Observatório para o Turismo Sustentável do Algarve: Importância das parcerias num projeto com futuro

Em Março passado, foi dado o primeiro passo para a associação do Algarve à Rede Internacional de Observatórios para o Turismo Sustentável da Organização Mundial do Turismo

A preocupação crescente com os impactos provocados pelo turismo, bem como a aceitação geral do compromisso com um desenvolvimento sustentável, têm levado a comunidade mundial a reavaliar as atividades turísticas à luz da sustentabilidade económica, social e ambiental no longo prazo.

Neste século, têm vindo a ser criadas iniciativas para análise, monitorização e avaliação da atividade turística, sendo uma delas a Rede Internacional de Observatórios para o Turismo Sustentável da Organização Mundial do Turismo (OMT).

Esta Rede, criada em 2004 e que já conta com 27 Observatórios espalhados por todo o mundo, tem dois objetivos:

i) Apoiar a melhoria contínua da sustentabilidade e resiliência no setor de turismo por meio da monitorização sistemática, atempada e regular do desempenho, do uso dos recursos e do impacto do turismo, a fim de melhor entender as implicações do desenvolvimento do turismo a um nível de destino subnacional e fomentar a gestão responsável do turismo; e

ii) Fornecer aos policy-makers, planeadores e gestores de turismo, e a outras partes interessadas, ferramentas indispensáveis – através da aplicação sistemática de técnicas de monitorização, avaliação e gestão de informação – para fortalecer as capacidades institucionais de apoio à formulação e implementação de políticas, estratégias, planos e processos de gestão sustentável do turismo.

Enfim, pode dizer-se que esta Rede Internacional de Observatórios pretende aglomerar, partilhar e estimular a aplicação de boas práticas, bem como capitalizar a inovação nos destinos de forma a alcançar-se um cada vez maior desenvolvimento do turismo sustentável.

Ora, sendo o Algarve a mais importante região turística do país, não pode nem deve ficar afastado daquela Rede.

Assim, no passado mês de março de 2019, foi dado o primeiro passo para a associação do Algarve a essa Rede. Foi criado o Observatório para o Turismo Sustentável do Algarve, como resultado de uma parceria entre a Região de Turismo do Algarve (RTA), a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve), a Universidade do Algarve e o Turismo de Portugal.

O Observatório tem como missão (1) apoiar a melhoria contínua da sustentabilidade do turismo no Algarve nas dimensões social, económica e ambiental, através da monitorização, avaliação e informação à comunidade dos contornos do desenvolvimentos turísticos na região e dos seus impactos; e (2) apoiar o processo de tomada de decisão tendo em vista o desenvolvimento do Algarve como um destino mais saudável, verde, resiliente e regenerado, com maior qualidade de vida, com melhores condições de mobilidade, qualidade do ar e da água e de reduzida criminalidade.

A missão consubstancia um conjunto de objetivos a serem alcançados a curto, médio e longo prazo, entre os quais se encontram os seguintes:

1. Definir e concretizar um modelo de monitorização da atividade turística e dos seus impactos e disponibilizar informação aos decisores públicos e privados;

2. Criar um ambiente de reflexão, aprendizagem e sensibilização para a necessidade de se promover o turismo sustentável ;
3. Promover a comunicação e a criação de redes.

Para além da missão e dos objetivos, foram vários fatores conjunturais que concorreram para a criação do Observatório por estas quatro instituições, designadamente:

i. A relevância estratégica que as políticas públicas de turismo em Portugal conferem ao tema da Sustentabilidade;

ii. A visão definida na Estratégia Turismo 2027, que pretende posicionar Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo;

iii. A necessidade de criação de instrumentos operacionais de base científica que possam apoiar a monitorização das metas definidas na Estratégia Turismo 2027 em matéria de Sustentabilidade;

iv. A experiência que a RTA tem com várias iniciativas que pretendem promover um desenvolvimento sustentável do Algarve, bem como a intenção de uma melhor gestão sustentável do destino;

v. Os desígnios de promoção do desenvolvimento regional, baseado em sustentabilidade e competitividade, inscritos no quadro de competências da CCDR-Algarve;

vi. A vitalidade crescente da Universidade do Algarve ao nível do ensino e da investigação na área do Turismo e Hospitalidade.

Efetivamente, a Universidade do Algarve terá um papel central na implementação do Observatório, pois, através do know-how dos seus professores e investigadores, dotará o Observatório de uma componente analítica e científica de modelação da atividade turística e seus impactos que os outros parceiros não lhe podem oferecer.

