“Emídio”, o avô «fura-vidas» que Sandro William Junqueira nos dá a conhecer

Espetáculo passará por Odemira, Aljezur e Monchique

Emídio Gomes da Silva foi ceramista, fez teatro, ilusionismo, trabalhou no circo. Tinha uma certa tendência para a arte e para a «intrujice». Era um «artista» que foi «muitas coisas». Entre elas, avô de Sandro William Junqueira, escritor que foi ouvindo histórias deste avô até se aperceber de que talvez também ele tenha «qualquer coisa de Emídio». E assim nasceu um espetáculo de teatro.

A ideia surgiu num mero acaso. Pensar, escrever e interpretar um espetáculo estava longe dos horizontes de Sandro.

Certa noite, o escritor estava a jantar com o amigo Giacomo Scalisi, um dos programadores do “Lavrar o Mar”, quando se lembrou de lhe contar as histórias de Wolfgang Beltracchi, um falsificador de arte alemão, e do seu avô.

Um artigo que Sandro William Junqueira tinha escrito há dias para o “Observador” foi o catalisador da conversa.

«Lembrei-me de contar isso ao Giacomo que, no final, me desafiou a escrever um texto. Na altura, fiquei muito apreensivo porque já não fazia teatro há muito tempo», conta o escritor que foi um dos fundadores do grupo de teatro “A Gaveta”, de Portimão.

Mas depois, confessa, houve «qualquer coisa» que o fez avançar, dar aquele «sim final»… ainda que a medo.

«Mesmo depois de entregar o texto, estive sempre com a esperança de que o Giacomo me dissesse: olha, afinal não vai dar», diz ao Sul Informação.

As histórias deste Emídio, que dá também nome ao espetáculo de teatro que se “desenrola” entre os anos 40 e o 25 de Abril, eram demasiado fascinantes para ficarem arrumadas numa gaveta.

Muitas têm a sua boa parte de «inverosímil e extraordinário», confessa Sandro. Nem todas são reais – e as que são já têm um «trabalho de memória», como lhe chama o autor.

É que muitas foram-lhe contadas pela avó Ermelinda, mulher de Emídio, ainda viva, e que, em princípio, vai assistir ao espetáculo.

«O meu avô era um tipo muito curioso, interessava-se por tudo. Meteu-se na magia, no ilusionismo, trabalhou no circo. Mas também fez teatro, gostava muito de cinema, de ler e era um grande mentiroso – um artista, como chamavam na família», conta o neto.

 

 

Entre as várias aptidões, Sandro William Junqueira elege uma: ludibriar os outros. Ah, e «as mulheres eram também um ponto forte».

No palco, em “Emídio”, estará apenas o neto Sandro. Será um monólogo de cerca de uma hora que vai às raízes deste avô materno para também contar a história de uma época.

«O meu avô nasceu em Casal de Botes, Aldeia da Boavista, Aljubarrota, Alcobaça. É uma aldeia muito pequena. Os meus bisavós eram pessoas muito pobres e o meu avô foi esta pessoa, que nasceu num lugarejo e se tornou um fura vidas», recorda Sandro, entre risos.

O escritor lembra-se bem de um homem que «nasceu fora do seu tempo» e com o qual talvez não tenha tido sempre aquela «relação paternal» que muitos idealizam entre os avós e os netos.

«Durante a infância e a adolescência, estava com os meus avós uma ou duas vezes por ano, mas passava até mais tempo com a minha avó», conta.

Só que, quando começou a escrever e a publicar os primeiros livros, Sandro William Junqueira voltou àquele avô, percebendo que, na família, talvez fosse aquele que «mais tinha seguido as suas pisadas», com o gosto pela leitura à cabeça.

«Passámos alguns dias juntos, até porque ele veio viver para Olhão», recorda.

Giacomo Scalisi é o grande responsável por esta aventura de Sandro William Junqueira. No espetáculo, que ajudou a conceber, garante que a ficção se mistura com a realidade.

Quanto à prestação do amigo Sandro enquanto ator, Giacomo só tem elogios.

«Fez um grande trabalho. Eu sabia que ele tinha um passado ligado ao teatro, mas surpreendeu-me», considera.

Quem quiser assistir ao vivo, tem várias oportunidades: dias 15 e 16 de Abril na Igreja da Misericórdia, em Odemira, às 21h00 e às 17h00, respetivamente, dias 21 e 22 em Monchique, no Monte da Lameira (21h00), e nos dias 28 e 29 no Espaço +, em Aljezur, às 21h00.

Os bilhetes estão aqui.

 

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