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Vivemos num tempo no qual “a mãe dos meus filhos não é necessariamente a minha esposa”, porém nunca o ambiente familiar e as relações geradas no seio das famílias estiveram tanto em debate. Este é um tempo de antagonismo familiar.

O mês de março é exemplo disso. Num dia, relembramos e discutimos os casos de violência doméstica, trazendo, para o debate público, sob diversas formas, esse flagelo social que nos devia interrogar a todos de forma muito incisiva, levando-nos a questionar como é possível acontecer morte/crime/violência onde devia existir segurança/conforto/amor.

Porém, não passaram dias desde este necessário debate quando estreiam, em dois canais televisivos de sinal aberto, concursos de vida real, ou reality shows, onde mulheres são apresentadas a homens de tal maneira que sentimos haver ali menos dignidade do que quando uma ovelha é vendida na Ovibeja, ou que uma égua é vendida na Feira da Golegã.

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Esses concursos de vida real são instantaneamente líderes de audiência, ainda que nos remetam para tempos em que as mulheres eram objetos e objeto de acordos políticos, financeiros, etc.. E são tema de conversas inflamadas, de críticos fervorosos, mas que não perdem pitada, nem que seja lendo mais uma revista cheia de histórias e “investigações” sobre cada um dos personagens…

O que mais me espanta é que quem proporciona tais espetáculos não se interroga ou reflete que é precisamente a desvalorização do ser humano e das suas relações mais íntimas que está em causa e que torna qualquer um de nós, mormente as mulheres, histórica e ainda – infelizmente! – socialmente mais vulneráveis, ficando à mercê de energúmenos que, de seres humanos, peço desculpa pela crueza, têm muito pouco.

Por outro lado e igualmente proporcionando-nos um outro tipo de reflexão sobre a importância da família, permanece acesa a polémica sobre a existência de diversas relações familiares dentro do atual Governo.

E, mais uma vez, não ajuda tornar a família e a relações familiares arma de confiança ou de arremesso político, esquecendo-nos que pertencer a um determinado grupo familiar não nos torna incompetentes ou, ao contrário, bons profissionais e excelentes pessoas.

Mais: ser de determinada família também não deve ser trampolim para escalada política ou para um questionamento e vasculhamento de toda a nossa ação enquanto cidadãos de um determinado país.

Mas isto só acontece por banalizarmos e vulgarizamos as nossas relações familiares, que devem ser as mais profundas, aquelas onde sabemos que existe um interminável espaço de segurança, conforto e amor, apesar de todas as diferenças que existem entre seres humanos, mesmo sendo eles familiares. Porque é nessa relação e nesses afetos que nos contruímos. São as evidências invisíveis da nossa identidade e do nosso ser.

Não quero ser, nem sou, moralista. Tento limitar-me a pensar e refletir sobre aquilo que o mundo em que vivo e habito me apresenta em cada momento.

Mas sei que, se andarmos a brincar às famílias, fazendo da criação de casamentos e de relações familiares concurso (como que regressando à época medieval), ou estratégia política, só aumentamos mais a nossa esquizofrenia e violência doméstica.

É que o mediatismo e a comunicação são infinitamente maiores do que na época do verdadeiro e infeliz feudalismo. Hoje tudo se sabe, mesmo na família e antes da família. Porque Só na lua não há vento.

 

Autor: O Padre Miguel Neto é diretor do Gabinete de Informação e da Pastoral do Turismo da Diocese do Algarve, bem como pároco de Tavira.

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