Terras sem Sombra leva música húngara do século XX a Santiago do Cacém

A igreja matriz de Santiago, em Santiago do Cacém, acolhe, a 30 de Junho, sábado, às 21h30, o concerto de […]

Igreja de Santiago em noite de concerto do Terras sem Sombra – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

A igreja matriz de Santiago, em Santiago do Cacém, acolhe, a 30 de Junho, sábado, às 21h30, o concerto de encerramento do Festival Terras sem Sombra, intitulado “Fragmentos Vitais: Kurtág e a sua Circunstância”.

Peça fundamental da criação dos nossos dias, mas muito pouco escutada em Portugal, “Fragmentos de Kafka”, de György Kurtág, constitui o cerne de uma panorâmica da música contemporânea húngara que apresenta também obras de Béla Bartók, Péter Eötvös, Miklós Csemiczky, Gyula Fekete e Bella Máté, alguns dos compositores mais conhecidos desse país.

Para um programa tão abrangente, desloca-se de Budapeste um grupo de músicos de elite: a soprano Andrea Brassói-Jőrös, o violinista Máté Soós, o pianista Péter Kiss e o clarinetista Péter Szücs.

Se a cantora triunfa já nos principais teatros de ópera da Europa central, os outros solistas são referências internacionais na interpretação da música dos séculos XX e XXI, com carreiras impressionantes.

Outra presença a assinalar é a do compositor e maestro Gyula Fekete, autor de uma das mais recentes peças do repertório que se vai ouvir, “Csárdás”, inspirada numa famosa dança tradicional da Hungria, e vice-reitor da Academia Liszt.

Iniciada em Janeiro, a 14ª edição do Festival Terras sem Sombra aproxima-se do fim. Mais do que um simples festival, o Terras sem Sombra dá corpo a uma temporada (musical, mas também patrimonial e ambiental) que situa o Alentejo no mapa da cultura europeia, como destino privilegiado de arte e natureza. Em 2018, o programa registou quase meia centena de atividades, todas gratuitas.

“A ideia de um território atrasado e atávico, em que se anda de safões e com um borrego às costas, ficou há muito para trás”, faz questão de realçar José António Falcão, diretor-geral do Terras sem Sombra.

Hoje, pode dizer-se que o festival já conquistou um lugar ao sol nos circuitos da vida artística europeia e pede meças aos seus congéneres internacionais.

Para isto, tem contribuído uma proposta bastante original, que chama ao Alentejo, em cada ano, um país convidado. 2018 é o ano da Hungria, sob a ideia de “aproximar o distante”. Um pretexto para revisitar, em clave maior, o papel da tradição e da modernidade na música europeia, do século XVI ao século XXI.

A adesão do público mostra o interesse da programação desenhada por Juan Ángel Vela del Campo, responsável artístico do festival desde 2015.

Portal de entrada da Quinta de S. João (Santiago do Cacém)., 1º quartel do séc. XX. Foto de H. Vilhena (in Atlas do Sudoeste Português)

 

Um oásis barroco e romântico: a Quinta de São João

Como é tradição deste festival, além da música, há lugar para o patrimoónio histórico e arquitetónico e ainda para a biodiversidade e o património ambiental.

Assim, a tarde do dia 30, a partir das 15h00, tem por alvo a Quinta de São João, propriedade dos arredores de Santiago do Cacém, uma das mais belas quintas de recreio do litoral alentejano.

Situa-se nos Escatelares, zona famosa pela abundância de água, o que levou a ser escolhida, no século XVIII, como assento de quintas pertencentes à aristocracia local, que nelas gostava de passar o Estio. Na época romântica, voltaram a estar em voga e receberam beneficiações ao gosto do tempo.

Entre tais quintas, sobressai, pela imponência do conjunto edificado e pela riqueza natural, a de São João, que pertenceu ao sargento-mor João Falcão de Mendonça e data da década de 1720.

Abastecida por um complexo dispositivo hidráulico, a propriedade alterna jardins, ruas arborizadas – tornou-se famosa uma alameda, de sabor horaciano, flanqueada por faias –, hortos, pomares e mata. Não faltam também árvores raras, algumas oriundas do Extremo Oriente.

A visita a este paraíso de frescura é guiada por Gonçalo Nunes da Silva, um dos proprietários, e pelo arquiteto Francisco Lobo de Vasconcellos.

 

Memórias da Judiaria, nas ruas de Santiago do Cacém – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Recuperar a memória da Judiaria de Santiago ao Cacém

Na manhã de 1 de Julho, às 9h30, o Terras sem Sombra acompanha o escritor e psicanalista argentino Arnoldo Liberman numa visita à antiga Judiaria, em pleno centro histórico de Santiago do Cacém. O ato constitui uma chamada de atenção para a memória do bairro judeu, desaparecido no século XVII, quando a sua comunidade, perseguida pela Inquisição de Évora, se dispersou.

Descendente de famílias hebraicas da Europa central, Liberman nasceu em 1933 e formou-se em Buenos Aires. É uma das grandes figuras da literatura hispânica do século XX.

O Centro UNESCO de Arquitetura e Arte, com sede em Santiago, pediu-lhe ajuda, como promotor da causa pela paz no Médio Oriente e membro da Fundação Hispano-Judaica, para resgatar a velha Judiaria do esquecimento a que tem estado votada.

 

O que resta do Convento de Nossa Senhora do Loreto – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

O montado do Loreto, repositório de biodiversidade

Do coração da cidade, os voluntários do festival dirigem-se em seguida à Herdade do Loreto, com os olhos postos no seu montado de sobro. Esta mata, comprada em 1515 pelos frades do convento franciscano de Nossa Senhora do Loreto, foi por eles beneficiada, ao longo de séculos, como fonte de sustento e espaço de meditação e oração.

O convento, extinto em 1834, acabou por ficar ao abandono, mas o vetusto sobreiral teve melhor sorte e permanece um tesouro de biodiversidade.

Esta atividade explora a riqueza da flora e da fauna do montado e dá um contributo prático para a sua conservação, ao mesmo tempo que alerta para os problemas que a paisagem cultural do Loreto atualmente enfrenta.

A ação é guiada por José Mira Potes (engenheiro zootécnico), Dinis Cortes (médico) e Luís Salvador (biólogo), com a colaboração de Ana Vidal (arquiteta paisagista).

As iniciativas do Terras sem Sombra, de acesso livre, são organizadas pela Pedra Angular, em parceria com o Município de Santiago do Cacém.

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