Recursos naturais do Algarve em questão

A situação dos recursos naturais do Algarve devia merecer a reflexão dos algarvios e devia questionar-se que políticas estão em […]

A situação dos recursos naturais do Algarve devia merecer a reflexão dos algarvios e devia questionar-se que políticas estão em curso para os proteger e promover.

Vamos tentar sintetizar algumas questões. A agricultura regional deve adaptar-se (de resto como em todo o País, mas preocupemo-nos agora com o Algarve) às inevitáveis alterações climáticas, para as quais cientistas portugueses e estrangeiros prevêem progressivo agravamento no sentido da aridez.

As culturas praticadas e as técnicas de regadio devem (deviam…) ser objeto de contínua investigação e experimentação. Mas basta vermos o estado de ruína em que estão as instalações da Direção Regional de Agricultura, no Patacão, nomeadamente aquelas que se destinavam à experimentação, nas quais trabalhavam técnicos muito competentes e dedicados, para se perceber que deixou de se trabalhar na melhoria da agricultura algarvia (certamente passa-se o mesmo nas outras Direções Regionais portuguesas). “Menos Estado para melhor Estado” está a dar os seus frutos.

As ribeiras e linhas de água, por onde se escoam as chuvadas por vezes torrenciais que se abatem sobre a região, estão, na sua grande maioria, no estado de abandono que a foto apresenta (ver foto abaixo). Deixaram de ser limpas desde que a mentalidade liberal acabou com trabalhadores indispensáveis à conservação do território, como eram os guarda-rios, que tiveram a mesma sorte dos guardas florestais e dos cantoneiros das estradas.

Qualquer cheia que ocorra pode originar comportamentos catastróficos, com esta falta de limpeza das linhas de água.

A Quinta da Ombria é um dos mais lamentáveis atentados à qualidade ambiental e ao correto ordenamento do território e ao aproveitamento das potencialidades do interior da Região.

O que ali se está a fazer era típico dos empreendimentos turísticos dos anos 60, quando as preocupações ecológicas e ambientais ainda eram insipientes.

E, pasma-se, como é que as autoridades do Ambiente, sempre tão preocupadas às vezes com coisas picuinhas, acharam que nada daquilo era grave: cortaram um dos melhores vales do interior com uma estrada em aterro sobre solos de alta qualidade, quando a estrada poderia ter sido encostada à base da encosta e não prejudicava a paisagem e o recurso solo.

Permitiram que a ribeira fosse completamente desviada, alterando o seu leito original, para criar lagos artificiais que nada têm a ver com a paisagem local, criaram uma paisagem nova, como se estivessem no nada, desprezando a Natureza e o território; pontes e mais pontinhas à espera que as cheias colossais que aquela ribeira por vezes sofre as leve pelo vale abaixo.

Cortaram uma linha de festo para passar uma estrada, uma ferida dispensável na paisagem. Interromperam estradas públicas e tudo indica que se preparam para rodear tudo com vedação de rede. E até a iluminação dos arruamentos é abastecida pela rede pública.

E as autoridades do Ambiente e da Conservação da Natureza nada disseram. Até deve ter havido um Estudo de Impacto Ambiental a dar razão a todas aquelas diatribes…

Os investidores parece que são finlandeses, esperaram umas décadas para conseguiram fazer este desconchavo – podia perguntar-se-lhes se, na terra deles, as Autoridades deixavam fazer uma intervenção deste calibre…

Isto já vai longo, Fico por aqui, para já.

 

Autor: Fernando Pessoa, arquiteto paisagista

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