Um concerto com Roman Simovic, que é «um violinista de nível Liga dos Campeões» (Janeiro), o Requiem de Mozart, em concerto sinfónico com reforço de músicos e o solista Pedro Neves (Abril), Recordar José Mário Branco (Abril), o já tradicional concerto de Natal, com o coro comunitário, para o qual o maestro titular Martim Sousa Tavares contribui com um «arranjo de música de Natal em esteroides», o concerto para famílias «Alto! Excesso de Velocidade», um concerto na Primavera (Maio) com Salvador Sobral, «montado de raiz», ou um «projeto de recuperação de património de José Mário Branco, por ocasião do 25 de Abril».
Estas são apenas algumas das propostas da Orquestra do Algarve para a temporada 2024/2025, que foram apresentadas na quarta-feira ao pôr do sol, no rooftop do Hotel Eva Senses, em Faro, propriedade do (até agora) único mecenas da formação algarvia.
«Eu acredito piamente que qualquer pessoa que venha ou viva no Algarve e faça scan deste código QR [presente na brochura que também foi apresentada], garanto eu aqui ou devolvo o vosso dinheiro, vai encontrar alguma coisa que quer ver», assegurou o maestro titular Martim Sousa Tavares.
«É isso que uma orquestra deve ser: esta já não é a orquestra clássica do sul, é simplesmente a Orquestra do Algarve, que cumpre uma missão de cariz público, para um público que é muito e é muito diverso», acrescentou.
«Vão encontrar concertos para famílias, concertos pedagógicos, concertos clássicos, concertos não clássicos, concertos clássicos, mas com o espírito mais aberto», enumerou.
«A marca [da programação 2024-2025] é a coerência e o compromisso com uma temporada de excelência, que não se caracteriza por dois ou três momentos altos e depois o resto em baixa rotação, mas sim uma permanência no tempo deste compromisso», explicou aos jornalistas Martim Sousa Tavares, à margem da conferência de imprensa de apresentação da programação que se estende até Julho de 2025.
O maestro titular destacou ainda os espetáculos com o pianista e jovem maestro alemão Aurel Dawidiuk e com a violinista ítalo-escocesa Nicola Benedetti, em Junho e Julho do próximo ano, respetivamente.
Para as famílias, Martim Sousa Tavares apontou o Concerto de Natal, já em Dezembro, que junta a formação de orquestra com o seu coro comunitário, «num formato ao mesmo tempo familiar, inesperado, irreverente e divertido».
Fora do âmbito clássico, a Orquestra do Algarve vai recuperar, em Abril de 2025, a obra “A Noite”, de José Mário Branco.
Trata-se de um concerto que certamente irá ainda dar muito que falar. Em parceria com o Centro de Estudos e Documentação José Mário Branco – Música e Liberdade (NOVA FCSH), a Orquestra recorda uma vertente menos conhecida do património musical do cantor e autor falecido em 2019.
Conjugando repertório original pré-existente e novos temas musicais, esta peça, que tem versos de Antero de Quental, espelha as inquietações de José Mário Branco sobre o curso da democracia instituída pelo 25 de Abril de 1974.
António Branco (curiosamente, sobrinho de José Mário), presidente da Associação Musical do Algarve, entidade que gere e administra a orquestra, já tinha salientado que, «apresentar uma temporada anual de uma orquestra pequena, sem sala de concertos própria, é uma aposta arriscada».
Isso foi feito pela primeira vez para a temporada anterior, tendo sido, garantiu, «um risco recompensado». Por isso, nesta nova temporada que se inicia agora em Setembro e se prolonga até Julho de 2025, a Orquestra do Algarve arrisca de novo.
«Há um ano, quando nós apresentámos a primeira temporada, estávamos a dar um tiro no escuro, muito arriscado, porque nenhuma orquestra regional, exceto a nossa, até à data, funciona desta forma», acrescentou Martim Sousa Tavares.
«Posso dar-vos exemplos de casos em que esse risco vale a pena: as irmãs Kristine e Margarita Balanas [que iniciaram a temporada, a 14 e 15 de Setembro, com concertos em Ayamonte e em Portimão] são o tipo de artista que não se pode combinar navegando à vista da costa», têm de ser contratadas com muita antecedência.
