Sagres é projeto «estratégico» mas não se sabe quando haverá dinheiro para a 2ª fase

A requalificação da Fortaleza de Sagres é um projeto «estratégico» para o país e, embora não haja ainda garantia de […]

A requalificação da Fortaleza de Sagres é um projeto «estratégico» para o país e, embora não haja ainda garantia de financiamento da sua 2ª fase, há pelo menos a certeza do empenhamento do secretário de Estado da Cultura.

Francisco José Viegas admitiu quarta-feira, em Sagres, que ainda não estão garantidos os perto de quatro milhões de euros necessários para avançar com a 2ª fase do projeto de requalificação daquele monumento nacional, mas manifestou confiança em que, após a reprogramação da comparticipação portuguesa nos fundos comunitários, aquela intervenção obterá a aprovação do Ministério das Finanças.

«Logo que tenhamos essa aprovação, a 2ª fase avançará», garantiu o secretário de Estado da Cultura em declarações ao Sul Informação. O secretário de Estado não se quis comprometer quanto a prazos, mas adiantou que será «o mais breve possível». A expectativa é que possa ser até 2014.

Francisco José Viegas esteve quarta-feira em Sagres, na Fortaleza, para a apresentação dos conteúdos previstos para o futuro Centro Expositivo, considerado como a peça mais importante da 2ª fase do projeto de requalificação iniciado em 2009.

O governante salientou ter «muito apreço por lugares mágicos como Sagres» e garantiu que este monumento será «um dos polos da rede de património que vamos lançar». Para isso, admitiu, é necessário completar as intervenções projetadas.

David Santos, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve e gestor das verbas do QREN na região, através do PO Algarve 21, lançou ao secretário de Estado «o desafio de fazer deste projeto sinónimo do renascimento de Portugal».

Por isso mesmo, o presidente da CCDRA disse esperar que a candidatura da 2ª fase da requalificação «seja uma realidade», acrescentando: «agrada-me este projeto, porque normalmente projetos desta envergadura não são promovidos nestas ultra-periferias», como Sagres.

Adelino Soares, presidente da Câmara de Vila do Bispo, manifestou a convicção de que «o projeto não vai assustar o senhor ministro das Finanças, porque é um projeto rentável por si só». «Sagres atrai 350 mil visitantes por ano, é o monumento mais visitado de todo o Algarve e dos mais populares no país. Se tivermos algo mais para oferecer, no Centro Expositivo, vai atrair ainda mais visitantes».

Dália Paulo, diretora regional de Cultura, já tinha salientado que «a 1ª fase da requalificação, que está praticamente concluída, só faz sentido se avançar a 2ª fase». Depois de décadas de abandono e de más decisões sobre um dos mais visitados monumentos nacionais do país, Dália Paulo considera que dar seguimento ao projeto de requalificação é «continuar o sonho de fazer com que Sagres volte a ser uma referência do turismo nacional e do Algarve».

 

1ª fase quase concluída, mas falta o resto

 

Com tantas boas vontades afirmadas, haverá, de facto, dinheiro para avançar com a 2ª fase do projeto de requalificação da Fortaleza de Sagres?

Para já, está quase concluída a 1ª fase, que incluiu 23 intervenções e ações diferentes, orçadas em 3,9 milhões de euros. As obras começaram em 2009, numa iniciativa conjunta dos ministérios da Economia e da Cultura, financiada pelo QREN/PO Algarve 21, pelo PIT (Programa Integrado de Turismo) e pelo PIPITAL (Programa de Investimento Público de Interesse Turístico para o Algarve, financiado por verbas do jogo), que garantiu a componente nacional.

Nesta 1ª fase, a intervenção teve a ver sobretudo com a reabilitação das muralhas da fortaleza e do torreão central, requalificação dos edifícios construídos na década de 90 e dos espaços exteriores do promontório.

Como recordou Dália Paulo, diretora regional de Cultura, esta intervenção no exterior, além de garantir melhores condições de acesso a pessoas com mobilidade reduzida (foi criada uma passadeira ao longo dos dois quilómetros do percurso), inclui ainda a criação de roteiros com informação sobre o património histórico, mas também sobre a rica, e em alguns casos única, flora e fauna.

