Águas do Algarve vai estudar dessalinização na costa algarvia

Novo contrato de concessão com a Águas do Algarve é válido até 2048 e não prevê aumento de preços

A dessalinização na costa do Algarve vai ser estudada nos próximos anos pela empresa Águas do Algarve, que renovou, esta quarta-feira, o contrato de concessão com o Estado, para o abastecimento de água em alta na região, até 2048.

João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Transição Energética, adiantou aos jornalistas que essa é uma questão que «precisa de um “banho” de estudo técnico. No contexto da “renovada” Águas do Algarve, essa possibilidade vai ser estudada, quer do ponto de vista técnico, quer do ponto de vista da equação económico-financeira».

No contrato de concessão hoje assinado por Joaquim Peres, presidente da Águas do Algarve, e por João Pedro Matos Fernandes, está previsto um investimento de 300 milhões de euros para os próximos 30 anos, valor que não inclui a possível construção de uma dessalinizadora. «Não está previsto nesse valor. Esses 300 milhões de euros são para a construção em falta de estruturas de tratamento e abastecimento de água e para renovação de infraestruturas existentes. Vamos estudar e perceber de que forma é que podemos financiar a construir a dessalinizadora», disse o governante.

Apesar de haver quem defenda a construção de um equipamento deste género para fornecer água para rega, Matos Fernandes não considera essa solução viável, tendo em conta os custos de dessalinização.

 

João Pedro Matos Fernandes

«A dessalinização é uma solução técnica testada que consome muita energia e produz água bruta mais cara do que noutras soluções, como as barragens. Em Portugal, só há dois territórios do ponto de vista técnico onde podem existir dessalinizadoras: nos grandes estuários e no mar do Algarve. Muitas vezes, as dessalinizadoras são reclamadas para uso agrícola, mas aí não há forma de fechar equação económico-financeira [devido aos custos]. No Alqueva, a água é vendida a 3 cêntimos por metro cúbico. No entanto, na dessalinização, não conheço nenhuma solução que faça com que o preço seja inferior a 30 cêntimos por metro cúbico», explicou o governante.

Já para consumo humano, essa é uma solução «encaixável. O que pagamos no primeiro escalão, na fatura, dependendo das terras, anda nos 80 cêntimos por metro cúbico. Um valor desse tipo, para abastecer populações, é racional do ponto de vista económico-financeiro e não levará ao aumento do preço de água».

O não aumento da fatura da água a pagar pela população foi, aliás, uma das questões essenciais do novo contrato assinado entre o Estado e a Águas do Algarve. No acordo alcançado, para o qual foram ouvidos os municípios, essa foi uma das condições defendidas pelos autarcas.

«Na primeira reunião na AMAL [Comunidade Intermunicipal do Algarve], ninguém pôs em causa que o contrato fosse prolongado, todos tínhamos o desejo de manter o contrato de concessão em alta com a Águas do Algarve, ainda sem saber o valor da amortização e os investimentos previstos. A segunda ideia que ficou estabelecida foi que queríamos a estabilidade dos preços. Não aceitávamos o aumento do tarifário» além da inflação, contou Jorge Botelho.

 

Jorge Botelho

Com o contrato assinado hoje ficam, assim, garantidas as tarifas a pagar pelos Municípios à empresa Águas do Algarve, até 2048.

Tanto João Nuno Mendes, presidente do grupo Águas de Portugal, como Joaquim Peres, presidente da Águas do Algarve, definiram este dia como «histórico» para o Algarve.

«É um passo fundamental. É a garantia de que aquilo que acontecia nos anos 80, em que abríamos a torneira sem saber o que de lá saía, acabou. Isso é impensável em toda a região. Quando consumimos esta água, é um produto de excelência», garantiu Joaquim Peres.

O presidente da Águas do Algarve definiu dois desafios a ultrapassar nos próximos anos. O primeiro tem a ver com a «a reutilização das águas» tratadas nas ETARs. «Quantos hectómetros são usados para lavar ruas, contentores, regar espaços verdes? Usar as águas das ETARs para estes fins vai ser o próximo desafio».

 

Joaquim Peres

O outro objetivo passa por «usar as lamas. Aqui para a região é fundamental. Não nos podemos esquecer que temos algumas zonas com o solo extremamente árido. E temos de ver se temos capacidade para fazer daquele produto, que é um excesso, algo que se possa aplicar, de forma a tirar dele partido».

A reutilização das águas tratadas também foi defendida por Matos Fernandes que, no seu discurso, defendeu que «o esgoto tratado é água. Que pode ser usada para a rega, por exemplo». Além disso, «a reutilização das águas residuais pode injetar mais 20% de água no seu ciclo urbano e o Algarve está em posição privilegiada, porque foram inauguradas as ETARs de Companheira e Faro-Olhão, que estão preparadas para isso. É fundamental reduzir a utilização de águas potáveis para os fins da rega e usar esgotos tratados», concluiu o ministro.

 

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