Britânicos também comemoram no Algarve a coroação do rei Carlos III

Os britânicos também celebram a coroação do novo rei em terras algarvias… embora haja alguns que preferem distância

É no Algarve que reside a maior comunidade de cidadãos do Reino Unido em Portugal. Segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, em 2020, residiam, no distrito de Faro, 23.027 cidadãos do Reino Unido, ou seja, cerca de metade de todos os britânicos que moram em Portugal.

Por isso não é de estranhar que, por todo o Algarve, tenham hoje lugar iniciativas diversas em bares, restaurantes, casas e espaços particulares para assinalar a Coroação do rei Carlos III, que acontece este sábado, a partir das 11 horas.

O Sul Informação foi tentar saber como é que a comunidade algarvia de britânicos celebra este dia. Pelo que foi possível apurar, haverá festas em bares e casas privadas, piqueniques, almoços e jantares, bem como divertimentos bem ao gosto inglês, como um quizz, tudo devidamente engalanado com bandeirolas e outros enfeites com as cores do Reino Unido, a cara do novo rei ou o seu brasão real, entre outros motivos patrióticos.

Houve quem se tivesse preparado com alguma antecedência. Yvette Bryant, residente na Praia de Carvoeiro, disse ao Sul Informação que comprou as suas bandeirinhas e decorações «quando visitei o Reino Unido, em Abril».

Nesta localidade do litoral de Lagoa, há pelo menos dois bares onde se pode assistir à cerimónia da coroação pela televisão, acompanhando com comida tipicamente britânica e uma pint de boa ale: o Carvoeiro Bar e o Harry’s Bar.

Sarah Toner, do Harry’s Bar, que já desde há alguns dias tem as decorações montadas dentro e fora do espaço, explicou que «teremos festa o dia inteiro, com a cerimónia a ser transmitida em todos os ecrãs a partir das 11h00, terminando com um quizz sobre o tema real. Também teremos um buffet com algumas das comidas inglesas favoritas».

A partir das 15h00, depois de já ter terminado a coroação, a festa continua, com a visualização dos jogos de futebol.

No Carvoeiro Bar, os festejos só começam às 8 da noite, bem depois de terminada a cerimónia. Mas haverá até música ao vivo.

Em Ferragudo, há também bares a promover festas comemorativas, bem como almoços e piqueniques organizados por grupos de britânicos em restaurantes locais, cujas vagas há muito estão esgotadas.

Em Alvor, onde há igualmente uma forte comunidade britânica, entre residentes e visitantes frequentes, o Jolly Bar, perto do parque de campismo, promove uma «Jolly Coronation». «Junte-se a nós para o pequeno-almoço para se preparar para as festividades», desafiam os donos do Jolly. O «acontecimento histórico» será acompanhado pela televisão, como é óbvio.

Também aqui a festa não termina quando Carlos III já tiver sido coroado, já que, das 15h00 às 18h00, haverá «disco».

Nos Olhos d’Água (Albufeira), a Pickwicks Tavern e o Zé Zé Bistro, ambos com proprietários ingleses, vão ter as suas televisões ligadas para transmitir a cerimónia, bem como comida e bebida típicas daquele país.

O Bar The Galleon, apesar de até ser propriedade de portugueses, terá também programa preparado para os seus clientes do Reino Unido.

Mas os festejos não terminam este sábado. A filial de Portugal da Royal British Legion organiza um almoço celebratório da Coroação do Rei Carlos III, no dia 10 de Maio, no restaurante Zé do Norte, situado à beira da EN125, perto de Vale Judeu (Loulé).

Quem quiser, poderá vestir-se com as cores ligadas à bandeira do Reino Unido: vermelho, branco, azul e dourado. Haverá mesmo um prémio para a melhor vestimenta alusiva à coroação.

Na pesquisa que o Sul Informação fez, em busca de celebrações deste dia importante para os britânicos, houve muitos que se manifestaram «anti royals» (contra a realeza) ou, pelo menos, indiferentes a toda a pompa e circunstância que envolve a coroação.

David Bodsworth é um dos expats ((os residentes ingleses fora do seu país nunca se classificam a si próprios como imigrantes, mas como “expats”, ou seja, expatriados) que não vai assinalar este dia. «Sei que não falo por todos os expatriados, mas nós mudámo-nos para cá para sair do Reino Unido, então realmente não me importo com isso e não tenho intenção de comemorar».

Numa sondagem feita no Reino Unido para a empresa YouGov, 64% dos inquiridos disseram que tinham pouco ou nenhum interesse na coroação, enquanto apenas 9% disseram que davam muita importância.

 

 

 

Como será a cerimónia da coroação?