«Quando eu entrei nesta orquestra, como as outras orquestras regionais, esta era um navio que navegava à vista da costa. E eu decidi que não, que tínhamos de levar a orquestra para mar alto, porque no mar alto apanha-se peixe maior. E, de facto, temos apanhado grandes atuns, que não estavam aqui encalhados na areia», ilustrou o maestro titular.
Também exemplos disso são o concerto com Roman Simovic, que «é um violinista de nível Liga dos Campeões», em Janeiro, ou, em Junho, o concerto com «Nicola Benedetti, que é Liga dos Campeões Premium».
«Isto é um caminho que, a não ser que haja uma calamidade, não tem regresso. Nós nunca mais voltaremos a navegar à vista da costa», garantiu Martim Sousa Tavares.
«Acredito que a nossa orquestra está a colocar uma pressão positiva sobre as outras orquestras regionais, mas também sobre a região. Porque obriga os nossos parceiros a assumirem connosco compromissos com mais antecedência, a dar valor àquilo que de facto estamos a trazer ao Algarve e onde estamos a marcar a diferença», acrescentou.
António Branco aproveitou a conferência de imprensa de apresentação da temporada para anunciar que a Orquestra vai inaugurar, em Outubro, a sua renovada sala de ensaios, garantindo finalmente melhores condições acústicas e térmicas aos seus músicos e maestros, «depois de terem sido feitas as obras há muito desejadas».
«Essa sala vai permitir-nos também uma coisa que eu vejo com muito bons olhos, que é voltar a ser uma orquestra de estúdio, porque é uma sala que vai servir não apenas para ensaios, mas também como estúdio de gravação», disse Martim Sousa Tavares.
De tal forma é importante que «estão já a surgir contactos de artistas que querem vir gravar com a nossa orquestra», revelou.
Por isso, «esta vai voltar a ser, como já foi em tempos, uma orquestra que toca tão bem que não toca apenas para o seu público, mas toca para o mundo inteiro, gravando-se em disco».
Tendo como tema «Sons da Descoberta», a nova temporada da Orquestra do Algarve contará com um total de 19 maestros e 15 solistas.
«É importante reter isto, porque é uma orquestra que tem 11 meses de atividade. 19 maestros em 11 meses, se somarmos o maestro titular, dá de facto uma diversidade constante. A orquestra nunca se está a repetir, nunca está a chover no molhado», sublinhou Martim Sousa Tavares.
Ainda em Setembro, haverá um ciclo dedicado ao génio de Franz Schubert, com a participação dos maestros Pedro Amaral e José Eduardo Gomes.
Com a chegada do Outono, a Orquestra irá ainda convocar a memória do seu fundador e primeiro maestro, Álvaro Cassuto. A reestreia do “Concertino” para piano e orquestra, após mais de 50 anos, é apresentada como «um momento especial para redescobrir esta obra-prima».
Depois, sob a direção do jovem maestro Luís Toro Araya e com a presença da soprano Luca Maria Caelers, ambos em estreia nacional, será apresentado o vibrante “Wesendonck Lieder” de Richard Wagner, uma das obras mais emblemáticas da música romântica.
Para manter toda esta programação de crescente qualidade, há que manter ou, de preferência, aumentar os apoios que a Orquestra recebe. António Branco destacou «o que esta Orquestra tem conseguido fazer com os poucos recursos que tem», mas garantiu que se está a trabalhar «na área dos financiamentos europeus, dos mecenas e dos patrocinadores».
A apresentação da temporada serviu igualmente para anunciar que a Orquestra do Algarve tem um novo website, que pode ser consultado aqui, e onde estão todos os detalhes da programação, mas também a possibilidade de cada fã se inscrever como Amigo Benfeitor, um estatuto que garante receitas estáveis à formação algarvia, mas também muitas vantagens ao público.
O site também permite que cada pessoa consulte a agenda de acordo com o seu perfil (melómano, gosto muito mas sei pouco, vou mais pela família, ainda não percebo nada disto). Uma forma de estreitar ainda mais a relação com um público que é «muito diverso».
A programação da temporada pode também ser consultada na brochura virtual, clicando aqui.
«Esta temporada é uma árvore de Natal cheia de presentes que queremos abrir», concluiu, com o bom humor que lhe é característico, o maestro titular Martim Sousa Tavares.
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