“Nova” ETAR de Lagos acaba com os maus cheiros e produz água tratada para reutilização

Investimento de 17 milhões de euros, para servir o equivalente a 138 mil habitantes

Um novo tanque biológico, um novo sistema de desinfeção por UV, possibilitando a reutilização da água tratada, um silo de lamas, que, entre outras coisas, diminui os odores, bem como a implementação da cogeração que permite reduzir o consumo energético entre 30 a 40%.

Estas são apenas algumas das novas características da remodelada Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Lagos, cujas obras, que custaram 17 milhões de euros, foram inauguradas esta quarta-feira, 5 de Junho, Dia Mundial do Ambiente, pela ministra Maria da Graça Carvalho, que tutela este setor.

António Eusébio, presidente da empresa Águas do Algarve, que promoveu o investimento, salientou que a remodelação foi tão profunda que «é praticamente uma ETAR nova».

Um dos problemas que foi resolvido foi o da «afluência de água salgada», que «limitava o tratamento na ETAR, nomeadamente o tratamento biológico», impedindo a reutilização das águas tratadas para outros fins, como a rega de espaços públicos, lavagem de ruas e contentores, rega de campos de golfe ou mesmo, no futuro, de campos agrícolas. Segundo António Eusébio, foi também feito um grande investimento na «minimização de odores», acabando com um dos problemas que mais reclamações gerava por parte da população.

O presidente das Águas do Algarve acrescentou ainda que, no que diz respeito à cogeração (produção de biogás para gerar eletricidade), houve uma «duplicação da capacidade de digestão», o que permitirá «recuperar mais de 50% do custo da energia». Mas o objetivo é ainda mais ambicioso: «chegar, em 2030, à neutralidade energética».

António Eusébio salientou igualmente que o investimento feito já permite reutilizar a água tratada «com mistura».

 

 

Por seu lado, António Martins, engenheiro responsável por parte das Águas do Algarve, recordou que a ETAR de Lagos foi construída pela Câmara «há cerca de 40 anos», tendo sido remodelada em 2001. A empresa Águas do Algarve (AdA) «começou a operá-la em 2004».

No entanto, segundo a AdA, apresentava «significativas limitações ao nível do tratamento biológico, nomeadamente afluências indevidas de água salgada que provocam a desestabilização do tratamento biológico, tratamento biológico com capacidade dos órgãos insuficiente para as cargas afluentes, inviabilizando o cumprimento dos limites de descarga do efluente tratado, capacidade dos órgãos existentes na fase sólida insuficiente para atual produção de lamas, sem tratamento de odores, entre outros fatores».

Com o investimento de 17 milhões de euros, com financiamento pelo POSEUR (aprovado em overbooking) no montante aproximado de 10 milhões de euros, a ETAR tem capacidade para tratar 18.500 metros cúbicos de águas residuais por dia, o equivalente a 138 mil habitantes. Trata-se de efluentes provenientes do município de Lagos, das freguesias de São Gonçalo de Lagos, Luz, Odiáxere e de parte da União das Freguesias de Bensafrim e Barão de São João.

A inauguração, que começou com uma visita breve da ministra do Ambiente à nova infraestrutura, nomeadamente ao tanque biológico, foi acompanhada por algumas baforadas de mau cheiro. Isso mesmo levou Hugo Pereira, presidente da Câmara Municipal de Lagos, a fazer votos para que «este pesadelo do mau cheiro, que dura há décadas, seja finalmente ultrapassado».

«Lagos, nos últimos anos, passou por momentos desagradáveis: tínhamos um problema que era aqui, nesta ETAR, que se focava», sublinhou o autarca. Era «esgoto entrava, esgoto saía. E tudo ia parar à nossa ribeira de Bensafrim, o que levou à perda de três bandeiras azuis, com os efeitos negativos que isso acarretou para a imagem turística de Lagos», acrescentou Hugo Pereira.

O presidente da Câmara de Lagos manifestou ainda o seu agrado pelo facto de agora o município poder «avançar com a implementação do Plano de Pormenor para o Paul da Ribeira de Bensafrim, que não podia ser implementado sem que os problemas da ETAR estivessem resolvidos».

São, sublinhou Hugo Pereira, 6 milhões de euros de investimento para «limpar e renaturalizar estas margens» e o Paul de Lagos e devolvê-lo à fruição dos visitantes e da população.

 

 

Por seu lado, a ministra do Ambiente e Energia disse que esta ETAR é «uma infraestrutura de vital importância para a região», para garantir «um turismo de qualidade», «ganhos de qualidade de vida para a população» e pela «possibilidade de reutilização da água tratada», ainda que com algumas restrições.

É que, sublinhou Maria da Graça Carvalho, «esta é uma das prioridades no domínio da água que para nós é muito importante: «aumentar a eficiência hídrica e promover o uso racional da água», «reduzir as perdas de água nos sistemas de abastecimento público e agrícola», «promover a utilização de água residual tratada», «reforçar a resiliência dos sistemas hidráulicos através de interligações, aumentar a capacidade das instalações existentes, e só em último lugar, se o que está para trás não for suficiente, avaliar a necessidade de novas instalações. E esse é já o caso do Algarve».

«O Governo identificou, desde a primeira hora, a questão da água no Algarve como uma grande prioridade. Aliás, a prova disso é a minha presença aqui, no âmbito do Dia Mundial do Ambiente. Não foi por acaso que escolhi esta visita e que escolhi ligar isto a várias visitas e atividades no Algarve», frisou a ministra.

«Em pouco mais de um mês, é a terceira vez que estou no Algarve por causa da água», acrescentou.

Carmona Rodrigues, presidente das Águas de Portugal recentemente empossado, e que cumpriu, em Lagos, o seu primeiro ato nessas novas funções, sublinhou o que tem mudado na perceção sobre o problema dos recursos hídricos na região algarvia: «o Algarve é uma região que sempre tem sido fustigada por problemas de falta de água, que, há uns anos, pareciam esporádicos, mas que agora se tornaram perenes».

Daí a necessidade de investimentos no reforço da eficiência e resiliência hídrica da região, quer através das verbas do PRR, quer de um novo pacote de investimentos, que o primeiro ministro Luís Montenegro anunciou, em 22 de Maio, em Faro, e do qual Maria da Graça Carvalho voltou a falar ontem, em Lagos.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Leia mais um pouco!
 
Uma região forte precisa de uma imprensa forte e, nos dias que correm, a imprensa depende dos seus leitores. Disponibilizamos todos os conteúdos do Sul Infomação gratuitamente, porque acreditamos que não é com barreiras que se aproxima o público do jornalismo responsável e de qualidade. Por isso, o seu contributo é essencial.  
Contribua aqui!

 



Comentários

pub