Com ou sem Controvérsia, Jornadas voltaram a debater futuro da bacia do Arade

Teia d’Impulsos voltou a colocar os quatro municípios da bacia do Arade no centro do debate

Era para ser um diálogo, mas acabou por ser um monólogo. Elidérico Viegas, presidente da AHETA, esteve no primeiro dia das Jornadas do Arade, para debater a taxa turística com Jorge Botelho, presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, mas acabou por ficar a falar sozinho.

Esta deveria ter sido a “Controvérsia 1” do programa deste evento, organizado pela associação Teia d’Impulsos, entre os dias 8 e 10, em Portimão, mas acabou por ser, apenas, uma exposição das razões que levam a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve a rejeitar a taxa turística, como já o havia feito numa tomada de posição pública. Jorge Botelho nem apareceu, nem se fez representar.

E, se o objetivo da organização era que se gerasse controvérsia, a ausência de interlocutor levou a que a só se ouvissem vozes contra esta taxa, tanto da parte de Elidérico Viegas, como dos membros da assistência que pediram para falar, como o Sul Informação testemunhou.

O mesmo já não sucedeu nas outras Controvérsias lançadas pela organização. No sábado de manhã, Paulo Morgado, presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve, e Ulisses Brito, presidente do Conselho Regional da Sub-região de Faro da Ordem dos Médicos, debateram o futuro do Serviço Nacional de Saúde, na região.

«A necessidade da construção de um Hospital Central do Algarve, que responda às necessidades da região (aquela que, em todo o país, se encontra geograficamente mais afastada de um hospital central) e aos problemas de sobrelotação com que o Hospital de Faro atualmente se depara, foi um ponto de concordância de ambos os preletores», segundo a Teia d’Impulsos.

No mesmo dia, à tarde, foi lançado o debate sobre outro tema quente, o da gestão florestal. “O que mudou ou vai mudar após o incêndio de Agosto de 2018?” foi a questão colocada a Rui André, presidente da Câmara de Monchique, e a Assis Marques, da Associação de Produtores Florestais do Barlavento Algarvio.

«A prevenção e o reordenamento florestal reuniram consenso enquanto medidas que podem ajudar a prevenir o que aconteceu no ano passado ou, pelo menos, a minorar as suas consequências. Rui André frisou que não se pode esquecer a sustentabilidade da população e a sua relação com a serra e os seus produtos. Porém, Assis Marques alertou para o facto do risco de incêndio, em crescimento devido às alterações climáticas, estar a afastar os investidores da floresta, o que contribui para o degradar do ordenamento do território», recorda a associação que organiza as Jornadas do Arade, no resumo dos trabalhos.

Polémicas (ou ausência delas) à parte, este foi mais um fim-de-semana em que «os quatro municípios da Bacia do Arade voltaram a ser motivo de reflexão e inspiração para novas ideias», frisa a Teia d’Impulsos.

A associação convidou diversas personalidades para fazerem «um diagnóstico dos principais desafios com que os concelhos de Portimão, Lagoa, Silves e Monchique se deparam no presente e perspetivar soluções para um futuro mais sustentável e baseado numa visão de conjunto para esta sub-região do Algarve».

Foi com este intuito que foram criados quatro grupos de trabalho, constituídos por alunos do curso profissional de Turismo Ambiental e Rural do IEFP, da Escola Secundária Poeta António Aleixo de Portimão e da Escola EB 2,3 de Monchique.

Estes grupos debruçaram-se sobre quatro eixos temáticos – melhor educação e formação; valorizar e promover o património humano e natural; mais emprego e desenvolvimento económico; e promoção do desporto e atividade física – e apresentaram as suas conclusões no sábado, dia 9.

E, tendo em conta que, este ano, Portimão, que acolheu as jornadas, é Cidade Europeia do Desporto, as atividades desportivas marcaram forte presença no evento.

Além de um domingo dedicado às Olimpíadas do Arade de Jogos Tradicionais, o desporto esteve em foco na primeira mesa-redonda das Jornadas do Arade 2019, onde se debateu a “Promoção da prática desportiva a nível local – Da formação ao alto rendimento”.

No sábado, Isilda Gomes, presidente da Câmara de Portimão, teve a oportunidade de falar sobre as ações desenvolvidas e programadas no âmbito da Cidade Europeia do Desporto. A autarca «focou como esta é uma oportunidade não só para a promoção da prática desportiva e dos hábitos de vida saudável junto da comunidade, como também para a dinamização da economia da região, sobretudo do setor turístico».

Durante esta edição das Jornadas, também se ficou a saber um pouco mais sobre como os fundos europeus têm sido aplicados na região. António Ramos, secretário técnico do Programa Operacional Algarve 21, apresentou um balanço intermédio, num momento em que começam a ser apurados os resultados da primeira fase de aplicação do programa CRESC Algarve 2020, e levantou um pouco o véu sobre quais serão as áreas-chave do próximo programa operacional, nomeadamente a inovação e o estímulo às exportações.

Como já havia acontecido noutras edições, as jornadas fizeram questão de abordar o tema do património local, através de mesas-redondas onde se falou sobre a forma como este tem vindo a ser promovido e dinamizado nos concelhos da Bacia do Arade.

Ana Patrícia Ramos e António Pereira expuseram algumas das atividades que o Museu de Portimão tem vindo a desenvolver junto da comunidade, para manter viva esta memória, como parte constituinte da identidade local.

Ismael Medeiros, técnico superior da Câmara Municipal de Lagoa, revelou alguns dos projetos futuros do município no âmbito patrimonial, com particular ênfase para a constituição de uma há muito aguardada unidade museológica em Lagoa.

O arqueólogo Cristóvão Fonseca deu a conhecer alguns dos segredos submersos no estuário do Arade que têm sido explorados em projetos de arqueologia subaquática dinamizados pelo CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em parceria com o Museu Municipal de Portimão.

«Ficou também o alerta para o conflito, que por vezes impera, entre a preservação patrimonial e os interesses económicos, neste caso específico, os riscos que as dragagens para a execução do projeto de aprofundamento e alargamento do canal do Arade podem constituir para o património subaquático», salienta a organização da iniciativa.

A cultura não foi esquecida, nomeadamente os projetos intermunicipais que existem nesta área. Além da Rota do Petisco, iniciativa dinamizada pela Teia d’Impulsos, esteve em foco o “365Algarve” e as diferentes iniciativas dinamizadas pela associação In Loco, como o MEDFest, a Rota da Dieta Mediterrânica ou o projeto Prato Certo.

«As Jornadas do Arade voltaram assim proporcionar um único de espaço de debate e troca de ideias à população da Bacia do Arade», conclui a Teia d’Impulsos.

 

Fotos: Teia d’Impulsos

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