As grandes prioridades são o aumento da resiliência hídrica e a gestão dos resíduos, mas os mais de 155 milhões de euros de fundos europeus que a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve vai gerir até 2027, destinados às Câmaras da região, também servirão para cofinanciar obras e projetos nas áreas da educação, mobilidade e prevenção de riscos, entre outras.
A alocação desta verba a intervenções promovidas pelas autarquias foi consagrada na terça-feira, dia 6 de Agosto, no antigo Governo Civil de Faro, com a assinatura do Contrato para o Desenvolvimento e Coesão Territorial, numa sessão que contou com a presença de Hélder Reis, secretário de Estado do Planeamento e do Desenvolvimento Regional.
O contrato, celebrado entre a Autoridade de Gestão do Programa Regional do Algarve 2021-2027 (Algarve 2030), estrutura integrada na CCDR do Algarve, e a AMAL, tem uma dotação de 155,2 milhões de euros, repartidos entre 152,1 milhões do FEDER e 3,1 milhões do Fundo Social Europeu e «promove o reforço da política de coesão através de uma governança multinível», segundo a comunidade intermunicipal.
Este pacote de fundos europeus destina-se a cofinanciar obras e projetos que constam de um plano de ação elaborado pelos 16 municípios do Algarve, onde são identificadas as prioridades de investimento na região, do ponto de vista das autarquias.
«Fizemos o trabalho de casa, na sequência de um desafio lançado pela CCDR a todos os autarcas, de modo a que identificassem as prioridades de investimento e as principais necessidades da região», revelou António Pina, presidente da AMAL, durante a sessão de assinatura do contrato, acrescentando que a elaboração do plano de ação contou com o apoio da Universidade do Algarve.
«Isto significa que os investimentos que estão no contrato são aqueles que a região realmente precisa e não aqueles que alguém [de fora da região] achou que era aquilo que nós precisávamos», acrescentou.
José Apolinário, presidente da Comissão Diretiva da Autoridade de Gestão do Algarve 2030, reforçou, na sessão, a importância do trabalho conjunto que foi feito na região para o “desenho” do Programa Regional do Algarve 2030, que envolveu não só as autarquias, mas muitas outras entidades, mas deixou um aviso: «Temos todos um enorme desafio pela frente que é o de sabermos continuar a trabalhar juntos e a mobilizar esforços para poder aproveitar e executar todos os fundos europeus que este programa traz para a região».
Dos 155 milhões de euros, a maior fatia, cerca de um terço do total, vai para investimentos relacionados com o ciclo da água e com a recolha de resíduos.
No primeiro caso, estão alocados ao objetivo específico “Promover o acesso à água e a gestão sustentável da água” cerca de 37 milhões de euros – 20,7 milhões para o abastecimento de água e 16,2 milhões para o saneamento de águas residuais.
Segundo António Pina, estão em causa projetos «na área de diminuição das perdas», mas também «para diminuir a intrusão salina», tendo em conta que este é um fenómeno que, muitas vezes, impede a reutilização de águas residuais tratadas.
Em causa estão as infiltrações que existem nos sistemas perto do mar, em que a água do mar se introduz nos efluentes que irão ser tratados. Isto faz com que a água tratada nas ETAR fique com «um nível de salinidade superior àquilo que é possível utilizar para os espaços verdes e para a agricultura»
Logo a seguir, em termos de volume de verbas alocadas, vem o eixo “Promover a transição para uma economia circular e eficiente utilização do recursos”, com cerca de 27 mil euros para a gestão de resíduos.
Aqui está em causa o «problema de gestão de resíduos» existente na região. Atualmente, «é a Algar quem tem a responsabilidade de fazer a recolha dos resíduos diferenciados», no entanto, no período de Verão, veem-se muitos contentores «de plástico, de vidro, de papelão, por recolher».
«Claro que entendemos que este problema se agudizou também com a privatização [da Algar] e, portanto, a proposta dos municípios, já no Governo anterior e também vamos reforçar para este, é podermos nós assumir mais responsabilidades nesta área e, para isso, contarmos com a capacidade de financiar novos camiões de recolha de resíduos diferenciados», em substituição da Algar.
Seguem-se, em termos de volume de investimento, a Proteção Civil e Gestão Integrada de Riscos (16,8 milhões), a Mobilidade Sustentável (15,6 milhões) e as Infraestruturas Escolares (13 milhões). Há ainda 3 milhões destinados a infraestruturas de cuidados de saúde primários.
A Adaptação às Alterações Climáticas, a Eficiência Energética, a Conservação da Natureza, a Biodiversidade e Património Natural, a Digitalização da Administração Local, a Aprendizagem ao Longo da Vida, o Acesso a Serviços de Qualidade são outras áreas onde estão previstas intervenções.
Aproveitando a presença de um membro do governo na sala, António Pina pediu alterações ao sistema que está hoje instalado, nomeadamente em relação ao lançamento de avisos, para que seja menos centralizado e mais adequados às realidades específicas das regiões.
Defendeu também que haja uma diferenciação positiva em relação a projetos e investimentos que possam surgir fora da área do turismo, no Algarve, «porque, de outra forma, nunca iremos conseguir diversificar a nossa economia».
Sem se comprometer com respostas aos reptos do presidente da AMAL, o secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional elogiou o plano de ação, salientando, no entanto, que «o importante é, efetivamente, executar os investimentos, maximizando o retorno, e trazer bons projetos e resultados para a região. A nossa meta é sempre melhorar o nível de vida e o bem-estar das populações que servimos».
Os primeiros sete concursos destinados aos municípios do Algarve, associados ao plano de ação desenvolvido pela AMAL, cuja operacionalização foi consagrada com a assinatura do contrato entre a autoridade de gestão do Algarve 2030 e a comunidade intermunicipal algarvia, já foram lançados.
Os avisos que foram abertos, com um valor total de 52 milhões de euros, referem-se a intervenções em sete áreas, nomeadamente “Infraestruturas Escolares”, “Infraestruturas e equipamentos de cuidados de saúde primários”, “Ciclo Urbano da Água em Baixa”, “Valorização do Património Cultural”, “Adaptação às Alterações Climáticas”, “Ciclovias Regionais e Urbanas/Municipais”, “Conservação da natureza, biodiversidade e património natural”.
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