Padre Cunha divulga carta ao Provedor da Misericórdia em defesa de Emanuel Sancho

Carta ao provedor foi tornada pública pelo próprio Padre Cunha Duarte

O padre José da Cunha Duarte, que foi o fundador do Museu do Traje de São Brás de Alportel, escreveu, no dia 1 de Novembro, uma carta ao provedor da Santa Casa da Misericórdia local, na qual defende Emanuel Sancho, suspenso do cargo de diretor daquela museu de forma polémica, como o Sul Informação noticiou, em primeira mão.

Emanuel Sancho, diretor do Museu do Traje, em São Brás de Alportel, foi suspenso a 23 de Setembro pela Santa Casa da Misericórdia, proprietária do espaço, e impedido de entrar nas instalações. Em causa, está uma transação de 50 mil euros que motivou duras críticas do museólogo. Na realidade, as más relações entre o provedor da Misericórdia e o diretor do Museu já começaram há anos.

Neste mais recente episódio, a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia reagiu à tomada de posição de Sancho sobre o alegado desvio para outros fins de 50 mil euros atribuídos pela Câmara Municipal ao Museu, considerando-as como «acusações injustas e desonestas», suspendendo-o do cargo e proibindo a sua entrada nas instalações.

Ora, na sua carta, à qual o Sul Informação teve acesso, e que está a circular em São Brás de Alportel, o Padre Cunha, sem rodeios, acusa o provedor Júlio Pereira de ter assistido «impávido e sereno à degradação da relação Misericórdia/Museu», sem nada fazer.

«Todas as tentativas de diálogo partiram do Museu mas aí tu trataste de as converter em episódios humilhantes. Desde a tua tomada de posse, em 2016, não convocaste uma única vez o Diretor do Museu para iniciarem um diálogo construtivo», acusa o antigo pároco de São Brás, de 84 anos, hoje a viver na sua terra natal de Penafiel. «Que dirigente és tu?», interroga, dirigindo-se ao provedor da Misericórdia.

«O Emanuel Sancho é irmão da Misericórdia, diretor do Museu e presidente da Casa da Cultura António Bentes», recorda o padre. «Lembro-me dos elogios que lhe fizeste nas reuniões da Mesa Administrativa pela sua boa administração e prestação de contas», acrescenta. Por isso, «quiseste que ele fosse o proponente da tua lista eleitoral. Ele não aceitou. Nunca mais lhe perdoaste», denuncia.

«Continuas a persegui-lo, ele que foi quem construiu o Museu e lhe deu nome a nível nacional e internacional», critica o Padre Cunha.

Recordando uma carta que escreveu ao provedor Júlio Pereira em 2021, quando começaram os conflitos públicos entre a Misericórdia e o diretor do Museu do Traje, o padre José da Cunha Duarte salienta que «desta vez entendi escrever-te novamente. Como infelizmente não aceitaste antes os meus conselhos, resolvi desta vez tornar pública a minha missiva».

Sem papas na língua, como é seu apanágio, o Padre Cunha acrescenta: «agora, não quero morrer sem denunciar o teu perfil moral que, na ânsia de uma ambição desmedida, te arvoras senhor de tudo sem olhar a meios. É uma vergonha o que se passou e ainda passa dentro desta Misericórdia. O medo e a delação tomaram conta da Instituição».

«Como membro da Irmandade desta Misericórdia, lanço um apelo a todos os membros, com vista a que se ponha fim a esta guerra fraticida, para bem de todos. Que o bom senso de todos os irmãos obrigue a Direção a mudar o seu rumo, sob pena da Assembleia Geral começar a pensar num novo Provedor», conclui a carta do padre José da Cunha Duarte.

Entretanto, a petição «É urgente salvar o Museu do Traje de São Brás de Alportel!» já leva 950 assinaturas online, e mais 200 em papel. Dirigida ao presidente da Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel, presidente da Câmara Municipal, Bispo do Algarve, presidente da União das Misericórdias Portuguesas, presidente da CCDR-Algarve e ainda à ministra da Cultura, a petição salienta que a «suspensão injustificada do diretor do Museu põe em risco um projeto com mais de 20 anos que muito dignifica São Brás de Alportel».

A petição pode ser lida e assinada aqui.

A situação de conflito no Museu do Traje de São Brás de Alportel já foi alvo de protestos por parte da Rede de Museus do Algarve, da APOM – Associação Portuguesa de Museologia e do PSD local.

Este domingo, também o novo líder do CDS/PP no Algarve considerou, em comunicado, que «o motor da cultura em São Brás de Alportel parou».

«Como presidente da Comissão Política Distrital do CDS-PP Algarve, não posso deixar de estar preocupado com a assunto exposto pelo presidente da nossa Comissão Política Concelhia do CDS-PP de São Brás de Alportel, Alexandre Guedes da Silva», exigindo «ações rápidas baseadas na coesão, transparência e comprometimento com a continuidade do trabalho».

«Salvar o Museu do Traje de São Brás de Alportel é fundamental para preservar a herança cultural e histórica da região», acrescenta Rodrigo Borges de Freitas.

Entretanto, apesar do mais recente conflito entre Emanuel Sancho, enquanto diretor do Museu do Traje, e o provedor Júlio Pereira ter na base um subsídio atribuído pela Câmara de São Brás de Alportel, os responsáveis municipais ainda não se pronunciaram publicamente sobre mais este caso.

 

Leia aqui a carta do Padre José da Cunha Duarte ao provedor na íntegra:

 

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