Passagens de nível de Estômbar e do Parchal vão ser suprimidas

As passagens de nível de Estômbar e do Parchal, no concelho de Lagoa, vão ser suprimidas, mas isso só acontecerá, […]

Passagem de nível de Estômbar – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

As passagens de nível de Estômbar e do Parchal, no concelho de Lagoa, vão ser suprimidas, mas isso só acontecerá, na melhor das hipóteses, e apenas quanto ao primeiro caso, dentro de «três anos».

A decisão de eliminar estas duas passagens de nível da Linha do Algarve foi anunciada a 7 de Junho, Dia Internacional para a Segurança em Passagens de Nível, na sessão que serviu para a assinatura de um «Compromisso de Segurança», entre a empresa Infraestruturas de Portugal (IP) e a Câmara Municipal de Lagoa.

Luísa Garcia, diretora de segurança da IP, garantiu que estas duas passagens têm «condições para vir a ser suprimidas».

No caso de Estômbar, tudo indica que será construída uma «passagem desnivelada superior», uma espécie de viaduto que passará por cima da linha, para o tráfego rodoviário, de bicicletas e pedonal.

Neste local, há pouco mais de dois anos houve um acidente mortal, quando um comboio abalroou um motociclista idoso, que atravessava a via quando as cancelas automáticas já tinham baixado e era audível o sinal sonoro de aviso.

No Parchal, Luísa Garcia admite que há «dificuldades diferentes para vir a suprimir» esta passagem de nível, mas o que está previsto é a construção futura de uma «passagem desnivelada inferior».

Quanto a prazos, a diretora de Segurança da IP adiantou que, em Estômbar, se prevê que haverá um período de «três anos entre início do projeto e eliminação» da passagem, enquanto no Parchal o processo irá demorar um total de pelo menos cinco anos, já que se iniciará «dois anos depois da primeira intervenção estar concluída».

Por seu lado, Alberto Diogo, vogal do Conselho de Administração da IP, explicou que, no âmbito do Compromisso de Segurança assinado entre aquela empresa e a Câmara de Lagoa, haverá «duas abordagens: melhorar o atravessamento numa primeira fase e uma segunda fase de estudo das soluções de desnivelamento das duas passagens».

Passagem de nível do Parchal – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Francisco Martins, presidente da autarquia, acrescentou que está em causa «não é só a passagem de nível, mas toda a situação envolvente», por exemplo, a necessidade de mudar a paragem de autocarros, situada pertinho da passagem do Parchal e cuja localização aumenta o risco naquela zona.

«Podemos também pensar num percurso alternativo. Cada caso é um caso e a solução depende de cada situação», acrescentou o autarca lagoense.

O investimento na supressão destas passagens de nível, mas também na melhoria das questões gerais de mobilidade, será partilhado pela Câmara de Lagoa e pela IP. «Investir para diminuir os riscos é o nosso papel», explicou Francisco Martins.

Precisamente para repensar, como um todo, a situação da passagem de nível do Parchal, mas indo mais longe e propondo soluções para a mobilidade e a ligação mais fácil entre a paragem de autocarro e o hotel «Riverside», adaptado a turistas com mobilidade reduzida, a sessão foi ainda aproveitada para a apresentação de um estudo feito por uma equipa do Instituto Superior de Engenharia (ISE) da Universidade do Algarve, coordenado pela professora Manuela Rosa.

O estudo, denominado «Acessibilidade para todos no Turismo – Projeto de Investigação Aplicada», tem mais a ver «com o turismo sénior, que precisa de acessibilidade e mobilidade sustentável». Manuela Rosa explicou que este estudo envolve não só «engenheiros civis, mas também a comunidade, já que temos trabalhado com a Câmara de Lagoa, a ACAPO e também a IP».

O projeto aplica-se à «requalificação da rede pedonal entre os interfaces do Parchal [paragem de autocarros, com cruzamento da passagem de nível] e o Hotel Riverside, que é referência nacional e internacional» no que diz respeito ao turismo acessível. O projeto implica a criação «de uma rota pedonal de 800 metros», com a conceção de um «espaço canal com 1,5 metros de largura, livre de obstáculos e com piso regular», acrescentou a professora do ISE.

Tudo isto, disse aquela especialista, não surge desgarrado, mas será «integrado na requalificação da zona ribeirinha» do Parchal à Mexilhoeira da Carregação, que a Câmara de Lagoa planeia promover.

«Quando trabalhamos em mobilidade sustentável, é necessário ter uma visão integrada», que promova a igualdade de tratamento entre «peão, ciclista, transporte público, transporte individual e transporte de mercadorias» (ligeiros e pesados). «Tudo isso influencia o desenho da infraestrutura pedonal», explicou, salientando que é preciso «integrar a passagem de nível neste desenho de infraestruturas».

Passagem de nível – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

No entanto, avisou a professora Manuela Rosa, «a passagem de nível tem de ser acessível para todos e não só para o automóvel». A especialista deu o exemplo da cancela automatizada, que apenas foi pensada para os automóveis. O facto de se tratar de meias cancelas, «somente numa via de tráfego», é considerado «perigoso».

Defendendo que, nas passagens de nível, se deve resolver as questões da mobilidade para todos os peões, nomeadamente para quem se desloca de cadeira de rodas, mas também para os cegos e amblíopes, Manuela Rosa acrescentou que, segundo o estudo feito pela sua equipa, o ideal é criar «uma área segregada para o peão».

Enquanto todos estes projetos e planos não avançam, no âmbito do programa Ferrovia 2020, a empresa Infraestruturas de Portugal vai avançar com a supressão de sete das 34 passagens de nível atualmente existentes na Linha do Algarve, de uma ponta a outra, tal como o Sul Informação ontem noticiou em primeira mão.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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