É preciso regionalizar o ensino da geologia

A geologia, já o tenho afirmado e não é demais repetir, não pode deixar de ter uma dimensão cultural ao […]

A geologia, já o tenho afirmado e não é demais repetir, não pode deixar de ter uma dimensão cultural ao dispor de toda a gente.

Os professores devem ter consciência desta realidade quando se dirigem aos seus alunos. Não estão só a fornecer bases para eventuais profissionais em geologia (sempre raros ou inexistentes numa qualquer turma escolar), estão, sobretudo e na maioria dos casos, a formar cidadãos para quem essas bases são fundamentais em termos de preparação global.

Assim, o ensino do programa oficial deverá ser tornado atraente com elementos culturais ligados ao quotidiano dos alunos.

As amarras do programa oficial e o obediente e acrítico manual escolar contrariam qualquer ação dos bons professores, no que toca o ensino vivo da disciplina.

Porque não um programa mais flexível? Um programa que deixe, por exemplo, às escolas dos Açores ensinar vulcanismo a sério, sabendo-se como se sabe que qualquer das ilhas é um laboratório rico de extrema utilidade pedagógica, completamente desaproveitado.

Um programa que permita aos professores do continente fomentar o gosto por este tipo de saber, iniciando os alunos na geologia da sua própria região: as Serras de Sintra e da Arrábida e toda a sua riquíssima diversidade geológica, os granitos e os xistos no norte do país, as pirites e as sequências de rochas vulcânicas e sedimentares da Faixa Piritosa e os mármores do triângulo Estremoz-Borba-Vila Viçosa.

E porque não ligar estes conhecimentos às nossas origens como território e à sucessiva ocupação deste por outros povos e civilizações, em busca do sílex, do ouro, do cobre, do estanho? Do sílex intercalado nos calcários do Cretácico (Cenomaniano) da região de Lisboa, ao urânio da Urgeiriça, à hipótese de ouro no Alentejo e de petróleo em Torres Vedras, se há domínios científicos onde a regionalização faz sentido, a geologia é, certamente, um deles.

Deveria dar-se às escolas e aos professores desta disciplina liberdade e tempo curricular para, em cada local e em cada oportunidade, escolherem a melhor via formativa, o que não exclui a obrigatoriedade de cumprir um programa mínimo, criteriosamente escolhido, por quem tenha competência, não só pedagógica, mas também científica, e cultural para o fazer.

 

Autor: A.M. Galopim de Carvalho
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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