«Eu acho que, neste momento, a Universidade do Algarve (UAlg) e a região namoram, e muito, o que é importante», considerou António Branco. A reaproximação às forças vivas do Algarve da instituição que dirigiu nos últimos quatro anos é um dos legados que reitor da UAlg considera que vai deixar, a que se aliam o aumento do número de alunos recrutados e o atingir do equilíbrio orçamental.
António Branco fez o balanço dos quatro anos em que esteve à frente dos destinos da Universidade do Algarve, enquanto reitor da instituição, numa entrevista ao Sul Informação e à Rádio Universitária do Algarve RUA FM.
O programa Impressões desta semana, que foi gravado na passada sexta-feira, irá para o ar, pela primeira vez, hoje, dia 15 de Novembro, às 19h00 (102.7 FM), com repetição no sábado, às 12h00. Também ficará disponível no Mixcloud da RUA FM.
Pouco tempo depois de assumir o cargo de reitor, António Branco fez questão de fazer um périplo pelo Algarve e de visitar todos os concelhos algarvios. E tudo para garantir a saúde do “matrimónio” entre a Universidade do Algarve e a região.
«Deixe-me usar uma metáfora que eu gosto muito: a do casamento. Os casamentos que já têm muitos anos, muitas vezes, precisam de ser renovados. Ou seja, marido e mulher têm de arranjar forma de voltar a namorar. Porque se não o fizerem, pode acontecer que o casamento perca o sentido», enquadrou.
Apesar de não ter dúvidas de que o casamento entre a universidade e o Algarve é «sólido», António Branco sentiu que havia a necessidade de «voltar a namorar».
«Nem sequer estava à espera de resultados a curto prazo, pois o mais importante, nestes casos, é o médio/longo prazo. Foi esse exatamente esse o meu espírito e acho, que deste ponto de vista, foi totalmente conseguido», disse.
Este acaba por ser um bom exemplo daquilo que foi a atuação de António Branco, enquanto reitor. Se, por um lado, foi dada primazia à ação, para enfrentar problemas prementes como a situação financeira da UAlg e a diminuição da capacidade de recrutamento de alunos, também houve espaço para «a palavra», fosse ela dirigida para dentro da instituição, quer fosse para o exterior.
«Um objetivo muito importante era encontrar uma forma de atravessar aquilo que eu já sabia que, provavelmente, iria ser um dos piores momentos da história da universidade, em termos orçamentais, sem que isso causasse sobressaltos na vida da instituição e no seu funcionamento, e sem que fossem ultrapassadas aquilo a que eu chamei, desde o primeiro minuto, linhas vermelhas», explicou.
Estes limites foram, de resto, «claramente expostos perante os membros do Conselho Geral, quando me candidatei» e passavam por dois grandes princípios:
«Em momento nenhum, por necessidade de contenção de despesa, fazer medidas que pusessem em causa a dignidade dos trabalhadores da UAlg e, nomeadamente, tornar mais precária a componente de precariedade no trabalho que já existia no seio da universidade».
Por outro lado, António Branco estipulou, à partida, que «não seria possível, em momento algum, contar com o financiamento dos Serviços de Ação Social, que gozavam de boa saúde financeira, para resolver problemas correntes da universidade».
«Isso, evidentemente, assenta num ponto de vista político e ideológico, da minha visão do mundo. Fui totalmente acompanhado pela equipa reitoral toda e conseguimos não ultrapassar nenhuma linha vermelha».
E não foi por isso que a UAlg deixou de atingir a consolidação orçamental. Segundo António Branco, em 2015, a universidade algarvia precisou «de um reforço de 1,8 milhões de euros» do Estado, para equilibrar o exercício. «Em 2016, precisámos de um reforço de meio milhão de euros. Este ano, não vamos precisar de reforço nenhum, graças a mais um ano de grande rigor na gestão», assegurou.
