«É tempo de acordar para a responsabilidade dos poderes públicos» face aos media

Marcelo Rebelo de Sousa: «ou a sociedade civil age ou os poderes públicos não sentirão a premência em agir»

«É tempo de acordar para uma responsabilidade dos poderes públicos» face à crise da comunicação social, defendeu ontem à noite o Presidente da República, no fecho da conferência sobre Financiamento dos Media, para a qual a diretora do Sul Informação foi convidada como uma das oradoras.

Marcelo Rebelo de Sousa sugeriu ainda que o Estado aplique, já em 2020, pelo menos algumas medidas experimentais de apoio à comunicação social.

«É tempo de acordar para uma responsabilidade dos poderes públicos, mais não seja, em 2020, de modo inicial, experimental, tentativo, à espera da estratégia que não existe e de uma visão de conjunto para os anos seguintes», sublinhou o Presidente, no encerramento da conferência promovida pelo Sindicato dos Jornalistas, em resposta a um apelo seu e com o seu patrocínio, e que decorreu no Palácio da Cidadela, em Cascais.

O chefe de Estado deu o exemplo das medidas de apoio em vigor noutros países europeus, que consideram os media como um pilar fundamental da democracia, apelando mesmo a uma maior intervenção dos cidadãos, já que, «ou a sociedade civil age ou os poderes públicos não sentirão a premência em agir, porque é eterna a invocação de limites orçamentais, limites esses mais evidentes para domínios sociais sensíveis para o comum dos cidadãos, da saúde à segurança, do combate à pobreza à educação».

«Tudo o que a sociedade civil possa, portanto, lançar, animar, suscitar, desde a reorganização de grupos de media com ou sem estrutura fundacional, à mobilização do mecenato para assinaturas ou estímulos e apoios à comunicação social, e desde logo à leitura, passando por ação cívica com incidência no sistema tributário ou solidariedades transversais em campanhas públicas é bem-vindo», considerou.

E, quanto àqueles «que pensam que escapam à crise e aos seus efeitos de toda a ordem», o Presidente da República disse-lhes que «não escaparão», mais tarde ou mais cedo.

O chefe de Estado comprometeu-se ainda, perante uma sala cheia de jornalistas, diretores de jornais e de grupos de media, investigadores e outros interessados no tema, a não cometer «o erro de se calar, de fingir que não há crise» na comunicação social em Portugal, nem «de aderir à inércia de tomar como natural a omissão da sociedade civil e dos poderes públicos” e, pelo contrário, continuar “a suscitar o tema, sempre, e a apoiar todas, mas mesmo todas, as vias complementares de sua superação”.

Na sessão de encerramento usaram da palavra, antes do Presidente da República, Adelino Gomes, que apresentou um resumo das ideias-chave discutidas durante os dois dias da conferência, e a presidente da Direção do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco.

Durante a tarde, no painel sobre financiamento na Imprensa Regional, Elisabete Rodrigues apresentou o caso do Sul Informação, um jornal que «se assume, desde a sua fundação, como apenas e só online» e que aposta em «conteúdos de acesso gratuito» e vive da publicidade e das «doações generosas dos seus leitores».

 

Fotos: Presidência da República

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