O tempo não cede e estamos já no pico do verão. Chegaram as noites quentes de agosto e os dias abrasadores, que convidam as cigarras a cantar e onde até custa respirar. Fazemos de tudo para nos abrigar entre as pequenas brisas ou aproveitar o refrescante luxo do ar condicionado.
As praias tornam-se autênticos mares de gente, onde as crianças aperfeiçoam a técnica de mergulho e os adultos optam sabiamente por descansar e repor as energias, não esquecendo, claro, a praxe da praia – a bolinha de Berlim.
Mas, enquanto dormitam na praia ou se dedicam à leitura, há certamente um objetivo comum entre a maioria dos veraneantes, o de ficar moreno. Afinal, é já indispensável na conversa de regresso ao trabalho depois das férias, o comentário acerca do tom de pele. Curiosamente, parece que associamos a qualidade das férias à intensidade da pele bronzeada.
Antigamente, associava-se a pele escura às classes socioeconómicas mais baixas, pelo trabalho no campo que exigia exposição solar prolongada.
Foi a partir dos loucos anos 20 – aquando do regresso de Coco Chanel das suas férias na Riviera francesa – que a pele em tons de caramelo passou a ser chic e tornou-se, nos países ocidentais, uma tendência, que traduzia luxo, riqueza e saúde.
Assim se popularizou o estar moreno. Começaram a surgir os óleos bronzeadores e até nos anos 70 foi criada a Barbie Malibu, com a pele bronzeada.
No último artigo falámos do Sol como um complexo vitamínico, sem necessidade de prescrição médica e a importância que este elemento tem na saúde.
No entanto, tudo tem os seus benefícios e riscos, pelo que, com o conhecimento que temos atualmente, devemos encontrar o equilíbrio entre estes, com o objetivo final de promover o bem-estar, sem prejudicar a saúde e vice-versa.
Portanto, a grande questão a ser explorada neste artigo é: como é que podemos usufruir do calor e luz do Sol, sem que a nossa a saúde fique escaldada?
A luz solar é constituída por um espectro de raios: os infravermelhos, a luz visível e os ultravioletas (UV). A radiação UV tem um comprimento de onda mais curto que os da luz visível; são-nos invisíveis, no entanto podemos senti-los.
Entre os raios UV, podemos dividir em UVA, UVB e UVC. Os últimos são habitualmente bloqueados pela camada de ozono, pelo que os que mais impacto têm na nossa pele são os UVA e UVB.
No entanto, existem algumas diferenças entre estes, que gostaria de explicar.
Os UVA estão ativos ao longo de todo o ano, incluindo em dias nublados, e podem penetrar a camada mais profunda da pele, a derme, levando à formação de radicais livres – moléculas altamente reativas, que rapidamente interagem e atacam componentes essenciais da pele, como o colagénio (proteína que garante elasticidade e firmeza da pele) e o ADN.
Assim, aos efeitos a longo prazo dos UVA estão associados o envelhecimento precoce, a inflamação, a hiperpigmentação e o cancro da pele.
Já os UVB são neutralizados pelas nuvens e penetram a epiderme – a camada mais superficial da pele – pelo que são responsáveis pelo bronzeado, mas também pelas queimaduras solares, reações alérgicas ao sol e cancro da pele.
Aliás, o bronzeado é, simplesmente, o corpo a proteger-se da radiação UV. Passo a explicar: os melanócitos (células da pele), em resposta à exposição dos raios UV, produzem melanina, um pigmento acastanhado que escurece a pele. Este pigmento absorve a radiação UV, evitando, assim, a penetração destes raios nas camadas mais profundas da pele e, por sua vez, lesões nas células.
Outro mecanismo de defesa é o crescimento dos queratócitos, células localizadas na epiderme, que criam um espessamento desta camada da pele, formando assim uma maior barreira física contra a penetração dos raios UV.
No entanto, estes mecanismos protetores podem não ser suficientes, especialmente quando a pele bronzeada é culturalmente valorizada, e se procura incessantemente a exposição solar.
A ocorrência do cancro da pele tem aumentado drasticamente nos últimos anos. Estima-se que, em Portugal, haja anualmente 13000 novos casos de cancro da pele, dos quais 1500 são por melanoma maligno – um tipo de cancro agressivo e associado a mau prognóstico.
Com estes factos e números, torna-se imperativo estarmos sensibilizados e informados de como é que podemos prevenir as várias alterações associadas à exposição solar e proteger o nosso maior órgão, a pele.
Vamos então explorar o essencial: cuidados a ter com a exposição solar.
Devemos, primeiramente, procurar evitar as tão conhecidas “horas de maior calor”, que abrigam sensivelmente o período das 10h00 às 16h00. Uma vez que este é o período onde os raios solares estão mais próximos da terra, é a altura em que a radiação UVB é mais intensa.
Caso esteja de férias e tenha perdido a noção do tempo, dou-lhe uma outra dica – se a sua sombra for menor que a sua altura, é porque os raios solares estão mais verticalizados, ou seja, mais próximos da superfície terrestre, e por isso deve evitar a exposição direta.
De forma a filtrar a radiação UV, há que aplicar e insistir nas reaplicações do protetor solar. A proteção contra os raios UVB é medida através do sistema FPS (Fator de Proteção Solar), categorizando-se como: baixo (FPS 6-10), médio (15 a 25), alto (30 a 50) e muito alto (50+).
Antes de escolher um protetor solar, deve antes de mais conhecer o seu tipo de pele e saber qual será a proteção mais adequada para si.
Dou-lhe um exemplo: a Maria, que tem pele clara, fica com a pele queimada após exposição solar superior a 10 minutos. Ora, se a Maria aplicar um protetor com FPS 10, poderá conseguir ficar 100 minutos (10×10) exposta ao sol, sem se queimar. Apesar de tudo, é aconselhado a aplicar protetor solar a cada duas horas.
Para além da pele, não deve descurar os olhos e, muitas vezes esquecido, o couro cabeludo. Por isso, não se esqueça dos óculos de sol, e escolha um chapéu que realce a sua personalidade e o proteja.
Um outro aspeto que gostaria de abordar convosco é acerca do autoexame da pele, feito por si, e sem quaisquer custos adicionais. Para os mais vaidosos, é uma razão bastante válida para se olhar ao espelho.
É importante conhecer o seu corpo, e por sinal, (desculpem-me a repetição) os seus próprios sinais.
Se notar que tem uma lesão que não cicatriza, um novo sinal com uma aparência suspeita, ou um dos seus sinais tem adquirido uma forma/textura estranha, assimétrica, com várias cores ou de grandes dimensões, deve consultar o seu médico para uma avaliação mais direcionada. A verdade é que, quando detetados precocemente, 90% dos cancros da pele são curáveis.
Assim, não me querendo alongar mais, e porque espero que possa aproveitar o restante dia de verão, finalizo o artigo deste mês com a seguinte reflexão: Já dizia o cantor António Variações, “quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga”. Valerá a pena queimarmo-nos, consecutiva e deliberadamente, por vaidade ou pela pressão social?
Evite a exposição solar excessiva e abuse do protetor solar. Torne-o no must have da sua rotina diária, para todas as estações do ano.
Estas são as melhores medidas de antienvelhecimento, mas também as que podem ajudá-lo a viver mais anos e com uma pele saudável.
Tem tudo ao seu alcance para aproveitar os benefícios do sol, sem se pôr em risco. Cuide de si!
Autora: Adriana Justo Correia é Médica Interna de Medicina Geral e Familiar e escreve todos os meses no Sul Informação
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