Práticas ancestrais, objetos simbólicos e jóias requintadas vão sobressair durante a coroação do Rei Carlos III, este sábado, mas a cerimónia foi modernizada e simplificada para refletir um novo contexto sociopolítico e económico.

O cortejo da coroação de Carlos III até à Abadia de Westminster será mais curto do que a rota feita por Isabel II em 1953, numa carruagem moderna e confortável, e a cerimónia religiosa também será mais breve e sóbria.

O percurso de dois quilómetros vai ficar aquém dos oito quilómetros que a mãe percorreu em 1953, juntamente com o pai, Príncipe Filipe, alongada para poder ser vista por mais pessoas.

Na altura, estima-se que três milhões de pessoas terão enchido as ruas de Londres para aclamar a jovem rainha de 27 anos, que circulou durante duas horas na emblemática Carruagem Dourada.

No ano passado, o cortejo fúnebre da monarca só terá atraído cerca de 250.000 pessoas, um sinal da queda do entusiasmo popular pela família real.

A cerimónia da coroação de Isabel II, em 02 de junho de 1953, durou quase três horas e contou com mais de 8.000 convidados, representantes de 129 países e territórios.

Desta vez, a celebração deverá durar duas horas e a audiência na Abadia limitada a cerca de 2.000 pessoas.

O contingente de 6.000 militares envolvidos nos cortejos e celebrações também será substancialmente inferior aos 45.000 que participaram há 70 anos.

A redução na dimensão mostra sensibilidade para com “os tempos difíceis [da crise] do custo de vida”, referiu Camilla Tominey, editora-adjunta do jornal Daily Telegraph e conhecedora da família real.

Londres, acrescentou, é agora uma “capital mais diversa”, num país que também mudou não só a nível social, mas também económico, geopolítico, militar e religioso.

Para refletir esta multiculturalidade, no interior da Abadia de Westminster vão estar, entre dignitários e realeza, centenas de cidadãos comuns, selecionados pelas contribuições para a sociedade.

Numa bancada erigida para a ocasião em frente ao Palácio de Buckingham vão estar 3.800 veteranos militares e profissionais de saúde e apoio social.

O programa musical selecionado para a cerimónia de Carlos III também evidencia uma tentativa de inovar, combinando peças clássicas com temas criadas a pedido do monarca por compositores conhecidos pelo trabalho em cinema, televisão e teatro musical, como Debbie Wiseman e Andrew Lloyd-Webber.

A cerimónia da coroação em si deverá manter o protocolo estabelecido, reforçando a tradição, história e mística da família real britânica.

Carlos III fará o juramento obrigatório, será ungido com um óleo perfumado, produzido e consagrado em Jerusalém – e que desta vez prescindiu dos elementos de origem animal para ser ‘vegan’.

Na cerimónia, porém, ainda brilham as jóias da coroa, incluindo uma coroa de ouro maciço e decorada com mais de 400 pedras preciosas, incluindo rubis, granadas e safiras, que pesa mais de dois quilos.

Tominey vincou que houve um esforço para equilibrar o moderno e o tradicional, mas recorda que, em 1953, Isabel II e o príncipe Filipe eram um jovem casal numa “era romântica do pós-guerra”.

Noutra rutura com o passado, Rei e rainha consorte vão sair do Palácio de Buckingham numa carruagem de alumínio e com suspensão hidráulica, mais cómoda para dois septuagenários.

Apesar de ser puxado a cavalos, o veículo tem aquecimento e ar condicionado, vidros elétricos e um sistema de suspensão hidráulica.

“Não creio que seja segredo que ambos têm problemas de costas e por vezes levam almofadas para eventos”, adiantou a jornalista britânica.

Já o regresso será feito numa carruagem de madeira com 260 anos, utilizada em todas as coroações desde 1831, e que é conhecida por ser bastante rígida e desconfortável.

Isabel II descreveu a Carruagem de Estado Dourada como “horrível”, a Rainha Vitória queixou-se da “oscilação preocupante”.

Guilherme IV, conhecido como o “Rei Marinheiro”, disse que era como “estar a bordo de um navio sacudido num mar agitado”.

Com quatro toneladas, é tão pesada que só avança ao ritmo de caminhada. O que dará mais tempo às pessoas ao longo do percurso para verem o rei e a rainha recém-coroados.

 

 

Leia mais um pouco!
 
Uma região forte precisa de uma imprensa forte e, nos dias que correm, a imprensa depende dos seus leitores. Disponibilizamos todos os conteúdos do Sul Infomação gratuitamente, porque acreditamos que não é com barreiras que se aproxima o público do jornalismo responsável e de qualidade. Por isso, o seu contributo é essencial.  
Contribua aqui!

 



Comentários

pub