«O nosso esforço será sempre manter o bloco de partos de Portimão a funcionar, porque se justifica plenamente». A garantia é dada por Tiago Botelho, novo presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Algarve, em entrevista ao Sul Informação.
Questionado sobre a eventualidade do fecho do bloco de partos do hospital de Portimão, que foi sendo aventada nos anos mais recentes, o novo responsável pela entidade que junta hospitais e centros de saúde na região algarvia negou qualquer intenção de avançar com essa medida.
O hospital de Portimão, salientou Tiago Botelho em entrevista ao nosso jornal, «serve uma área residencial extensa de Sagres quase a Albufeira, e de Albufeira a São Marcos da Serra. É uma área que é, do ponto de vista geográfico, extensa, onde as acessibilidades são difíceis e, portanto, eu compreendo a inquietação de uma mãe ao vir de Aljezur para ter o seu parto».
A isso, acrescentou, «soma-se o facto de o hospital de Portimão ter uma área de bloco de partos bastante moderna, tem também uma sala cirúrgica dedicada, onde se podem, por exemplo, fazer as cesarianas, sem necessidade de usar o bloco operatório central».
Para o administrador da ULS do Algarve, é, por tudo isso, «difícil nós encararmos um encerramento do bloco de partos de Portimão, porque compreendemos tudo o que está em causa».
«Está em causa uma área geográfica grande, uma acessibilidade difícil para os residentes que têm de vir de mais longe, e está em causa um hospital moderno, com profissionais competentes, e, portanto, o nosso esforço será sempre manter o bloco de partos de Portimão a funcionar porque se justifica plenamente».
Tiago Botelho admitiu, porém, que tanto Portimão, como Faro, têm dificuldade em conseguir garantir o serviço de Pediatria, onde há, de facto, falhas.
«Temos uma certa dificuldade no número de especialistas em pediatria. Um bloco de partos, para funcionar 24 horas, necessita da presença física de um pediatra. Ao contrário daquilo que se passa na generalidade do país, onde há dificuldades nos blocos de partos, no Algarve o problema não está tanto na especialidade da obstetrícia, está mais na capacidade de alocarmos pediatra 24 horas aos dois blocos de partos», dos hospitais de Faro e de Portimão, explicou.
«Para se ter uma noção, nós temos aquilo que são necessidades de presença 24 horas na área da pediatria, temos uma urgência pediátrica em Faro, uma urgência pediátrica em Portimão, temos um bloco de partos em Portimão, um bloco de partos em Faro e ainda existe, a funcionar no hospital de Faro, uma unidade de cuidados intensivos neonatais».
Ou seja, «todas estas valências necessitam de um pediatra 24 horas. Ora, precisaríamos, pelo menos, de 20 pediatras no quadro que só fizessem isto: presença 24 horas em contínuo nestes serviços para os manter a funcionar».
Só que o número de especialistas no quadro da Unidade Local de Saúde do Algarve é bem menor: «temos apenas 14». E esses, além do que já foi referido, «ainda fazem o apoio ao internamento, as consultas do desenvolvimento pediátrico e as consultas, que são uma parte significativa e importante da atividade da pediatria».
Além disso, «destes 14 profissionais, só 9 têm ainda a idade ao abrigo da qual nós podemos vincular a pessoa obrigatoriamente a fazer serviço noturno e de urgência, o que significa uma limitação muito grande», sublinhou Tiago Botelho.
Nas palavras do presidente do Conselho de Administração da ULSAlg, «é natural que estas 14 pessoas do quadro façam muitas horas extraordinárias, façam muito trabalho para além daquilo que lhes competiria em situação normal», embora também se conte «com a colaboração de profissionais que vêm cá em regime de prestação de serviços».
O compromisso é que, garantindo o funcionamento da Pediatria em rede, entre Faro e Portimão, se mantenha «sempre a oferta disponível».
Mas o ideal, admitiu Tiago Botelho, «é que mantenhamos todos os serviços 24 horas a funcionar: as duas urgências pediátricas, os dois blocos de partos e a unidade de cuidados intensivos neonatais».
Nos últimos tempos, isso não tem sido possível, como o Sul Informação tem noticiado, numa situação que se prolonga já desde as administrações anteriores.
«Nós, quando chegámos, nesse mesmo dia, nesse minuto, tivemos de jogar mãos ao trabalho, porque, no dia a seguir à nossa entrada em funções, não existia urgência pediátrica no Algarve. Nem em Faro nem em Portimão. Portanto foi necessário chamar as pessoas, reunir esforços, entendermo-nos com os profissionais, perceber as dificuldades e chegar a um consenso para funcionamento. A realidade é que não fechou e, nesse dia, houve pediatria no Algarve. Até hoje, aliás, ainda não tivemos nenhum dia com urgência encerrada em toda na região e tendo que enviar doentes para Lisboa», disse o responsável.
Mas Tiago Botelho não deixa de apontar o dedo: «quando nos foi passada a pasta, nós tínhamos, desde essa data até 31 de dezembro, cerca de 50 turnos em que não havia pediatra assegurado, nem em Faro, nem em Portimão».
Daí para cá, em menos de um mês, revelou na sua entrevista ao Sul Informação, «tem sido feito um trabalho de arregimentar esforços, chamar pessoas, conversar com as pessoas, entender as dificuldades. E assim foi-se reduzindo o número, paulatinamente, de dias em que previsivelmente não haveria qualquer pediatra nos dois serviços de urgência».
Mas Tiago Botelho admitiu que, neste momento, «nem sequer consigo dizer, com 100% de segurança, que vamos ter a urgência pediátrica a funcionar até o final do ano, seja em Faro ou em Portimão».
Ou seja, repetiu, ««é muito provável que, até o fim do ano, existam outros dias em que só exista ou em Faro ou em Portimão».
E há mesmo o «risco relativo a um eventual fecho».
Mas a nova equipa que administra a ULSAlg diz não baixar os braços: «foi-nos passada uma escala, até o final do ano, com 50 buracos, que nós temos vindo a tentar tapar, o que, até agora, temos conseguido. Já passámos de 50 para 40, para 30, para 27, mas, neste momento, temos ainda alguns turnos para os quais não temos pediatra na urgência, mas que vamos ainda tentar resolver».
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