Transferir tecnologia também se faz promovendo diálogo entre investigadores e empresas

Às vezes, basta colocar as pessoas certas a falar entre elas para potenciar o conhecimento produzido por uns, através da […]

Às vezes, basta colocar as pessoas certas a falar entre elas para potenciar o conhecimento produzido por uns, através da resolução de problemas de outros. A sessão dedicada ao tema «Mar: Gestão Costeira, Tecnologias Marinhas e Recursos» do «Inovar Algarve» foi um bom exemplo daquilo que o evento em que se inseriu procurou fazer: promover a transferência de tecnologia da Universidade do Algarve (UAlg) para o tecido empresarial.

Apesar de ter havido pouco tempo para um diálogo aberto antes de a sessão terminar e após as apresentações dos convidados, foi possível perceber o que há a ganhar com este tipo de reuniões.

Na conversa, o representante da Companhia de Pescarias do Algarve (CPA) levantou um problema logístico com que a empresa se debate, ligado às cascas de bivalves que sobram da produção. Depressa surgiram diversas sugestões da parte de outros participantes de possíveis formas de solucionar o problema ou indicações de quem trabalha nessa área.

De certa forma, pode ver-se nesta curta troca de impressões um potencial embrião para a transferência de tecnologia da universidade para as empresas. Ou seja, a indústria tem um problema específico, passível de ser resolvido através do corpo de investigadores da UAlg, com experiência prévia e muitos contactos neste campo.

A CPA foi uma das empresas presentes na sessão, que contou ainda com representantes da Necton, Marsensing, Sea Pulse e Caviar Portugal. E se as três primeiras estão já no mercado, as duas últimas estão em fase de lançamento.

No caso da Sea Pulse, uma empresa spin-off do CIMA, estão a ser dados os primeiros passos naquela que pretende ser, acima de tudo, uma estrutura intermédia entre «o conhecimento desenvolvido na universidade e o mercado», segundo um dos seus fundadores João Janeiro.

A empresa trabalha em diversas áreas e um dos produtos que está a desenvolver, em conjunto com a Maralgarve, é uma ferramenta online que permitirá integrar a previsão das condições do mar com as previsões meteorológicas. Entre outras potencialidades, este serviço indicará onde os pescadores terão mais possibilidades de encontrar pescado.

Encontrar o peixe não será uma questão para os promotores da Caviar Portugal. Aqui, o problema é mesmo o investimento inicial para avançar com a produção de esturjão em aquacultura indoor. O enfoque irá, naturalmente, para a produção de caviar, mas também para o aproveitamento da carne deste peixe.

Apesar do forte investimento inicial necessário, as perspetivas de crescimento do negócio são elevadas. «Hoje em dia, um quilo de caviar vale mil dólares no mercado», revelou Paulo Pedro, que se juntou a um ex-aquacultor ucraniano com 12 anos de experiência na produção deste peixe. Uma vez que se trata de uma espécie protegida, não se preveem grandes oscilações no valor de mercado das suas ovas.

Já a CPA, a Necton e a Marsensing estão numa fase mais avançada, com produtos e serviços âncora já bem tipificados. Em todos os casos, há uma forte componente de exportação de bens e serviços.

 

Ideias há, mas por vezes falta o investimento

Ideias e tecnologia que pode ser aproveitada pelo tecido empresarial existem, muitas vezes falta é quem invista nelas. Os exemplos de investigações em curso com potencial económico são muitos, mas nem sempre há quem esteja interessado em levá-las para o mercado.

Na sessão do «Inovar Algarve» foram divulgadas algumas destas ideias. Cavalos marinhos produzidos em cativeiro, com valor de mercado entre os 50 e os 100 euros de por unidade, aditivos gourmet para ração de peixe de aquacultura ou o melhoramento de espécies para produção através do estudo do seu genoma e da sua sequenciação são exemplos.

Em quase todos estes casos, as linhas de investigação que ainda estão em curso já permitiram o lançamento de spin-off.

No caso do CCMAR, as rações de peixe ainda não são aromatizadas com essência do alimento favorito dos peixes que se estão a criar em aquacultura, mas já existe a Sparos, empresa que nasceu no seio deste centro de investigação e se dedica, precisamente, à produção de rações para pisciculturas.

No que ao genoma dos peixes diz respeito, apesar de este ser, como frisou a investigadora Deborah Power, um processo moroso, já está em fase de lançamento a empresa Sharebiotec. E no caso dos cavalos marinhos, ainda haverá que estabilizar o método de criação em cativeiro destes frágeis seres vivos, algo que está agora a ser conseguido pelos investigadores do projeto Sea Horse e que abre grandes possibilidades para o futuro.

O CCMAR, que levou quatro projetos à sessão do «Inovar Algarve» dedicada ao Mar, espera ainda interessados na tecnologia que desenvolveu de biofiltração, onde as algas são usadas como alternativa a antibióticos na piscicultura. Até já foi desenvolvido um sistema de filtração biológico com algas de espécies que têm valor comercial além desta função, mas a industria não se terá mostrado interessada.

Na sessão também foi possível conhecer um caso de transferência de tecnologia em curso, o da investigação em Modelação Costeira levado a cabo pelo CIMA e a spin-off Sea Pulse deste centro de investigação, que está a usar os modelos desenvolvidos neste projeto de investigação para os colocar aos serviço da economia.

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