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Sul InformaçãoTerminou recentemente, na RTP2, a excelente série “Uma aldeia francesa”, cujo enredo se desenrola na pequena aldeia (fictícia) de Villeneuve, durante os quatro anos de ocupação do exército alemão, entre 1940 e 1944.

Durante estes quatro anos, a trama acompanha o quotidiano de um pequeno conjunto de personagens chave: o médico e presidente da Câmara, o seu irmão Marcel, resistente comunista, Bériot, o diretor da escola, secretamente resistente, Raymond, empresário dono de uma serração, a sua amante Marie, que se revela uma corajosa líder da resistência local, Marchetti, o jovem e ambicioso polícia colaboracionista, entre outros, que formam uma intensa rede de relações pessoais e políticas que se vão adensando.

Uma escola atenta deveria ter indicado, como trabalho de casa, aos seus alunos, que não perdessem um episódio. E se eles não o fizessem, pelo menos os professores de história deveriam ter passado um ou outro episódio em contexto de aula, para discussão com os alunos.

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Não faltaria matéria para debater e não falo apenas dos factos históricos em sentido restrito. Um dos aspetos mais bem conseguidos de “Uma aldeia francesa” tem a ver com a capacidade de revelar, episódio a episódio, como a guerra transforma o quotidiano de pessoas comuns; como situações limite as levam a agir; como a estratégia do medo faz com que vizinhos, amigos, familiares, se denunciem e deixem de se olhar como iguais; como é fácil a pessoa com que se cresceu e brincou no recreio da escola de repente virar o inimigo.

Pode até nem chegar a tanto, pode tornar-se apenas na peça que é preciso sacrificar para assegurar a sobrevivência de um filho ou para lhe matar a fome.

Tudo isto se desenrola ao longo dos vários episódios, com excelentes interpretações de um elenco que nos faz sentir que, na guerra, muitas vezes não há certo e errado, apenas o contrapeso constante entre a sobrevivência e a justiça, e que podíamos ser nós a passar por aquilo.

“Uma aldeia francesa” deveria tornar-se uma série obrigatória nos curricula escolares, como exercício de preservação da memória coletiva de uma Europa que, de novo, atravessa o que parece ser a tempestade perfeita. Numa altura em que uma confluência de crises – económica, financeira, social, dos refugiados – parece deixá-la totalmente à deriva e sem líderes com braço para tão duro leme.

A ligeireza com que se extremam posições no discurso político atual (à direita e à esquerda, com as respetivas variações ideológicas), contra a Europa e contra a emigração, leva a pensar que nem todos os nossos líderes percebem como é tão fácil fazer do vizinho do lado a peça que é preciso sacrificar para sobreviver.

Esta não é de todo a Europa ideal, mas é seguramente a Europa que, para bem de todos nós, precisamos melhorar.

A mania de que, para mudar, é preciso destruir e fazer de novo é um dos piores tiques da pequena política.

Talvez por isso a única solução para se evitar o pico da tempestade seja, antes de mais, encontrar os bons líderes. Aqueles que sabem que a paz não se constrói a alimentar as diferenças, mas sim a desbravar caminho para construir as pontes.

 

Autora: Anabela Afonso é licenciada em Relações Internacionais e mestre em Comunicação, Cultura e Artes, variante Teatro

 

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