A 12 de Novembro, vamos pela primeira vez “tocar” um cometa

Estamos hoje na véspera de assistir a mais uma grandiosa realização da inteligência humana: já não esperamos que um cometa […]

Philae_on_the_comet_Front_viewEstamos hoje na véspera de assistir a mais uma grandiosa realização da inteligência humana: já não esperamos que um cometa nos visite, pelo contrário, vamos ao seu encontro para o compreender intimamente.

Esta quarta-feira, dia 12 de novembro, um pequeno robô cúbico chamado Philae, com não mais de 100 quilos de peso, vai pousar sobre um local meticulosamente escolhido do cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko. Vamos poder assistir à primeira “acometagem” da história da humanidade.

O cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko foi descoberto em 1969 quando Klim Churyumov examinava fotos de regiões do espaço feitas por Svetlana Gerasimenko. Percebe-se assim o nome deste astro.

Depois disso, este cometa foi confirmado e observado várias vezes por astrónomos aquando da sua aproximação à Terra e ao Sol. Sabe-se que tem atualmente um período orbital de 6,45 anos e que viaja a uma velocidade de cerca de 18 km/s.

Philae é o nome de uma ilha do delta do rio Nilo que contém um obelisco onde foi encontrada uma inscrição bilíngue (grego e hieróglifos egípcios), que incluía os nomes de Cleópatra e de Ptolomeu.

Esta inscrição forneceu ao historiador francês Jean-François Champollion as últimas informações necessárias que lhe permitiram decifrar a antiga escrita egípcia que estava encriptada na Pedra de Rosetta.

RosettaO módulo Philae foi transportado até ao cometa durante dez anos no ventre da sonda Rosetta, da Agência Espacial Europeia, a qual se encontra agora a orbitar aquele astro a uma distância de cerca de 20 quilómetros. É esta distância que Philae percorrerá em queda livre e em direção à superfície do cometa. Essa viagem, que começara às 10h00 (CET) da manhã de dia 12 de Novembro, demorará sete horas.

Assim que poisar e se fixar na superfície, Philae, que é um autêntico laboratório físico e químico com 10 instrumentos científicos, iniciará diversas experiências analíticas sobre a natureza do cometa.

Não faltarão também as imagens panorâmicas da superfície do 67P/Churyumov-Gerasimenko. E, provavelmente, até poderemos ver a Terra a partir de um cometa!

É grande a importância desta missão científica de exploração: as análises a efetuar pela Philae poderão confirmar ou refutar as teorias sobre a composição inicial do sistema solar que nos deu origem.

É também um grande momento para a ciência e engenharia espaciais, para o engenho humano que consegue colocar um objeto tecnológico complexo num pequeno astro em movimento.

Os cometas são anteriores à formação do planeta Terra. Durante milhares de milhões de anos, antes da nossa espécie se erguer para o espaço, os cometas sempre cruzaram e embelezaram os céus. Mais tarde, também despertaram a curiosidade que nos iria conduzir à ciência.

Os cometas, como escreveu Carl Sagan num livro lindíssimo sobre estes astros (que a Gradiva reeditou recentemente entre nós), “são as neves de outrora, os despojos primitivos da criação do sistema solar, gelos expectantes nas trevas interestelares”.

O módulo Philae no núcleo do cometa
O módulo Philae no núcleo do cometa

Durante milhares de anos, na escuridão dos céus e do nosso conhecimento, a visita dos cometas incendiou a retina e milhões de sinapses neuronais, o que fertilizou a imaginação humana, criou mitos, previu a sorte ou o infortúnio, anunciou o nascimento ou a morte de imperadores, foi expressão de um juízo divino a guiar os nossos destinos.

A observação sistemática da abóbada deslumbrante permitiu registar uma regularidade frequente no aparecimento dos cometas. Progressivamente, e com ciência, compreendemos melhor a natureza destes astros. O conhecimento substituiu o medo, o terror deu lugar a um outro deslumbramento.

Passámos a esperar o regresso destes corpos gelados, relíquias do passado que é a nossa história, fósseis astronómicos que nos podem ensinar como é que o sistema solar se gerou. As nossas teorias científicas precisam de ser comprovadas experimentalmente. E, assim que a ciência e a tecnologia permitiram, passámos a enviar sondas para os observar o mais próximo possível e para os analisarmos experimentalmente.

Os nomes, Rosetta e Philae, com que foram batizados os elementos desta missão espacial, representam o espírito científico de exploração e de decifração da informação que nos permitirá reconstituir os momentos primordiais da formação do nosso lar cósmico.

Tocar nas poeiras estelares que levaram, por último, à evolução da nossa espécie, da inteligência que compreende e se maravilha com o próprio Cosmos.

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