Núcleo Museológico nasce para «abrir o espólio do Liceu de Faro a todos»

A cerimónia de inauguração, agendada para esta manhã, apresentará à comunidade o tema “Manuel Viegas Guerreiro e o núcleo museológico do Lyceu”

António Manuel Meira Pinto, curador do Núcleo. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Mapas, livros com dezenas e dezenas de anos, troféus das equipas de desporto escolar da escola, peças de mobiliário usadas há décadas, ou material vindo de África. O espólio do antigo Liceu de Faro (hoje Escola Secundária João de Deus) que, até agora, estava aguardado, vai passar a poder ser visto por toda a população no Núcleo Museológico do Lyceu de Faro, que é inaugurado este sábado, 13 de Maio.

A ideia de «abrir o espólio do Liceu de Faro a toda a população» surgiu há um ano, aquando do lançamento do livro comemorativo dos 50 anos da equipa de atletismo, Os “Môces” do Liceu de Faro.

António Manuel Meira Pinto fez parte desta equipa e, com bom grado, aceitou a proposta de, após o livro, lançar o Museu da Equipa de Atletismo.

«Como eu sou licenciado em História, Arte e Património, e estou atualmente aposentado, passaram-me a pasta de fazer algo maior e eu aceitei. Comecei a trabalhar nisso, mas, quando vi o espólio que o Liceu tem, percebi que este núcleo não podia ficar só pelo atletismo e que tinha de ser muito maior», diz ao Sul Informação. 

O Núcleo Museológico do Lyceu de Faro reunirá, assim, material para criar cinco salas, que serão apresentadas de forma faseada: a sala do atletismo e desporto escolar, a da história do liceu, a da ciência e a sala de África (atualmente em exposição).

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

A cerimónia de inauguração, agendada para esta manhã, apresentará à comunidade o tema “Manuel Viegas Guerreiro e o núcleo museológico do Lyceu”.

«Manuel Viegas Guerreiro lecionou cá nos anos 40. Nessa altura, fez uma permuta com outro professor de Angola, Higino Vieira, e ambos trouxeram para cá um grande espólio e é esse acervo de peças que estamos agora a divulgar. É uma exposição riquíssima: o próprio Museu Municipal de Faro tem dado um apoio enorme e a Fundação Manuel Viegas Guerreiro também se mostrou interessada, cedendo materiais que têm em Querença», continua Meira Pinto.

Carlos Luís, diretor da Escola Secundária João de Deus, ambiciona, desde a altura em que assumiu estas funções, ver nascer este núcleo museológico.

«Era muito triste que todo este espólio antigo e riquíssimo que a escola tem continuasse fechado e escondido das pessoas e que não fosse disponibilizado à população em geral», afirma, referindo que estas exposições serão importantes para os farenses, para a cidade, e para todos os alunos que, assim, «ficam a conhecer a história da escola que frequentam».

«Temos duas edições originais de livros do século XV e XVI. Temos as edições mais antigas dos jornais do algarve. Temos o decreto da rainha D. Maria II de criação desta escola, que data de 1851», exemplifica.

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

São mais de 170 anos de história que vão sendo contados nestas exposições, que serão organizadas com a colaboração dos alunos e professores. «O objetivo é juntar sempre toda a comunidade escolar», explica Meira Pinto.

A primeira exposição, que está em exibição na Biblioteca, poderá ser visitada até ao final de Maio, em horário escolar.

«Para já, temos essas limitações, mas, com esta ligação que já conseguimos com outras entidades, o objetivo é que, mais tarde, se possa apresentar o Núcleo num horário mais alargado. O que queremos é tornar este espaço aberto e acessível».

Para isso, o diretor Carlos Luís espera também poder contar com o apoio da Câmara Municipal de Faro.

«A minha ideia, se assim conseguirmos, é incluir o próprio edifício da escola e o museu nos roteiros turísticos da cidade, porque até já há turistas que aqui entram a querer visitar», conta ao nosso jornal, adiantando que, para isso, é necessária a ajuda da autarquia, «nomeadamente com a contratação de pessoal que fique responsável por essa parte».

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Este sábado, dia 13, às 10h00, a cerimónia de inauguração contará com a presença das entidades municipais, mas também de antigos professores e alunos.

«A escola é isto: vão e vêm professores e alunos e os projetos começam e acabam com essas mudanças. O meu objetivo aqui é também criar uma ligação entre a comunidade antiga e a nova, mostrando que é possível haver este elo para que as coisas não se percam», diz ainda Meira Pinto.

Apesar da organização do espólio estar a seu cargo, frisa que os alunos estão envolvidos em todo o projeto, «desde a elaboração dos cartazes e convites, à captura de imagens durante a inauguração».

«É muito importante que eles estejam envolvidos para que sintam este núcleo como deles», conclui.

Para já, o Núcleo Museológico do Lyceu de Faro pode ser visitado de segunda a sexta-feira, entre as 9h00 e as 17h00.

 

Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação

 

 

O Liceu de Faro foi criado oficialmente por decreto da rainha D. Maria II, a 3 de Janeiro de 1851.

Em 1911, concretiza-se o pedido de passagem de Liceu “nacional” a “central”, o que lhe permite lecionar também o curso complementar (e não apenas o geral).

O nome do poeta e pedagogo algarvio “João de Deus” surge, pela primeira vez, como patrono do liceu, em 1912, por um movimento iniciado pelos seus estudantes, sendo apenas reconhecido e oficializado em 1929.

Volta a designar-se Liceu Nacional de Faro em 1948 e passa a ocupar um novo espaço, no que é hoje o atual edifício localizado ao cimo da Avenida 5 de Outubro.

A obra foi entregue oficialmente a 28 de Abril de 1948 e, em 1966, o liceu volta a adotar a designação de Liceu João de Deus, e a comemorar o dia do patrono a 8 de Março (data em que se assinala o nascimento do poeta e pedagogo).

A 27 de Abril de 1978, passa a designar-se Escola Secundária João de Deus, por decreto que termina com a distinção entre liceus e escolas técnicas.

Em 2009, no âmbito do Programa de Modernização das Escolas do Ensino Secundário, a empresa pública Parque Escolar previu obras de requalificação para o edifício, mas só em Setembro de 2010 se iniciou formalmente a sua reabilitação, que só foi concluída em 2015.

 

 

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