«Nos anos 90, um assassino em série aterrorizou Portugal. Nunca foi detido, nem sequer identificado pela Polícia Judiciária, tornando-se um dos maiores mistérios da justiça portuguesa. Trinta anos depois, uma mulher é brutalmente assassinada». Este é um excerto da sinopse de Fúria Mortal, um policial baseado em factos. Uma história macabra que aconteceu em terras lusas, apresentada num livro escrito em português por um autor nacional.
Fúria Mortal, o mais recente livro da saga Mortal, de Bruno M. Franco, demonstra que temos bons escritores, comparáveis aos grandes nomes internacionais, a escrever este género literário que tem conquistado, ano após ano, mais simpatizantes.
Fúria Mortal é um livro de leitura fluida e fácil, que mantém o ritmo ao longo das quinhentas e quarenta e duas páginas. Há sempre algo novo a impulsionar a narrativa: cada capítulo termina com um gancho que mantém o interesse do leitor (algo muito característico deste género literário e que Bruno M. Franco utiliza com maestria).
Há uma influência evidente da escrita nórdica, mas com um ritmo próprio criado pelo autor, bem como um desenvolvimento original das personagens: as descrições da cidade de Lisboa e as histórias pessoais dos investigadores humanizam a narrativa e traduzem-se num sentimento de proximidade no leitor, o que não acontece quando deparamos com cenários de crime noutros países. A aproximação de uma realidade conhecida confere mais dramatismo e realismo à ficção. Entramos melhor na história.
Fúria Mortal é a continuidade de uma saga com as mesmas personagens — os inspetores Marta Mateus e Leonardo Rosa — e, embora existam referências aos outros livros, há uma contextualização que nos permite compreender a narrativa mesmo não os tendo lido.
Os diálogos são extensos — mais uma característica dos policiais anglo-saxónicos e escandinavos que Fúria Mortal deixa transparecer. Como também é habitual, temos uma dupla de investigadores: Marta e Leonardo, à qual não falta um vislumbre de romance (mais não digo). Sherlock Holmes e Dr. Watson, de Arthur Conan Doyle; Hercule Poirot e Capitão Hastings, de Agatha Christie; Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist, da série Millennium, de Stieg Larsson, são exemplos de duplas inesquecíveis, às quais juntamos agora estes dois investigadores portugueses.
Em Fúria Mortal, surge um quadro social no qual se desvenda a psicologia dos criminosos e da sociedade. As referências à prostituição, aos comportamentos desviantes, à sexualidade exacerbada, ao sadismo e ao erotismo explícito, assim como as imagens fortes — diria mesmo chocantes — podem desviar a atenção do leitor do fio da narrativa. Mas os mais vis e os mais dignos da sociedade coexistem, e os inspetores estão no meio, com a missão de capturar o criminoso.
Há picos narrativos, reviravoltas e vinganças. As vítimas não são a vítima final: são instrumentos para atingir uma determinada pessoa, objetivo de uma mente retorcida que não retira prazer do mal que faz. É preciso ler nas entrelinhas, porque, nesta história, os criminosos são os menos prováveis.
Fúria Mortal traz-nos surpresas bem doseadas, o que mantém o leitor interessado até ao último parágrafo.
Conseguirão Marta e Leonardo desvendar o porquê da série de mulheres assassinadas?
Não lhe direi, claro. Terá de descobrir por si. Fúria Mortal é um romance policial português que surpreende. Se aprecia este género literário, fica a sugestão para descobrir Bruno M. Franco e a sua saga Mortal.
Autora: Analita Alves dos Santos é autora e mentora literária
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