Aliás, os projetos que a Universidade do Algarve tem conduzido com sucesso ao nível de observação, nomeadamente o IMPACTUR e o OBSERVE, são exemplos do que a Universidade pode fazer, mas ao mesmo tempo experiências a ter em consideração neste Observatório que desde o início começou a mobilizar importantes agentes regionais.

A este nível é importante salientar que consideramos que a implementação de um Observatório para o Turismo Sustentável do Algarve deverá assentar numa plataforma alargada de parcerias com stakeholders públicos e privados do Algarve e com centros de investigação e centros de estudo e desenvolvimento da Universidade do Algarve que tenham como áreas prioritárias de investigação o Turismo e a Sustentabilidade.

A produção de indicadores acerca da monitorização da atividade turística no Algarve em sentido lato, nomeadamente em matéria de indicadores de sustentabilidade, e com desagregação geográfica ao nível dos concelhos, será um instrumento fundamental para a definição de políticas e de medidas locais que procurem responder de forma integrada e alinhada com o desígnio regional da criação de um destino turístico sustentável coeso e homogéneo.

É importante não só assegurar que os princípios, objetivos e planos de ação do Observatório se encontrem ligados a necessidades de informação de suporte ao processo de tomada de decisão da indústria turística e hoteleira do Algarve, mas também garantir que o Observatório irá produzir um conjunto de indicadores ainda não fornecidos por outros, pelo menos numa dimensão temporal, espacial ou outra, e que seja considerada relevante para a tomada de decisão da indústria.

Neste sentido, as parcerias constituem um importante pilar nos modelos de funcionamento de observatórios de turismo, quer estejam ou não associados àquela Rede Internacional. Refira-se como exemplos destes dois casos em Portugal, o Observatório do Turismo Sustentável do Alentejo e o Observatório do Turismo de Lisboa, respetivamente.

A sua existência, dinâmica e interação dos seus elementos permitirá uma ampla reflexão sobre as nove áreas da sustentabilidade do turismo que o Observatório deverá monitorizar que, segundo a Organização Mundial do Turismo, estarão articuladas com a sazonalidade do turismo, o emprego, os benefícios ao nível do destino, a governança, a satisfação dos residentes, a gestão energética, a gestão da água, a gestão dos resíduos líquidos e a gestão dos resíduos sólidos.

Para além destas áreas ou temáticas, outras poderão vir a ser consideradas relevantes na região do Algarve, enquanto destino turístico por excelência: a inovação, a produção e consumo sustentável, o turismo de praia e turismo de natureza, a biodiversidade e a proteção da natureza, a herança cultural, a mobilidade, o planeamento do território o o controlo do desenvolvimento turístico, a gestão dos visitantes, o controlo da intensidade dos utilizadores e a distribuição territorial, a satisfação dos visitantes, bem-estar e comportamentos, a segurança e a adaptação às alterações climáticas.

A definição conjunta dos princípios, objetivos e planos de ação para a sustentabilidade turística do Algarve por parte de todos os stakeholders da região, assim como a sua implementação prática, implicará um trabalho articulado para esse objetivo comum.

A colaboração entre o Observatório e estes stakeholders regionais surge como um elemento fundamental deste projeto, pois, por um lado, sem que todos os stakeholders utilizem e valorizem a informação que irá ser produzida de forma regular pelo Observatório este não cumprirá a sua missão na sua plenitude e, por outro lado, sem que todos contribuam, pelo menos com algum tipo de dados da sua atividade, o Observatório ficará limitado na sua capacidade de produção de informação que apoie a tomada de decisão de cada um dos seus utilizadores.

Acreditamos, portanto, que esta colaboração é uma estratégia win-win, pelo que a criação de uma plataforma de parceiros regionais do Observatório é uma condição essencial para o sucesso deste projeto a médio e longo prazo, que tanta falta faz ao Algarve.

 

Autores:

João Albino Silva
Faculdade de Economia da Universidade do Algarve
CinTurs – Centro de Investigação em Turismo, Sustentabilidade e Bem-estar

Luís Nobre Pereira
Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve
CinTurs – Centro de Investigação em Turismo, Sustentabilidade e Bem-estar

Jorge M. Andraz
Faculdade de Economia da Universidade do Algarve
CEFAGE (UAlg) – Centro de Formação Avançada em Gestão e Economia

Rui Nunes
Faculdade de Economia da Universidade do Algarve

 

 

Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economistas

 

 

 

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