Achado arqueológico obriga a parar obras de nova rotunda da EN125 junto a Lagoa

As obras da nova rotunda da Escola Internacional, na EN125, perto de Lagoa, estão paradas desde há algumas semanas porque […]

As obras da nova rotunda da Escola Internacional, na EN125, perto de Lagoa, estão paradas desde há algumas semanas porque as máquinas puseram a descoberto estruturas arqueológicas desconhecidas.

Os trabalhos na EN125, sobretudo quando envolvem escavações no terreno, são acompanhados em permanência por uma empresa de arqueologia, a Archeocelis, cujo arqueólogo responsável detetou, em finais de Abril, as estruturas e de imediato mandou parar as obras, para permitir a sua avaliação e eventual escavação.

No início de Maio, depois de comunicado o achado à Direção Regional de Cultura, começaram escavações arqueológicas numa área definida, trabalhos que ainda estão a decorrer.

E o que é que foi então descoberto no sítio dos Barros Brancos, a escassas dezenas de metros da EN125? Para já, nem os arqueólogos se arriscam a dizer.

O que é visível é uma espécie de empedrado, composto sobretudo por pedras de grandes dimensões, de um calcário que não parece ser da zona de Lagoa. Há duas zonas cobertas com esse empedrado, que não é plano, antes se apresentando abaulado.

As pedras, pelo que é dado ver-se, que não estão unidas com qualquer argamassa, o que parece afastar a ideia de se tratar dos muros tombados de uma construção secular.

Por outro lado, apesar de não terem sido descobertos, até agora, nas zonas já à vista, sulcos feitos pelo rodado de viaturas de tração animal, o empedrado tem algumas semelhanças com uma estrada calcetada, eventualmente romana ou medieval. Mas o seu aspeto demasiado abaulado e a falta dos tais sulcos dos rodados também parecem afastar essa hipótese.

Além do empedrado misterioso, os trabalhos arqueológicos apenas detetaram um fragmento de terra sigilata, uma cerâmica de muito boa qualidade datável da época romana. Mas não se sabe ainda se há alguma relação entre o empedrado e o caco de cerâmica.

Francisco Rosa Correia, o arqueólogo responsável pelo acompanhamento das obras da EN125 e, portanto, pelas escavações neste local, prefere não arriscar, para já, qualquer interpretação. «Ainda estamos em processo de escavação e investigação», disse ao Sul Informação, que ontem visitou o local.

O que é certo é que o achado arqueológico situa-se a dois passos dos edifícios da Escola Internacional (atual Nobel School), onde, segundo o «Levantamento Arqueológico do Algarve – Concelho de Lagoa», terá existido uma necrópole (cemitério) com cistas (sepulturas definidas por lajes de pedra, cobertas por uma laje maior), da Idade do Bronze (com cerca de 3000 anos).

Também não fica muito longe (perto de três quilómetros) da Caramujeira, sítio onde, em meados dos anos 70 do século passado, foi descoberto e escavado, pelo arqueólogo Mário Varela Gomes, um povoado e 25 menires talhados em calcário (hoje dispersos pelo Museu Nacional de Arqueologia e Museu Municipal de Silves, entre outros locais), datados do Neolítico (há cerca de oito mil anos).

Mas, para já, garante Francisco Rosa Correia, tudo o que se possa dizer são «apenas especulações», uma vez que ainda falta completar as escavações na área afetada pelas obras da nova rotunda da EN125…que, por este andar, só depois do Verão é que há-de avançar.

No troço da EN125 atualmente sob a responsabilidade da subconcessionária Rotas do Algarve Litoral, desde Faro a Vila do Bispo, já foram descobertos anteriormente outros achados arqueológicos, na zona da variante de Faro (como o cemitério romano junto à pista de atletismo, mas não só) e na zona de Espiche (Lagos).

Em todos esses casos, as obras da estrada foram paradas ou desviadas para outras zonas, para dar tempo a fazer o levantamento arqueológico dos achados. Mas, depois de recolhidas as informações e retirado o espólio com interesse, as obras avançaram…e hoje já quase nada resta desses vestígios arqueológicos nos sítios onde foram encontrados, tendo apenas ficado os registos e a informação recolhida pelos investigadores.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

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