Creche da Santa Casa de Albufeira fecha por falta de educadores e deixa crianças sem resposta

Pais só souberam que o Centro Infantil Quinta do Pardais não ia abrir no dia 30 de Agosto, a menos de duas semanas do começo do ano letivo

«É com muita tristeza e pesar que me dirijo a cada um de vós para informar que todos os esforços foram feitos para recrutar profissionais licenciados como Educadores de Infância ao longo do ano de 2023 e 2024, o que se manifestou como uma tarefa impossível dada a falta de profissionais nesta área para a quantidade de oferta, que é tanto no público como no privado e no setor social». 

É desta forma que começa o e-mail enviado pela Santa Casa da Misericórdia de Albufeira aos encarregados de educação, na passada sexta-feira, 30 de Agosto, a dar conta do encerramento das instalações do Centro Infantil Quinta do Pardais devido à falta de educadores de infância.

A menos de duas semanas do início do ano letivo, os pais afirmam que foram «completamente apanhados de surpresa» e queixam-se de não ter onde deixar os filhos

Num e-mail enviado ao Sul Informação, uma encarregada de educação acusa inclusive a Santa Casa da Misericórdia de Albufeira de «agir de má fé com os pais», sendo que «não deu sequer hipótese» de fazerem as inscrições noutras creches.

«Estamos a falar de perto de 100 crianças ou mais. O meu filho tem 1 ano e meio e não tenho onde o deixar. Se me despedir vivo do quê? A Santa Casa tem mais duas valências de creche na mesma localidade, inclusive abriram uma nova o ano passado e agora fazem isto», lê-se no e-mail enviado por esta mãe à redação.

Em declarações ao nosso jornal, Patrícia Seromenho, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, lamenta o sucedido e garante que todos os esforços estão a ser feitos para resolver a situação.

«Há muita falta de profissionais desta área e sem os profissionais é impossível abrirmos a creche», disse ao Sul Informação, esclarecendo que já foi enviada a listagem de todas as crianças para que se consiga arranjar vagas noutras creches do concelho, dado que as restantes creches da Santa Casa também estão lotadas.

Além disso, mantém-se o contacto, «que não começou apenas agora», com o Centro de Emprego, IEFP e universidades para tentar resolver a contratação de profissionais.

Em relação à data do envio do comunicado aos pais, Patrícia Seromenho justifica que coincidiu com o dia em que recebeu a carta de demissão da diretora pedagógica.

 

Patrícia Seromenho, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação (arquivo)

No comunicado enviado aos pais a 30 de Agosto, a Santa Casa da Misericórdia de Albufeira explica que a falta de profissionais se deve «ao facto de em Outubro de 2023, com a decisão do Ministério da Educação de reconhecimento do tempo de serviço de Educadores de creche como serviço docente, permitiu a estes profissionais concorrerem para vagas do ensino público, resolvendo assim o problema da falta destes profissionais no setor público».

«Por outro lado, com a medida da gratuitidade e a medida da creche feliz contribuiu para o aumento do números de salas em creche no país, absorvendo um maior número de educadoras, não sendo acompanhado pelo número de licenciados a sair das universidade, o que promovem uma concorrência desenfreada no setor privado», lê-se.

No caso da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, entre Outubro de 2023 e Agosto de 2024, verificou-se, de acordo com a instituição, «a rescisão voluntária de sete Educadoras de Infância e agora da diretora técnica e pedagógica», não podendo assim a mesa administrativa «assumir a responsabilidade de iniciar o novo ano letivo no dia 10 de Setembro sem Educadores de Infância.

Em declarações ao Sul Informação, Patrícia Seromenho frisou ainda que «tudo está a ser feito para que a creche reabra», mas, tal como diz no comunicado enviado aos pais, «o processo de recrutamento tem estado aberto em permanência, sendo que o número de candidaturas é praticamente nulo».

«Nós trabalhamos para criar soluções, nunca constrangimentos e este encerramento deve-se única e exclusivamente à falta de profissionais e de não podermos, segundo as regras, trabalhar sem esses quadros preenchidos. Até lá, espero que todas as crianças possam ser readmitidas noutras instituições de modo a que os pais não tenham de deixar de trabalhar», frisou a provedora.

«Esgotados os esforços de recrutamento com o IEFP, publicações na redes sociais e articulação com as universidade», a Santa Casa da Misericórdia de Albufeira afirma já ter solicitado também um pedido de colaboração junto da Câmara Municipal de Albufeira, dos Agrupamentos de Escolas, da Direção Regional de Educação, da Segurança Social e através da União das Misericórdias Portuguesas foi feito um pedido de ajuda junto da Secretária de Estado da Segurança Social.

O Centro Infantil Quinta dos Pardais é um equipamento escolar situado no concelho de Albufeira que pode receber crianças entre os 4 meses e os 6 anos, sendo 108 as vagas para creche e 50 para Pré-Escolar.

Em 2020, este Centro chegou a ser dado como exemplo pela União das Misericórdias Portuguesas devido às medidas a cumprir, em tempo de pandemia, no contacto com fornecedores, receção e entrega das crianças, alimentação, mudança de fralda, sala de isolamento, procedimentos para os colaboradores e hora da sesta.

 

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