Para chegar aqui, foi preciso fazer alguns sacrifícios. «O nível de contenção de despesa que tivemos na universidade, nestes quatro anos, é insustentável por muito mais tempo. Tenho dito isto publicamente. Isso implicou que tudo o que diz respeito à conservação de equipamentos e edifícios, não tem margem orçamental para ser tratado, a não ser em situações de emergência. E este é um problema sério!», considerou.
Outra consequência das dificuldades financeiras foi o facto da UAlg «não ter impedido que trabalhadores saíssem». «Nunca pedimos a ninguém para sair, mas quando as pessoas manifestavam vontade de sair, isso provocava um efeito na contenção das despesas com pessoal, que é a rubrica mais elevada. Nós não impedimos isso e, dessa forma, estamos a permitir a redução dos efetivos, nomeadamente de pessoal não docente, e sabemos que estamos a criar situações de grandes dificuldades em alguns setores da universidade», explicou.
«Outro preço que estamos a pagar pelo nível de contenção e consolidação orçamental que conseguimos, é a falta de investimento. Praticamente não temos meios para o fazer. E o investimento é muito importante, não só para a renovação de certas áreas de atividade da instituição, como, até, para ajudar a economia local, porque o investimento público também tem essa função», acrescentou.
Isto coloca António Branco perante um dilema. Por um lado, está «satisfeito por termos conseguido consolidar o orçamento da UAlg». «Mas saio muito inquieto relativamente às consequências deste grau de consolidação orçamental», contrapôs o reitor.
É que, apesar dos sucessos, «o problema ainda não está resolvido», algo que, para António Branco, «não seria possível fazer num ciclo de quatro anos, nem se resolve só pela ação da universidade».
Outro dos objetivos mais importantes «era tentar travar a enorme queda no número de alunos que estava a acontecer na Universidade e no país». «Foi extremamente difícil fazê-lo, pois há muitos fatores externos à universidade e à sua atividade que influenciam o indicador do recrutamento e do número global de alunos, mas conseguimos», ilustrou.
«E fizemo-lo de duas formas. Desde logo porque, nos últimos anos, o nível de recrutamento do concurso nacional de acesso ao Ensino Superior começou a subir, em geral, sempre acima da média nacional. Mas nós sabíamos que isso não era suficiente. Tivemos um instrumento extraordinário, que foi o novo Estatuto do Estudante Internacional, em que apostámos com muita força e que deu resultados extraordinários. Em três anos passámos de um recrutamento inicial de 50 alunos, para mais de 200 alunos, só este ano», lembrou António Branco.
«Neste momento, temos cerca de 350 alunos internacionais, a frequentar licenciaturas a tempo integral».
Dois fatores que permitiram à UAlg, «por um lado, travar a queda, e por outro, conseguir que em 2017, o número total de alunos aumentasse».
«O terceiro grande objetivo que eu tinha, e que acho que consegui cumprir, foi arranjar uma maneira de, através da ação e da palavra, conseguir aprofundar um principio que está inscrito nos estatutos da UAlg – e que para mim é muito importante e natural – que é o da paridade entre os subsistemas universitário e politécnico», disse, ainda, o reitor da UAlg.
Isto é algo «que se faz ao longo de muito tempo», mas, para António Branco, «a ação e a palavra de um reitor pode dar sinais claros à instituição de como é que essa paridade pode ser aprofundada».
Ter atingido estes objetivos, é, de resto, uma das razões apontadas pelo atual reitor para não se recandidatar ao cargo. «Quando fiz o balanço dos objetivos que me tinha imposto a mim mesmo, considerei que alguns dos principais já tinham sido atingidos. Também senti que tinha condições para não me recandidatar, porque isso já estava garantido», disse.
Mas, «as razões principais foram pessoais». «Uma avaliação do último ciclo da minha vida, que, na realidade, foi um ciclo de oito anos. Porque eu, antes de exercer o cargo de reitor, fui quatro anos diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. E considerei que tinha chegado o momento de fechar este ciclo e começar um novo, mais dedicado à investigação e ensino», explicou.
Este foi apenas um dos aspetos abordados por António Branco na entrevista dada ao Sul Informação e à RUA FM, que serão tema de artigos que o nosso jornal publicará nos próximos dias.
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