Ricardo Clemente (PS) é o 4º vereador que garante maioria ao executivo de Rolo (PSD) em Albufeira

Cabeça de lista do PS às Autárquicas diz que se trata de «decisão pessoal»

Ricardo Clemente

Ricardo Clemente, que foi o cabeça de lista do PS à Câmara de Albufeira, é o 4º vereador que garante maioria ao executivo do presidente José Carlos Rolo (PSD). Foi o próprio que o confirmou em declarações exclusivas ao Sul Informação.

Expliquemos o que se passa: nas Eleições Autárquicas de 26 de Setembro, o social-democrata José Carlos Rolo ganhou a Câmara, mas sem maioria, uma vez que o PSD elegeu apenas 3 dos 7 lugares no executivo municipal. Os restantes ficaram para o PS (2), para o Movimento Independente Albufeira Primeiro, de Desidério Silva (1) e para o movimento Albufeira Prometida, de Abel Zua (1). Mesmo detendo a presidência, por ter sido a candidatura mais votada, se a oposição se unisse, Rolo pouco ou nada poderia fazer, tornando-se a Câmara de Albufeira ingovernável.

Por isso, logo na noite da tomada de posse o autarca anunciou ao Sul Informação que estava em negociações com «um eleito», sem adiantar qual. Contactados Desidério e Zua, chegou-se à conclusão de que não seria nenhum deles, pelo que só restava um vereador eleito pelos socialistas. O que agora se confirma.

Nas suas declarações ao nosso jornal, Ricardo Clemente disse que a aceitação deste lugar na vereação, com pelouros permanentes, é «uma decisão pessoal».

Quando, na noite das eleições, o cabeça de lista do PS voltou a perder a Câmara para o PSD, pela segunda vez, agora por uma diferença de 6,38% (986 votos), Ricardo Clemente disse ter pensado em «renunciar ao mandato». «Mas tive alguma pressão para não o fazer, por parte do responsável da concelhia local do PS», acrescentou.

Quando recebeu o primeiro contacto pela parte do social-democrata José Carlos Rolo para o sondar sobre a possibilidade de integrar o executivo permanente, «levei esse recado ao partido e manifestei a minha disponibilidade para aceitar». No entanto, como aliás seria de esperar, «gerou-se um mal estar» no PS albufeirense, que criou «um grupo de negociações com o PSD», para o qual não convidou Ricardo Clemente.

«Fizeram negociações nas minhas costas sem eu ter participado nelas. Então eu fui o candidato, dei a cara e depois deixam-me de fora? Isso dá-me o direito de tomar a decisão que tomei», sublinha.

Agora, Ricardo Clemente, que é militante do PS «há trinta anos», admite que irá sofrer sanções do partido, desde logo a «retirada de confiança política».

«A partir do momento em que sou atraiçoado dessa forma [pela Concelhia do PS], tenho o direito de tomar esta decisão», reforçou.

E porque razão aceitou então o lugar na vereação permanente? «Faço-o por Albufeira», para «impedir a instabilidade» que se viveria de outra forma na Câmara Municipal, explicou.

Ricardo Clemente vai ficar com os pelouros de Gestão Financeira, Concursos e Financiamentos, Polícia Municipal e Segurança, Espaços Verdes, Feiras e Mercados, Cemitérios e Toponímia.

Mas não se pense que este volte-face é inédito em Albufeira ou sequer que é exclusivo de um elemento do PS.

Jornal A Avezinha

 

Em 1997, o social-democrata Desidério Silva, quando concorreu pela primeira vez à Câmara de Albufeira, não ganhou, mas foi eleito vereador. Na altura, o executivo PS, liderado por Arsénio Catuna, não tinha maioria, já que apenas elegeu três vereadores, contra dois do CDS (então a segunda força mais votada) e outros dois do PSD.

O socialista Arsénio Catuna fez então um acordo com Desidério, que assumiu um lugar de vereador permanente, viabilizando o executivo. Desidério ficou com pelouros «importantes» como Urbanismo, Transportes e Saneamento, como noticiava o jornal local A Avezinha, em 1998 (ver notícia acima).

Ironia do destino: qual cavalo de Tróia, nas Eleições Autárquicas seguintes, em 2001, Desidério Silva, que conseguiu quatro mandatos para o PSD, derrotou Catuna, que apenas conseguiu três para o PS.

Agora, quase um quarto de século depois, os papéis invertem-se e é um vereador do PS a viabilizar um executivo minoritário do PSD. Veremos é quais as consequências nas próximas eleições de 2025…

 

 



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