A Câmara de São Brás de Alportel garante que «todas as obrigações» da Santa Casa da Misericórdia estão a ser cumpridas e que o Museu do Traje continua «de portas abertas» e até a começar «novas atividades regulares». Esta é a primeira vez que a autarquia se expressa publicamente sobre o clima de mal estar entre a Misericórdia e Emanuel Sancho, diretor do Museu do Traje, que foi suspenso e que é alvo de um processo disciplinar.
A gota de água que levou a esta suspensão foi uma alegada decisão, da Misericórdia de São Brás de Alportel, de retirar 50 mil euros de um subsídio dado pela Câmara Municipal para financiar as atividades culturais.
O dinheiro terá sido destinado a custear outras despesas da Santa Casa, de acordo com Emanuel Sancho, algo que é negado pela Misericórdia, que é a entidade proprietária do Museu.
O caso tem levado a várias reações, nomeadamente do padre Cunha, fundador do Museu.
Agora, é a vez de a própria autarquia dar a sua versão, num comunicado enviado às redações.
A Câmara assume que, tal como é público, «tem estabelecido com a Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel protocolos de cooperação anuais, que foram devidamente aprovados pela Câmara Municipal e devidamente publicitados no sítio da Internet da autarquia».
Através desses protocolos, diz o executivo liderado por Vítor Guerreiro, é reconhecido o «carácter único e o elevado valor do trabalho desenvolvido pela Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel, nomeadamente no que concerne ao funcionamento do Museu do Traje, do qual é a legítima e exclusiva proprietária e administradora, assumindo a responsabilidade e o exigente investimento, para a salvaguarda, preservação e conhecimento deste património».
Mais: a autarquia diz que esse apoio só comparticipa, em cerca de 10%, os «custos que esta instituição suporta para garantir o funcionamento e a dinâmica do Museu do Traje, nomeadamente o desenvolvimento de um programa regular de atividades culturais, didáticas, recreativas e formativas, no âmbito da museologia, da investigação, da conservação de espólio, da publicação e divulgação nas áreas da etnografia, da música e das artes plásticas».
Nesta nota, a Câmara também enaltece o «significado investimento» que a Misericórdia faz todos os anos – «cerca de 120 mil euros» – para manter o funcionamento do Museu que se junta às mais de 10 outras «valências na área social» de apoio às famílias são-brasenses, «enquanto Instituição Particular de Segurança Social, com responsabilidades no apoio às crianças e jovens, aos seniores e a todos os cidadãos e agregados familiares, em situação de vulnerabilidade».
Assim, a autarquia garante que todas «as obrigações assumidas pela Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel em sede do referido protocolo de colaboração estão a ser cumpridas: o Museu do Traje mantém-se de porta aberta, mantém as suas atividades, não apenas no que à museologia diz respeito, mas também no que concerne à vasta programação cultural».
«Não há qualquer comunicação por parte da Misericórdia no sentido de pretender encerrar as suas portas ou eliminar alguma atividade ou dinâmica. Muito pelo contrário, o que nos é permitido saber é que, nas últimas semanas, têm sido inclusivamente iniciadas novas atividades regulares, mantidos os eventos e grupos; e as respostas a pedidos de utilização de espaço têm sido positivas, mantendo o Museu a sua prática de acolhimento das dinâmicas da comunidade multicultural», acrescenta.
O executivo municipal rejeita todas as críticas e acusações de que têm sido alvo, «quando determinadas declarações provindas de outros eleitos locais parecem fazer crer que cabem às autarquias ou aos seus responsáveis funções ou competências que não lhes assistem».
Aliás, a edilidade garante que «os elementos do executivo que têm responsabilidades na área da cultura e do património empenham-se no trabalho em parceria desenvolvido com o Museu nesta área e têm tido uma atitude proativa, mediadora e construtiva, promovendo inclusivamente reuniões e iniciativas, envolvendo a direção e equipa do Museu como também o Grupo de Amigos do Museu, a quem cabe a dinâmica cultural, procurando sempre ser mediadores e construções de pontes e equilíbrios».
Nesta nota, a Câmara de São Brás diz ainda lamentar toda a situação, esperando que «se normalize o mais rapidamente possível», louvando o papel tanto do provedor Júlio Pereira, como de Emanuel Sancho.
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