João Guerreiro é a Personalidade Algarvia de 2017…e tem mais uma cabra para a sua coleção

João Guerreiro, presidente da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias dos incêndios de Pedrógão e de […]

João Guerreiro, presidente da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias dos incêndios de Pedrógão e de Outubro, já tem mais uma cabra, para juntar às 150 que tem em casa.

Mas esta não é uma cabra sapadora, daquelas que o Governo quer voltar a reintroduzir nas florestas. É feita em pedra do mar de Olhos de Água, pelo artista albufeirense Joaquim Pargana, e foi oferecida como símbolo do prémio Personalidade Algarvia do ano de 2017, que ontem lhe foi entregue pelo blogue «Lugar ao Sul», numa cerimónia no salão nobre da Câmara de Tavira.

Gonçalo Duarte Gomes, um dos fundadores deste blogue «que se destina a debater o Algarve enquanto região e enquanto região que contribua para o todo que é Portugal», explicou que os atuais 12 membros permanentes do «Lugar ao Sul» consideraram que, um ano e pouco depois da sua criação, era tempo de «homenagear uma figura que se tivesse destacado no Algarve, não só na região, mas para o todo nacional».

E a escolha acabou por recair em João Guerreiro, pelo seu «papel de destaque no âmbito da Comissão Técnica Independente», mas sobretudo «pelo seu percurso enquanto cidadão e enquanto cabeça pensante».

Outro contributo «também decisivo» de João Guerreiro, segundo Gonçalo Gomes, é «o alerta que tem lançado sistematicamente para a necessidade de a região se pensar como tal», como «um conjunto coerente que vá para além da mera soma dos 16 municípios».

Mas, sublinhou, não deixa de ser uma «doce ironia» que, para coordenar, a nível nacional, a Comissão Técnica Independente, tenha sido «escolhida uma pessoa de uma das regiões que mais precisa de ordenamento e de pensamento estruturante».

O jornalista Idálio Revez, que apresentou o homenageado, agradeceu à equipa redatorial do «Lugar ao Sul» por «terem tido a ideia de distinguir uma personalidade do Algarve que soube interpretar o local, sem perder a dimensão do global».

«João Guerreiro conquistou um espaço que está muito para lá das fronteiras regionais e adquiriu o respeito e admiração de quem olha de forma crítica para os problemas do país», acrescentou. No ano passado, João Guerreiro foi «indicado pelo Conselho de Reitores para ocupar o lugar de “super juiz” no caso do dramático incêndio de Pedrógão».

A propósito do trabalho aí desenvolvido, Idálio Revez sublinhou que a «capacidade para fazer pontes, entre instituições e pessoas, principalmente em ocasiões difíceis – quando disparam os termómetros da emoção – faz parte do ADN deste Guerreiro, que trava lutas sem armas».

«A homenagem que hoje lhe é prestada não terá a ver apenas com esta passagem pelo espectro mediático, não obstante o esforço que sistematicamente faz para ficar fora das luzes da ribalta». É que João Guerreiro, geógrafo, «conhece bem as coordenadas da Universidade onde foi reitor, mas também, enquanto antigo presidente da CCDR, aprendeu a traçar a latitude do poder regional».

Jorge Botelho, presidente da Câmara de Tavira e da Comunidade Intermunicipal do Algarve, e que foi o anfitrião da sessão de entrega do prémio, deu os parabéns aos mentores do blogue «Lugar ao Sul», «por se juntarem, por terem opinião, por não serem indiferentes, por serem concordantes e discordantes e, sobretudo, por terem espírito construtivo».

O autarca salientou ainda que o prémio «distingue um dos protagonistas maiores do Algarve de hoje».

O homenageado, em resposta a todos estes elogios, salientou que a iniciativa do prémio «tem a ver comigo, mas também tem a ver com o Algarve e com tudo o que queremos para o Algarve e que queremos refletir sobre o Algarve».

Sobre a sua missão mais recente, à frente da Comissão Técnica Independente, João Guerreiro disse que o relatório «pôs o dedo na ferida» e colocou «publicamente as questões de má organização», tendo trazido «a questão da floresta e o interior para cima da mesa, como problema nacional que tem que ser debatido e resolvido». «Houve quem não gostasse do relatório, sobretudo a Autoridade Nacional de Proteção Civil», revelou o homenageado.

Quanto ao trabalho do blogue «Lugar ao Sul», João Guerreiro sublinhou que «tem tido uma intervenção em várias áreas, em temas fundamentais». «É de dentro para fora que temos que encontrar soluções», frisou. E elogiou o grupo de redatores do blogue, «jovens que percebem as dinâmicas da região e que estão, de certa forma, a prestar-nos um favor ao colocar em cima da mesa os problemas fulcrais da região», promovendo «o debate sem sectarismo».

Para João Guerreiro, geógrafo de formação base, «o problema principal do Algarve é a falta de pessoas. Não é só no Algarve que isso acontece, mas a demografia atinge-nos com uma brutalidade enorme». É que, explicou, «sem pessoas, não conseguimos desenvolver as atividades e estruturar melhor o tecido social e económico».

Para o antigo reitor da Universidade do Algarve e ex presidente da Comissão de Coordenação da Região, há por cá dois problemas básicos: «a mobilidade intrarregional, para a qual não conseguimos ainda encontrar soluções» e a «qualificação», já que, defendeu, «faltam-nos pessoas e faltam pessoas com qualificação».

Mas é também preciso refletir sobre o Turismo, vendo não só o que trouxe de positivo, mas também «os pontos negativos», como o facto de competir «com os outro setores», já que «o turismo absorve os melhores quadros e seca e dificulta as atividades ao seu redor».

Por isso, defendeu, «sendo o turismo uma atividade fundamental, que gera benefícios, devíamos encontrar soluções de maior regulação social e política».

E as cabras?

João Guerreiro, com um sorriso escondido pelo seu enorme e característico bigode, explicou que faz coleção de cabras, coisa de que os bloguistas tinham conhecimento, quanto mais não seja porque, em tempos, na feira Terra de Maio, no Azinhal, já lá expôs o seu rebanho, e Filomena Sintra, vice-presidente da Câmara de Castro Marim, é uma das fundadoras do «Lugar ao Sul».

Tendo origens familiares em Querença, o mundo rural sempre esteve presente na sua vida, ou não fosse ele filho de Manuel Gomes Guerreiro, primeiro reitor da UAlg e especialista em temas de ambiente e ciências ecológicas.

Por isso, lembrou João Guerreiro, «a cabra foi elemento central nas arroteias do Mediterrâneo, era o caterpillar que ia à frente e limpava os matos». Daí o seu fascínio por esses bichos.

«Devo ter em casa qualquer coisa como 150 cabras, de todo o mundo e em vários materiais». A que ganhou ontem como símbolo do prémio Personalidade Algarvia do Ano 2017 é mais uma a juntar a essa vasta coleção.

 

Comentários

pub