Quarto navio já foi ao fundo, apesar das partidas do Levante

O tempo de sueste que se levantou estragou as contas e foi assim que só 56 minutos depois da hora […]

O tempo de sueste que se levantou estragou as contas e foi assim que só 56 minutos depois da hora inicial prevista, às 13h56, o antigo navio oceanográfico «Almeida Carvalho» sofreu as explosões controladas que o iriam levar até ao fundo do mar, para integrar o parque subaquático «Ocean Revival», cerca de três milhas ao largo da praia de Alvor.

Apesar do atraso, a operação foi «um sucesso», garantiu Alberto Braz, coordenador operacional do projeto «Ocean Revival», e o «Almeida Carvalho» já repousa tranquilamente no fundo do mar, entre dois dos outros navios também imersos de propósito, a antiga corveta «Oliveira e Carmo» e a ex-fragata «Hermenegildo Capelo».

Tendo em conta as características do antigo navio de pesquisas oceanográficas, as aberturas no costado para, uma vez no fundo do mar, permitir as entradas e saídas dos mergulhadores, foram feitas bastante mais abaixo, mais próximo da linha de água, que nas embarcações anteriores.

Placas de contraplacado a voar, após as primeiras explosões no navio

Ora, com o Levante e a ondulação de cerca de um metro que se levantou, havia o perigo de a água entrar por aquelas aberturas e o barco afundar-se antes do tempo e do local previsto, durante o transporte entre o porto de Portimão e o local previsto de afundamento. Por isso, desta vez houve necessidade de tapar as aberturas inferiores com placas de contraplacado marítimo e de reajustar as cargas de explosivo.

No momento das explosões, as placas de contraplacado voaram pelos ares, mas foram depois prontamente recolhidas por dois barcos do projeto «Ocean Revival».

Alberto Braz explicou ainda aos jornalistas que «as características do mar e da maré obrigaram-nos a sair duas horas mais tarde do porto de Portimão, às 10h00 da manhã. Mas foi um pequeno atraso calculado».

O navio começa a afundar-se, com a proa primeiro

Houve ainda uma série de «coisas anormais» a acontecer, como «cabos que rebentaram» ou «ganchos dos rebocadores que se abriram», além de que, dentro do navio, as últimas operações, nomeadamente a colocação dos detonadores nos explosivos, foram feitas em condições «mais difíceis».

No fim, apesar das duas horas de atraso na saída do porto, o afundamento acabou por ocorrer apenas 56 minutos após a hora prevista e tudo correu bem, com a proa do «Almeida Carvalho» a afundar-se primeiro e a proa depois, tal como era pretendido. Em 1 minuto e 2 segundos, o navio submergiu. Logo depois, os mergulhadores da marinha verificaram as condições e garantiram que a operação tinha corrido na perfeição.

Duas horas depois, cinco mergulhadores, sorteados entre os mecenas que têm apoiado o projeto, fizeram o primeiro mergulho. E assim chegou ao fim a saga do afundamento dos antigos navios da Marinha, doados ao projeto «Ocean Revival» para criar, no Algarve, um parque de turismo subaquático pioneiro a nível mundial.

 

E agora talvez o submarino «Delfim»

 

Três dezenas de barcos de recreio e turísticos assistiram de perto ao último afundamentoO navio oceanográfico foi a quarta embarcação da Marinha Portuguesa a ser afundada para dar origem ao parque subaquático que pretende fomentar o turismo de mergulho no Algarve, mas, contrariamente ao que foi anunciado, talvez não seja a última.

Luís Sá Couto, da empresa Subnauta, grande mentor e financiador do projeto «Ocean Revival», admitiu, em declarações aos jornalistas, a «possibilidade» de haver ainda uma quinta embarcação a ser imersa naquele local, o submarino «Delfim». «O Delfim deverá ir para Viana do Castelo, mas ainda não perdi a esperança de que possa vir para aqui», disse o empresário.

