Musicália: Um Corpo Estranho viaja da escuridão para a luz com “Pulso” 

Um Corpo Estranho apresentou o seu segundo trabalho – “Pulso” – a 29 Setembro, no Popular Alvalade, em Lisboa, e o Bafo […]

Um Corpo Estranho (1)Um Corpo Estranho apresentou o seu segundo trabalho – “Pulso” – a 29 Setembro, no Popular Alvalade, em Lisboa, e o Bafo de Baco, em Loulé, teve uma amostra do álbum, no dia 7 de Outubro, nas Moonshine Sessions.

Esta é uma sala que o duo de Setúbal (Pedro Franco e João Mota) conhece bem e, apesar de ser «uma casa que, por tradição, é mais virada para o rock, a receção tem sido ótima», disse em entrevista ao Sul Informação. Por isso, é com algum carinho que João Mota fala da sala louletana.

O grupo surgiu em 2009 e, logo no seu EP homónimo de estreia, em 2012, mostrou-se no Algarve.

Os dois primeiros EPs, se juntarmos -” Homem Almofada” (2013), serviram de preparação para o primeiro longa duração – “De Não ter Tempo“, em 2014.

Apesar de já serem «amigos desde a adolescência» não tinham um foco, mas sabiam que queriam «fazer alguma coisa em português – seria o ponto de partida do projeto» e o primeiro disco «foi uma fase de descoberta de que viria a ser a identidade do projeto».

Até agora, a sua música já lhes valeu a etiqueta de Novo Talento FNAC 2013, serem consideramos uma das apostas da revista Blitz, em 2014, e chegarem à final do Prémio Zeca Afonso, em 2015. João Mota considera, no entanto, que «o percurso tem sido natural e acabaram por acontecer algumas surpresas».

A receção na terra natal incentivou-os a mostrar o disco noutras partes do país e «as maiores surpresas vieram do interior do pais: Beja foi uma delas e o clube Vila Real, em Trás-os-Montes” até porque «o termómetro maior» é quanto tocam «ao vivo nos sítios» e percebem «se as pessoas já conhecem o disco, ou não».

PrintDesde da fundação que o duo se assumiu como contador de anti-estórias e, em “Pulso”, propõe-se a uma catarse repleta de memórias de um imaginário coletivo, de batalhas travadas e de demónios exorcizados, que cultiva o negro, mas busca incessantemente a luz. Em jeito de tradução explicativa João Mota afirma que «as canções vivem no lado menos luzidio». Até porque «quando estamos felizes e está tudo bem com a vida, não vamos querer escrever canções, vamos estar com os amigos».

Este é o processo de recolhimento criativo de Um Corpo Estranho, tornando mais fácil «a reflexão do mundo» e que faz com a música nasça «dos momentos mais pessimistas, ou mais melancólicos». Mas não se pense que o resultado final é sombrio.

À língua portuguesa decidiram juntar sonoridades e instrumentos do mundo, como o banjo, ukelele ou serrote musical, num «casamento que foi feliz», acabando por «descobrir que, cada instrumento, apesar de não ser originário de cá, tem alguma coisa a dize» nos temas em que se tentam «aproximar da música tradicional portuguesa, ainda que esteja disfarçada no meio do rock».

Chegados ao segundo trabalho, aquele que muitas vezes se afirma que dita o futuro da banda, sentem que têm «vindo a crescer» e, neste segundo, disco já sabem «quem é Um Corpo Estranho, ou a que é que soa, qual é a identidade», já desenharam «o mapa astral deste projeto e qual o caminho a percorrer a partir daqui».

João Mota considera que “Pulso” «tem as suas bipolaridades», mas acaba «por ser mais seguro dele próprio». É uma continuação do álbum de estreia até porque «foi um trabalho que começou a ser feito no primeiro disco e que chegou à foz». Há obviamente uma continuidade até porque «o trajeto é o mesmo, simplesmente é uma outra paragem uma outra paisagem».

“Pulso”, traz 11 temas que vão do dilema de não conseguirmos «tomar as rédeas da vida e do nosso próprio caminho», passando por «um pesadelo burlesco», que nos leva aos anos 20, em “Scarlett” (o próximo single), ou a epopeia dos «erros que a humanidade tem cometido ao longo dos anos», em “Seiva”.

Sentimos também a presença habitual da «mitologia, não só a grega mas também a clássica e a popular», em “Vertigem”, onde Ícaro é usado como símbolo da «ambição desmedida», para a qual somos educados, ou mesmo «um tema que não foi tanto pensado, é um nervo», mas que procura ilustrar a forma descontrolada com que se ama alguém em “Onde Quero Arder”.

Como complemento da música, a imagem e, acima de tudo, o vídeo tomam um papel importante. A parceria sadina criada no primeiro álbum, com «amigos desde sempre e que seguiram caminhos criativos diferentes», mantém-se e isso já pode ser comprovado, tanto no vídeo clip do 1º single – “Onde Quero Arder”, como na componente gráfica.

Apesar de terem as sua opinião na parte criativa das imagens, os dois músicos tentam «ao máximo» deixar a porta aberta para haja outras visões até porque, se tentarem controlar tudo, «fica mais pobre” por que estão muito «próximos das letras ou daquilo que o tema poderá querer dizer». Assim, «tudo aquilo que os outros põem a nível criativo, acaba por enriquecer o projeto».

Algo que se estende também na componente palco. Apesar de, no Bafo Baco, se terem apresentado apenas em duo, costumam fazer-se acompanhar pelo Corpus Ensemble – Sérgio Mendes, Vitor Coimbra e Gonçalo Mota – que contribuem também no processo de produção, já que os dois compositores não tabelam «muito o que os outros vão fazer» esperando «que aquilo que eles tragam seja sempre refrescante» e os contagie também.

 

Pode ver e ouvir “Onde Quero Arder”:

Corpo Estranho:

Pedro Franco: Guitarra, banjo, ukulele, guitarlele, theremin, percussões, programações e voz;

João Mota: Voz, guitarra, ukulele e percussões.

 

Corpos Ensemble:

Rui David: Bateira e percussão;

Sérgio Mendes: Guitarra eléctrica;

Vítor Coimbra: Baixo; Contrabaixo.

 

Ouça aqui a entrevista com a banda:

“Musicália” é uma rubrica, assinada por Pedro Miguel Duarte, que pretende dar a conhecer aos leitores do Sul Informação o que se anda a fazer no mundo da música portuguesa.

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