Mãe Soberana espelha a alma de um povo no Cine-Teatro Louletano

Sessões são já esta sexta-feira, sábado e domingo

Há a música, as flores que embelezam o andor e os tão comuns “Vivas!”.  “Soberana” sobe ao palco do Cine-Teatro Louletano já esta sexta-feira, 21 de Junho, para uma peça de teatro que fala deste culto, nas suas vertentes factual e sentimental. É que, como um dia escreveu o poeta António Aleixo, mais do que uma manifestação religiosa, é «a alma desse povo que vai dentro daquele andor». 

O desafio surgiu do Cine-Teatro Louletano e o Teatro do Eléctrico aceitou logo a proposta.

Ricardo Neves-Neves, com raízes em Loulé e encenador da companhia teatral, assumiu o trabalho. «Começámos a preparação com leituras, aquele material de mais fácil acesso: livros, vídeos, fotografias. No ano passado, também acompanhámos as Festas», começou por explicar aos jornalistas, num ensaio aberto à imprensa, na passada quarta-feira.

Mas, para retratar as Festas da Mãe Soberana em palco, só isso não bastava. As pessoas (crentes e não crentes, devotos ou não devotos) assumem, nesta festa, um papel crucial. Por isso, nada melhor do que ouvir quem conhece a Mãe Soberana por dentro.

«Falámos com as pessoas para perceber o que esta festa significa para elas. Temos horas e horas de entrevistas muito interessantes de uma relação que percebemos que é muito especial. As pessoas emocionam-se muito a falar sobre a Mãe Soberana», contou Ricardo Neves-Neves.

Essa ligação umbilical dos louletanos à sua padroeira está bem espelhada nesta peça de teatro. Há preces à Mãe Soberana após a grande seca de 1750, rezas de um jovem que parte para o Ultramar e até uma personagem que diz, sem rodeios: «eu não acredito em Deus, mas acredito na Mãe Soberana!». Também não falta, no cenário, uma representação da ladeira por onde desce e sobe o andor.

Esta é uma festa em que os homens assumem um papel importante. Oito filhos da terra têm, ano após ano, a árdua tarefa de carregar o andor, ladeira abaixo e ladeira acima, na Festa Pequena e na Festa Grande. São os respeitados homens do andor que também estão retratados nesta peça.

«É muito engraçado percebermos que esta é uma festa onde os homens têm um papel tão importante. Não sei se será aquele cliché de o menino estar muito ligado à mãe, mas há realmente uma dedicação muito especial. Mais que uma pessoa nos disse: “um homem não chora…exceto na festa da Mãe Soberana”», contou Ricardo Neves-Neves.

Para esta peça, tentou-se, então, encontrar um «equilíbrio entre a vertente religiosa e a parte mais pagã».

«Estamos a espelhar o que uma comunidade sente… Quem vem à procura de um espetáculo só religioso, não o vai encontrar, mas, quem vier à espera de um espetáculo só sobre as pessoas de Loulé, também não o vai encontrar. Será um pouco de cada zona», resumiu o encenador.

Para atingir esse equilíbrio, o espetáculo usa muito a parte musical, uma tradição das produções do Teatro do Eléctrico.

«Nas próprias festas, é raro o momento em que não há música. Era muito difícil fugir a essa questão. Desde o início que quisemos absorver a música e o repertório que é tocado na procissão», explicou Ricardo Neves-Neves.

Para Paulo Pires, diretor do Cine-Teatro Louletano, as expetativas para esta peça são altas. «Vai ser um espetáculo de que as pessoas vão gostar. O convite foi também para trabalharmos uma matéria que é muito central da identidade louletana, passando-a para o palco», enquadrou.

Por sua vez, Rita Cruz, uma das atrizes em palco (são 15 os artistas no total), garante que a «ligação com o público vai ser muito forte».

“Soberana” tem três sessões previstas, no Cine-Teatro Louletano: esta sexta-feira e sábado, às 21h30, e domingo, às 17h00. Os bilhetes custam 9 euros e podem ser comprados aqui. Menores de 30 ou maiores de 65 anos apenas pagam 7 euros.

E depois destas três exibições? Ricardo Neves-Neves acredita que este é um espetáculo que pode ir a «outros locais». «Acho que é possível chegar a qualquer ponto do país», disse.

É que a Mãe Soberana é de Loulé, mas também chega a tantos outros locais. Ir à Festa basta para o perceber. Há excursões, ouve-se várias línguas e percebe-se como aquele é um momento especial.

“Viva a Mãe Soberana!”.

 

Fotos: Rodrigo Damasceno | Sul Informação

 

 

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