«Só quero que paguem o que me devem pelo meu trabalho»

«Só quero que paguem o que me devem pelo meu trabalho». É assim que Marilu Santana, a trabalhadora que esta […]

Marilu Santana acorrentada pela cintura às escadas
Marilu Santana acorrentada pela cintura às escadas

«Só quero que paguem o que me devem pelo meu trabalho». É assim que Marilu Santana, a trabalhadora que esta manhã se acorrentou às escadas interiores do Clube Praia da Rocha, explica o seu protesto.

«A mim, o patrão deve-me 3000 mil euros, ao meu filho são mais 1800 euros. Nós trabalhámos para ganhar esse dinheiro e não há direito que agora não nos paguem», explicou a antiga trabalhadora daquele resort da Praia da Rocha, em declarações ao Sul Informação, por telemóvel e através do vidro, uma vez que a PSP não autorizou que a repórter se aproximasse da senhora.

Marilu Santos é apenas uma dos cerca de trinta funcionários do Clube Praia da Rocha,  que terminaram os seus contratos em Outubro de 2014, tendo a empresa gestora, a Green Stairs, ficado a dever-lhes metade do mês de Agosto, a totalidade dos de Setembro e Outubro, bem como subsídios e compensações.

Depois de se ter acorrentado cerca das 11 horas de hoje às guardas metálicas de umas escadas de serviço interiores, que têm vista para o exterior, através de um grande vidro, Marilu Santos garantiu, nas suas declarações ao Sul Informação, que só sai dali «ou quando tiver o dinheiro na minha conta, ou quando a PSP me vier expulsar daqui, se o administrador Paulo Martins formalizar uma queixa. Até que uma dessas duas coisas aconteça, eu fico aqui!».

Alguns dos colegas de Marilu Santana solidários com o protesto
Alguns dos colegas de Marilu Santana solidários com o protesto

Ao que o nosso jornal apurou, se a administração do Clube Praia da Rocha formalizar uma queixa junto da PSP, esta força policial já terá poderes para obrigar a senhora a sair e terminar o protesto.

A trabalhadora é acompanhada no local, frente à janela de vidro, mas no exterior do edifício, por cerca de dezena e meia de colegas que, como ela, continuam à espera que a Green Stairs lhes pague os salários em atraso.

Uma das colegas chegou a conseguir entrar e foi falar com Marilu, na presença de um graduado da PSP, que tentava convencer a trabalhadora a dar por findo o seu protesto.

João Brás é um dos funcionários com salários em atraso, solidário com Marilu. «A mim devem-me dois meses e meio, duodécimos, subsídio de cessação de contrato, mais férias trabalhadas», contou.

«Quando terminámos os contratos, em Outubro, o administrador da empresa Paulo Martins, que é quem sempre tem dado a cara, disse-nos que pagava quando pudesse e se pudesse. Desde aí, tem-nos feito várias falsas promessas, por isso já não é a primeira vez que nos reunimos aqui e que protestamos», acrescentou.

Outra funcionária, que não quis dizer o nome, revelou que o administrador terá prometido a alguns dos seus colegas «que pagava um mês se eles viessem trabalhar e o resto logo se via». É que, apesar de ter esta situação de salários em atraso, a empresa Green Stairs contratou novos funcionários para a época de 2015, tendo reaberto hoje as portas do Clube Praia da Rocha, depois do encerramento no Inverno.

«Isto, se houvesse justiça, devia ser: não paga o que deve, não abre as portas! Assim, vão fazer a estas pessoas que contrataram agora o mesmo que nos fizeram a nós. Será que as autoridades não veem o que aqui se passa?», disse ainda.

Colegas de Marilu tapam o vidro para lhe dar privacidade
Colegas de Marilu tapam o vidro para lhe dar privacidade

Entre as três dezenas de trabalhadores afetados pela situação, há já situações dramáticas. O subsídio de desemprego é de pouco mais de 300 euros e há mães sozinhas, com filhos, a quem esse dinheiro não chega nem para pagar a casa. «Todos os meses tenho que pensar se pago as coisas do apartamento ou se dou de comer aos meus filhos», contou uma funcionária.

Na semana passada, uma delegação de trabalhadores, acompanhados por Tiago Jacinto, coordenador regional do Algarve do Sindicato dos Trabalhadores da Hotelaria, manteve uma reunião com a presidente da Câmara de Portimão. Isilda Gomes informou que a autarquia poderia apoiar através do seu Departamento de Ação Social, sugestão que foi aproveitada por algumas das pessoas em situação mais difícil. «Fomos lá logo no dia seguinte, mas já se passou mais de uma semana e ainda não nos disseram nada», lamentou uma trabalhadora.

A meio da tarde, surgiu uma situação que quase fez abortar o protesto de Marilu Santana. Depois de estar tantas horas acorrentada à escada, a senhora precisava de…ir à casa de banho. Mas a PSP não aceitou que a manifestante fosse substituída por uma colega, pelo que teve de desenrascar-se ali mesmo, usando um saco de plástico que tinha na carteira, enquanto os colegas, de costas, tapavam com as faixas do sindicato a vista através do vidro. Os próprios agentes da PSP também viraram costas, para dar alguma privacidade.

Resolvida a situação difícil, os colegas bateram palmas. E Marilu Santana, lá continuou o seu protesto, acorrentada pela cintura às guardas metálicas das escadas. Cá fora, os colegas preparavam-se para continuar a apoiá-la e havia já quem estivesse a chamar as famílias, para se juntarem à ação de luta.

O Sul Informação tentou falar com Paulo Martins, mas o administrador da Green Stairs, empresa gestora dos apartamentos turísticos do Clube Praia da Rocha, mandou dizer que estava demasiado ocupado para prestar esclarecimentos.

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