Haja ou não uma quinta embarcação afundada, a primeira fase do projeto está completa, com a submersão propositada de quatro navios da Marinha. E agora o que se segue? «Agora é promover, promover, promover!», garante Luís Sá Couto, chamando a atenção para a necessidade de fazer a promoção deste novo produto turístico a nível internacional, em especial nos mercados do «Norte da Europa, Escandinávia, Alemanha, Inglaterra, Irlanda».

Os primeiros passos para esta promoção turística internacional já começaram: a Associação Turismo do Algarve trouxe à região, para acompanhar o afundamento da última embarcação, jornalistas da publicação holandesa «Duiken» e representantes do operador turístico britânico especializado «Oonasdivers».

Luís Sá Couto revelou que, desde a imersão dos dois primeiros navios, em 30 de outubro do ano passado, e em pouco mais de oito meses, só a sua empresa fez mais 4500 mergulhos. «E quase não fizemos nenhum esforço promocional».

O objetivo do investimento, disse o empresário, é que, dentro de dez anos, «o Algarve receba 90 a 100 mil mergulhos por ano».

«Em relação a outros destinos de mergulho, o Algarve não tem as suas águas transparentes e quentes, mas tem coisas igualmente muito importantes, como a segurança, a simpatia das pessoas, a gastronomia. O Algarve é um destino para toda a família. O mergulhador sabe que pode vir para cá com a família, porque há outras coisas para fazer além do mergulho. E esta é a nossa vantagem competitiva em relação a outros mercados».

 

Algarve tem oferta diversificada para o turismo de mergulho

 

E lá foi ao fundo o «Almeida Carvalho»

Depois, acrescentou, além do parque subaquático «Ocean Revival», agora dotado com os quatro antigos navios da Marinha Portuguesa – a corveta «Oliveira e Carmo», o patrulha «Zambeze», a fragata «Hermenegildo Capelo», e o navio oceanográfico «Almeida Carvalho» – a costa algarvia tem muitos outros pontos de interesse para os mergulhadores, como as mais de 150 espécies de coloridos nudibrânquios (lesmas-do-mar), que fazem as delícias dos fotógrafos subaquáticos, os vestígios da Batalha de Lagos no século XVIII, os quatro navios afundados durante a I Guerra Mundial.

«Temos todas as condições, agora há que explorar, tirar partido e, sobretudo, promover, promover, promover», frisou Luís Sá Couto.

Desde a génese da ideia até à imersão do «Almeida Carvalho», passaram perto de sete anos «e três governos». Foi preciso um investimento de 2,5 milhões de euros, gastos sobretudo na preparação dos navios, que foram despidos de tudo o que pudesse representar perigo de contaminação ou poluição dos mares, nomeadamente amiantos, PCB e hidrocarbonetos.

E quando ficará este investimento pago? «O retorno deste investimento não é para mim, não é para a minha empresa em particular, mas para a comunidade», garantiu Luís Sá Couto.

«Almeida Carvalho», antes do afundamento, com o navio de cruzeiros «Mistral» ao fundo

Neste que deverá ter sido o dia do último afundamento de um navio no parque «Ocean Revival», operação suscitou a curiosidade de muita gente. Além dos convidados que assistiram em terra ao momento, na base de operações do Hotel Alvor, cerca de três dezenas de barcos de recreio e turísticos rodearam o navio, fora do perímetro de segurança mantido pelas embarcações da Marinha, para assistir ao momento da explosões e ao rápido afundamento.

Em terra, sobretudo na Prainha e em Alvor, dezenas de pessoas acompanham também. E no mar, um pouco mais longe, o paquete «Mistral», que, pelas suas dimensões, não pôde entrar no porto de Portimão e se manteve ao largo, ofereceu igualmente aos seus passageiros este inesperado espetáculo.

 

Veja aqui todas as fotos do afundamento do navio hidrográfico «Almeida Carvalho».

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