundo da escrita de contos arrebatadores.

O que estou a ler: Não se pode morar nos olhos de um gato, de Ana Margarida de Carvalho, Teorema
Prescrição literária:  Um romance possante sobre a necessidade do outro e das suas mudanças. Um retrato do ser humano desprovido de vaidades ou rótulos sociais.

O que vou ler a seguir: Língua Mátria, Contos Inéditos de Autores de Língua Portuguesa, The Book Company
Prescrição literária:  Doze autores que têm em comum a Língua Portuguesa, juntaram-se nesta coletânea de contos onde a voz de cada escritor sobressai e nos delicia com as suas narrativas curtas. David Capalenguela (Angola), João Tordo (Portugal), Luís Cardoso (Timor-Leste), Luís Carlos Patraquim (Moçambique), Milton Hatoum (Brasil), Ngonguita Diogo (Angola), Olinda Beja (São Tomé e Príncipe), Patrícia Reis (Portugal), Teolinda Gersão (Portugal), Vera Duarte (Cabo Verde), Waldir Araújo (Guiné-Bissau) são os escritores a descobrir ou a redescobrir, neste género, por vezes esquecido, mas tão rico e arrebatador que é o conto.

Em breve regressarei mas não mais como a “Mãe que trabalha a partir de casa com duas crianças pequenas que exigem muita atenção”, porque faço parte do grupo de famílias que vive numa zona de Portugal onde o regresso das crianças às atividades de ocupação de tempos livres é (por ora), possível.

Vou aproveitar ao máximo para trabalhar sem crianças em casa, enquanto for possível…

Até lá. Fique bem. Fique seguro(a)!

 

Nota:
As “Atividades para fugir aos ecrãs” são sugeridas por Liliana Marques, a MãEducadora, mãe de uma menina de 4 anos e educadora de infância no ativo há 15 anos.

Fotografia por Victor He @ Unsplash

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