Linces-ibéricos vão ter um “jardim zoológico especial” na serra de Silves

Não será um jardim zoológico, daqueles com jaulas e espaços pequenos, mas antes um «cercado naturalizado demonstrativo». Este espaço, a […]

Lince AZAHAR_MAOTE_2Não será um jardim zoológico, daqueles com jaulas e espaços pequenos, mas antes um «cercado naturalizado demonstrativo». Este espaço, a criar na serra de Silves, em terrenos da Mata Nacional da Herdade da Parra e da empresa Natura XXI (Grupo Pestana), permitirá ao grande público ver de perto e ao vivo exemplares de lince-ibérico em cativeiro.

Os animais a colocar neste grande cercado serão os que, depois de criados no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, situado na mesma zona, não puderem ser libertados na Natureza.

Este é um dos principais projetos previstos no protocolo de colaboração do projeto Nova Serra, assinado na sexta-feira passada, na Quinta Pedagógica de Silves, tendo como intervenientes os Municípios de Silves e de Monchique, o Instituto do Conservação da Natureza e Florestas, a empresa Águas do Algarve, Agência de Desenvolvimento do Barlavento e Natura XXI (Grupo Pestana). O objetivo genérico é promover o turismo de natureza e a educação ambiental «enquanto instrumentos da política de conservação da biodiversidade em áreas classificadas».

Além da criação do cercado naturalizado, onde o grande público vai poder observar os animais, as ações previstas passam também pela criação de um Centro Interpretativo do Lince-ibérico na encosta norte do Castelo de Silves.

Tudo para que, quem se interessa pela conservação da natureza e por este felino que já foi considerado o mais ameaçado de extinção em todo o mundo, possa fazer, no concelho de Silves, todo um roteiro à volta do lince, começando no Centro Interpretativo, na cidade, passando pelo miradouro no meio da serra de onde se avistam os animais que estão a ser criados no Centro de Reprodução Nacional do Lince-Ibérico, e visitando ainda o cercado onde estarão os exemplares que os técnicos considerarem que não têm condições para ser libertados na natureza.

O miradouro na serra de onde se observa o Centro de Reprodução do Lince-Ibérico
O miradouro na serra de onde se observa o Centro de Reprodução do Lince-Ibérico

As ações previstas no protocolo Nova Serra passam igualmente por promover a adaptação e a utilização da Mata Nacional da Herdade da Parra e de propriedades da Natura XXI (Grupo Pestana), que com ela confinam, para a promoção do Turismo de Natureza no Algarve, nos concelhos de Silves e Monchique.

Ao que o Sul Informação apurou, esta utilização destes vastos espaços naturais na serra passa, por exemplo, pela criação de uma rede de percursos pedestres, marcados no terreno, e incluindo paragens para interpretação da natureza e da paisagem.

E porque serão necessários técnicos especializados para dar apoio aos visitantes, outras iniciativas preveem a formação profissional de guias e animadores de Natureza.

Será ainda promovido o ordenamento e defesa dos espaços florestais da região, bem como a criação de uma marca que identifique o conjunto de atividades deste projeto e o local onde decorre.

Para gerir tudo isto, e de forma inovadora, entidades públicas e privadas – o Município de Silves, a Natura XXI (Grupo Pestana), a Águas do Algarve, o Município de Monchique e a Agência de Desenvolvimento do Barlavento – constituíram um consórcio, para promover e dinamizar as diversas ações. O ICNF dará o apoio institucional. Como foi salientado na sessão oficial, o protocolo resulta de meia dúzia de anos de trabalho, para definir uma estratégia e iniciativas a ser levadas a cabo por esse consórcio.

Rosa Palma, presidente da Câmara de Silves, disse, durante a assinatura do protocolo, que «o grande objetivo é trazer turistas à serra». «Vamos ter de trabalhar todos em conjunto para dar vida à serra e mostrar que há aqui muito potencial para um turismo ligado à natureza».

Paula Sarmento, presidente do ICNF, por seu lado, sublinhou a vertente «da conservação da natureza e das florestas como pilar da economia nacional». «Há condicionantes nestas zonas, mas essas condicionantes devem ser vistas como um fator fundamental para gerar mais economia, mais riqueza». É que, acrescentou, «há muita gente que paga muito dinheiro para usufruir da natureza».

Voltando-se para Pedro Lopes, administrador do Grupo Pestana no Algarve, a presidente do ICNF disse: «certamente que os clientes dos hotéis Pestana gostariam de ter na sua mesa de pequeno almoço uma tacinha de medronhos».

A participação deste grupo hoteleiro no projeto Nova Serra é, talvez, a vertente mais inovadora. Pedro Lopes salientou o trabalho que o Grupo Pestana já faz, oferecendo aos seus clientes a possibilidade de experimentarem atividades de turismo de Natureza no Algarve. E sublinhou: «os nossos clientes gostam de levar para casa os produtos locais».

Protocolo Nova Serra_04
Assinatura do protocolo do projeto Nova Serra na Quinta Pedagógica de Silves

Aliás, uma das iniciativas a promover passa pela criação de marca que identifique os produtos provenientes desta Nova Serra (mel, ervas aromáticas, chás, medronho em fruto, aguardentes e licores, artesanato, entre muitos outros), mas, sobretudo pela criação de locais onde os visitantes possam ver como esses produtos são produzidos e os possam comprar. Assim, o roteiro pela serra incluirá uma destilaria de aguardente de medronho já em funcionamento, mas também uma melaria e uma olaria.

Na Quinta Pedagógica da Serra de Silves, será criada uma zona de receção para apoio às atividades dos visitantes e para venda dos produtos locais (alimentares e artesanais).

O projeto será promovido pelo consórcio ao longo dos próximos cinco anos e passa, portanto, pelo desenvolvimento e comercialização de produtos de turismo de natureza (observação de fauna e flora, passeios pedestres), em pacotes que incluem alojamento nas unidades hoteleiras que já existem.

O objetivo é atrair ao Algarve, e a esta zona interior em especial, turistas vindos dos principais mercados emissores, mas que não sejam, propriamente, visitantes especializados no turismo de natureza. Tendo em conta que, no Algarve, em especial no interior serrano, a natureza é para ser observada na chamada época baixa do turismo balnear, esta oferta complementar contribuirá, assim, para atenuar a sazonalidade.

Estes novos produtos serão desenvolvidos nas serras de Silves e Monchique, num território que inclui uma zona classificada da Rede Natura 2000 (SIC e ZPE de Monchique) e a albufeira de Odelouca, numa área de cerca de 50 quilómetros quadrados.

Para demonstrar bem o potencial da serra para um novo turismo mais ligado às coisas da terra, a assinatura do protocolo terminou com um autêntico banquete cheio de delícias serranas, confecionado pelos funcionárias da Quinta Pedagógica de Silves. Houve quem lamentasse ter almoçado antes de ir para ali…

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

 

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