Foi também concluída a iluminação cénica da chamada rosa-dos-ventos, criado um novo logotipo para a Fortaleza, bem como fardamento para os funcionários e merchandising.

Em fase de contratação, está a instalação da nova sinalética, do sistema de painéis fotovoltaicos para produção própria de energia, a empreitada de reabilitação das muralhas e da sua iluminação cénica.

 

Uma exposição muito sensorial

 

Da 1ª fase fez ainda parte a criação de um guião científico que servisse de base ao programa museológico e aos conteúdos do Centro Expositivo. Este guião foi coordenado por João Paulo Oliveira e Costa, do Centro de História de Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa.

A ideia é dotar a Fortaleza de Sagres, finalmente, de um espaço que forneça aos visitantes informação sobre a importância do monumento, da figura do Infante D. Henrique, dos Descobrimentos e do lugar de Portugal no meio de tudo isto.

Para lá da simples fruição do lugar, já de si atrativo enquanto paisagem carregada de história e de mitos, na sua vertente de finisterra, o objetivo é agora «complementar a experiência do lugar com a experiência dos conteúdos», como sublinhou o arqueólogo Rui Parreira, da Direção Regional de Cultura.

Por isso, a partir do guião científico, a equipa da empresa P-06, escolhida após concurso, desenvolveu um projeto para o Centro Expositivo, que será instalado num dos edifícios construídos nos anos 90, da autoria do arquiteto João Carreira, e popularmente conhecido por «armazém do bacalhau».

«As pessoas vêm a Sagres por Sagres em si, mas é evidente que a sua visita ficará enriquecida se lhes oferecermos conteúdos que expliquem a longa trajetória do sítio, deste Promontorium Sacrum», comentou Rui Parreira. Como disse Dália Paulo, «será um espaço que apelará a todos os nossos sentidos, transportando os visitantes até à época dos Descobrimentos». Mas não só.

A apresentação do que se prevê para o Centro Expositivo era, afinal de contas, a razão e pretexto para a visita do secretário de Estado da Cultura a Sagres.

E da apresentação se encarregou Nuno Gusmão, da P-06, que explicou que o que se pretendeu foi conceber «uma exposição, mas também algo muito sensorial, muito emocional».

Rui Parreira já tinha dito que «a solução apresentada pela P-06 pode ser fruída pelas famílias, pelos grupos, pode constituir uma mais valia para o turismo do Algarve, através da instalação de uma estrutura museológica que torne ainda mais apetecível vir a Sagres».

Não prevendo alterações de monta no edifício A, que encerra algumas dificuldades pela sua compartimentação interior, a exposição irá incluir conteúdos multimédia, mas também «outros efeitos que não são verdadeiramente multimédia, mas funcionam como tal». Serão efeitos mais ao nível da «cenografia e da luz», de «fácil manutenção», o que, sublinhou Nuno Gusmão, «é bom nestes tempos de crise».

É que, explicou, «a exposição poderá continuar por si só, mesmo que alguma coisa falhe no multimédia». «Tentámos ao máximo que o que vai ser criado sobrevivesse, até porque os conteúdos multimédia tornam-se obsoletos muito rapidamente». «A manutenção de tudo isto foi uma das nossas grandes preocupações», explicou Nuno Gusmão.

Além dos conteúdos multimédia e de todos estes elementos cenográficos e de luz, o projeto da P-06 prevê ainda a inclusão de peças originais.

As imagens do projeto, que os leitores do Sul Informação podem aqui ver em exclusivo, e a conceção geral dos conteúdos do Centro Expositivo recebeu os aplausos de todos quantos assistiram à apresentação. A ideia que fica é que o Centro Expositivo oferecerá, de facto, uma verdadeira viagem sensorial, uma imersão na história, nos mitos e no património de Sagres, local que o secretário de Estado da Cultura disse «despertar, como poucos em Portugal, uma verdadeira paixão».

 

Nota: Fotos de Armindo Vicente (apresentação), Elisabete Rodrigues (fortaleza) e P-06 (imagens do futuro Centro Expositivo)

 

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